Em seu pedido de recuperação judicial, Ambipar (AMBP3) coloca fluxo de caixa sob sigilo

A Ambipar (AMBP3) apresentou à Justiça do Rio de Janeiro um relatório gerencial de seu fluxo de caixa, em envelope lacrado e sob sigilo, conforme consta no pedido de recuperação judicial da companhia. O documento inclui projeções financeiras para os próximos dois anos, segundo informações do Broadcast.
A empresa, que possui uma das maiores dívidas do mercado — de quase R$ 11 bilhões —, detalha o destino do caixa de R$ 4,7 bilhões registrado no segundo trimestre, dos quais afirma ter R$ 2 bilhões disponíveis imediatamente.
De acordo com a agência de notícias, entre os maiores credores da Ambipar estão os bancos Santander e Banco do Brasil. Só com os bancos, a companhia soma dívidas no valor de R$ 2 bilhões; o Santander exige um pagamento de US$ 120 milhões em 24 horas.
Além do fluxo de caixa, a Ambipar forneceu outros documentos sigilosos ao juiz, incluindo informações sobre os bens pessoais dos sócios controladores e extratos bancários atualizados, bem como aplicações financeiras dos requerentes.
A companhia afirma que houve uma intensa cobrança de credores, especialmente após questionamentos do Deutsche Bank sobre derivativos. Por isso, recorreu à Justiça solicitando a suspensão de execuções e cobranças de dívidas, medida que antecede o pedido de recuperação judicial.
O pedido de recuperação judicial foi protocolado na noite de ontem na 3ª Vara Empresarial do Rio e é assinado pelos escritórios Salomão, Galdino e Basilio Advogados.
As ações da Ambipar, que foram excluídas dos nove índices da B3 de que faziam parte, fecharam o pregão de segunda-feira (21) a R$ 0,58, contra mais de R$ 10 no final de setembro.
O início do caos
No dia 22 de setembro, os bonds da Ambipar com vencimento em 2031 desabaram no mercado internacional, pouco antes de a empresa ter anunciado a sua sétima emissão de debêntures, no valor de R$ 3 bilhões.
Do outro lado do balcão, o Deutsche Bank, um dos credores da Ambipar, não assistiu a tudo isso parado. A instituição exigiu um aditivo de US$ 35 milhões, provocando um efeito em cadeia que poderia acelerar obrigações financeiras em até R$ 10 bilhões.
Segundo a revista Veja, o contrato com o banco alemão previa a cobrança do aditivo em caso de desvalorização dos bonds no mercado internacional.
Sem alternativas, a Ambipar recorreu à proteção judicial em setembro, alegando que o banco exigia garantias muito além dos termos contratuais. A ação da empresa gerou dúvidas no mercado com medidas contraditórias.
Ao mesmo tempo que reportou uma dívida de R$ 616 milhões, segundo a agência S&P Global, a companhia registrou uma posição de caixa de R$ 4,7 bilhões no fim do segundo trimestre, o que deveria ser mais que suficiente para cobrir as dívidas.