Coluna
AgroTimes

Em vez de apagar, acordo entre EUA e China reacende a volatilidade no mercado global de soja

04 nov 2025, 10:48 - atualizado em 04 nov 2025, 10:49
soja china EUA grãos
(iStock.com/Roman Bulatov)

Após a viagem do presidente Donald Trump pela Ásia, Estados Unidos e China anunciaram os contornos de um novo acordo comercial que promete reduzir tensões e ampliar as compras chinesas de produtos agrícolas norte-americanos, especialmente soja.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Apesar do entusiasmo inicial, o anúncio foi recebido com ceticismo pelos agentes de mercado. A falta de detalhes concretos sobre volumes, prazos e cronogramas de embarque reforça a percepção de que o pacto tem mais valor simbólico do que efeito prático imediato — um gesto político, não um compromisso vinculante.

Autoridades norte-americanas sugeriram que Pequim se comprometeria a adquirir até 12 milhões de toneladas no curto prazo e 25 milhões por ano nos próximos três anos. No entanto, sem clareza sobre se os volumes seriam adicionais ou substitutivos, o impacto potencial sobre os estoques norte-americanos permanece incerto.

Caso as compras sejam efetivamente extras, os estoques finais dos EUA cairiam para menos de 9 milhões de toneladas, cenário de suporte aos preços. Caso contrário, poderiam superar 14 milhões, o que pressionaria as cotações em Chicago.

Além da incerteza política, o contexto logístico e comercial na China dificulta a concretização dessas compras. O país adquiriu grandes volumes de soja da Argentina e do Brasil nas semanas anteriores, o que limita sua capacidade física de absorver novos embarques norte-americanos no curto prazo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

As tarifas sobre a soja dos EUA, estimadas entre 13% e 17%, permanecem em vigor, reduzindo a competitividade do produto frente à América do Sul.

A experiência recente também recomenda cautela. No acordo “Phase 1”, firmado em 2020, a China cumpriu apenas 58% das metas de importação prometidas. Mesmo agora, com o novo pacto expresso em volumes, em vez de valores em dólares, as dúvidas sobre sua execução persistem.

Episódios anteriores, como a trégua comercial selada durante o G20, em Buenos Aires, em 2018, mostram que promessas semelhantes resultaram em compras irrisórias e quedas expressivas dos preços na Bolsa de Chicago.

Enquanto isso, as esmagadoras chinesas enfrentam margens negativas após terem adquirido soja brasileira a preços elevados. O recuo dos preços domésticos de farelo e óleo de soja reduziu a rentabilidade, levando os compradores a adotarem uma postura mais cautelosa nas novas aquisições.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Há expectativa de liberação de estoques governamentais ou de uma reabertura às compras de soja norte-americana, mas até o momento prevalece a prudência.

O desgaste na relação comercial entre Brasil e China também se acentuou. Após críticas de compradores chineses aos preços praticados no Brasil, houve relatos de pressão sobre o governo argentino para suspender temporariamente o imposto de exportação, em uma tentativa de barganha. Nas redes sociais chinesas, o tom foi de descontentamento, com o Brasil sendo rotulado como “ingrato” e “míope”, por elevar os preços em meio à escassez.

  • CONFIRA: Está em dúvida sobre onde aplicar o seu dinheiro? O Money Times mostra os ativos favoritos das principais instituições financeiras do país; acesse gratuitamente

Vale ressaltar, mesmo assim, que na semana em que a trading de grãos estatal chinesa Cofco anunciou a compra de três navios (aproximadamente 180 mil toneladas) de soja norte-americana às vésperas do encontro entre Trump e Xi – naquilo que foi visto como um ato político de boa-fé antes do início das negociações –, compradores chineses fecharam a aquisição de volumes consideráveis no Brasil.

E, após o anúncio de entendimento entre EUA e China – com reflexo positivo sobre os preços da soja em Chicago –, a originação brasileira ficou mais barata. Agora, na primeira semana de novembro, há notícias de importadores chineses fechando dez navios de soja no Brasil para entrega em dezembro e outros dez para entrega entre março-julho.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A próxima safra brasileira, prevista para colheita a partir de janeiro, tende a aliviar a situação apenas no segundo trimestre de 2026, quando os novos grãos devem chegar aos portos chineses. Até lá, a volatilidade deve continuar elevada, refletindo tanto a incerteza sobre a demanda física quanto a influência das condições climáticas na América do Sul.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
Analista do BTG Pactual
Jean Miranda é economista pela Universidade de Campinas (Unicamp), com formação complementar em Geopolítica pelas universidades Sorbonne (2016-2017) e Sciences Po (2017-2018). Hoje é responsável pela pesquisa em Commodities Agrícolas para o público de varejo do BTG e no passado trabalhou na área de controladoria das mesas de trading proprietário do banco.
jean.miranda@autor.www.moneytimes.com.br
Jean Miranda é economista pela Universidade de Campinas (Unicamp), com formação complementar em Geopolítica pelas universidades Sorbonne (2016-2017) e Sciences Po (2017-2018). Hoje é responsável pela pesquisa em Commodities Agrícolas para o público de varejo do BTG e no passado trabalhou na área de controladoria das mesas de trading proprietário do banco.
Quer ficar por dentro de tudo que acontece no mercado agro?

Editoria do Money Times traz tudo o que é mais importante para o setor de forma 100% gratuita

OBS: Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar