Política

Em live, Bolsonaro explica por que não embarcou na intervenção militar contra Lula

30 dez 2022, 16:14 - atualizado em 30 dez 2022, 17:48
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Adeus: na última live como presidente, Bolsonaro fez balanço de seu mandato e insistiu que respeita a Constituição (Imagem: Reprodução)

Na última live que fez como presidente da República, nesta manhã (30), Jair Bolsonaro admitiu que passou os últimos dois meses buscando meios para reverter sua derrota para Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro.

“Vocês não sabem como foi difícil ficar dois meses calado, trabalhando para buscar alternativas”, afirmou, visivelmente emocionado. Em outro instante, voltou a tocar no assunto: “hoje é 30 e dezembro; está prevista a posse agora para dia 1º de janeiro. Eu busquei, dentro das quatro linhas, dentro da constituição, uma saída para isso daí.”

Bolsonaro não detalhou a que “saída” se referia, mas queixou-se da falta de apoio institucional. “Certas medidas têm que ter apoio do parlamento, de alguns do Supremo, de outros órgãos, de outras instituições”, afirmou.

Como se sabe, o ex-capitão do Exército passou boa parte de seu mandato questionando o sistema eleitoral, ao levantar dúvidas sobre a segurança das urnas eletrônicas. Às vésperas da eleição, chegou a insinuar que não reconheceria nenhum resultado, além de sua vitória.

Numa tentativa de apaziguar o ambiente, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) aceitou a sugestão do Ministério da Defesa de realizar uma auditoria nas urnas, inclusive com testes in loco, no próprio dia da votação.

Quando a vitória de Lula foi decretada pela Justiça Eleitoral, Bolsonaro mergulhou num profundo silêncio. Nos bastidores, pressionou o PL, seu partido, a exigir a anulação de 59% das urnas usadas no segundo turno, alegando falhas “graves e insanáveis” dos aparelhos.

A petição apresentada ao TSE afirmava que, excluídas as urnas supostamente defeituosas, Bolsonaro contava com 51% dos votos válidos e seria, portanto, o vencedor. A corte não apenas recusou-se a analisar a petição, como também aplicou uma multa de quase R$ 23 milhões à coligação que apoiou a tentativa de reeleição do presidente.

Na live, Bolsonaro queixou-se da decisão do TSE, tratando-a como atentado à liberdade. “Hoje em dia, se você falar em urna, você também tem um problema sério. Se for parlamentar, pode perder o mandato”, afirmou, para emendar: “as nossas liberdades estão sendo tolhidas.”

Live de Bolsonaro: “Ninguém quer uma aventura”, diz, sobre intervenção militar

Sem chances de vencer no tapetão, Bolsonaro poderia aderir ao clamor dos apoiadores mais radicais, que foram para as portas dos quartéis exigindo uma intervenção militar e o fechamento do Congresso.

Embora elogie os atos, vistos por ele como “uma manifestação do povo”, espontânea e sem liderança, ressaltou que “ninguém quer uma aventura”. Para os apoiadores que o criticam por não cancelar a eleição com uma canetada, o presidente respondeu que não é tão simples assim.

“Alguns acham que é só pegar a [caneta] Bic e fazer isso ou aquilo e está tudo resolvido. Repito, em nenhum momento fui procurado para fazer algo de errado, seja o que for. Eu fiz a minha parte dentro das quatro linhas”, disse, insistindo que “sempre jogou dentro das quatro linhas, e, ou vivemos numa democracia, ou não vivemos.”

A certa altura da live, Bolsonaro é ainda mais explícito sobre a pressão para adotar medidas antidemocráticas. “Sei que muitos estão chateados comigo; talvez, até tenham razão, mas, mesmo dentro das quatro linhas, temos que ter apoio.”

Por fim, o presidente recomendou aos apoiadores que troquem o confronto pelo diálogo, a fim de tentarem convencer os eleitores a mudar de lado em 2026. “Não queremos o confronto, nem estimulo ninguém a partir para o confronto. É a pior maneira de tentar resolver o assunto”, afirmou.

E, em tom de desabafo, dirigiu-se aos apoiadores: “se você está chateado, está constrangido, se coloque no meu lugar.”

Assista à integra da live de despedida de Bolsonaro, realizada nesta sexta-feira (30).

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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