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Empresas no Brasil retomam produção em alerta máximo contra Covid-19

12 jun 2020, 10:35 - atualizado em 12 jun 2020, 10:43
Consumo Coronavírus Máscara
Trabalhadores de grandes empresas industriais e também de varejo e serviços, autorizadas por governos regionais a retomarem operações (Imagem: Agência Câmara/Ricardo Stuckert)

O Brasil ainda segue registrando números elevados de casos e mortes de Covid-19, mas aos poucos grandes empresas de diversos setores da economia no país estão retomando gradualmente as operações, adotando para isso novos protocolos que estão se fazendo sentir na produtividade, mas que são o custo cobrado para que as pessoas se sintam seguras para voltar à atividade.

Trabalhadores de grandes empresas industriais e também de varejo e serviços, autorizadas por governos regionais a retomarem operações, estão adotando medição frequente de temperatura corporal, uso obrigatório permanente de máscaras de proteção e circulação monitorada com rigor.

Na fabricante de carrocerias Marcopolo, a vigilância supera o horário de expediente.

Os ônibus que levam funcionários para o trabalho, que agora operam com metade da capacidade, chegam de forma escalonada para evitar aglomeração.

Catracas na entrada da principal fábrica da empresa em Caxias(RS) foram espaçadas. As refeições passaram a ter menor manipulação manual. Máquinas de suco e café foram desligadas.

“Dentro da empresa colocamos câmeras para evitar aglomeração em qualquer espaço da empresa, inclusive nas áreas de lazer e no refeitório”, disse à Reuters o diretor do Negócio Ônibus da Marcopolo, Rodrigo Pikussa.

Embora a retomada parcial das operações em abril tenha sido facilitada pelo fato de a cidade de Caxias, que abriga a maior fábrica da empresa, ter tido poucos casos da Covid-19, a companhia decidiu aplicar lá as mesmas regras de suas demais unidades no exterior, inclusive na China, onde a pandemia teve origem.

Todos os novos cuidados atingem a produtividade, mas as empresas, pelo menos do setor de veículos em que a Marcopolo está inserida, considerem a segurança como fundamental para devolver confiança à indústria e ao mercado.

Segundo a associação que representa o setor, sete fábricas de veículos voltaram a operar em maio no país, e o restante programa retornos ao longo de junho.

“A produtividade não está a mesma, em parte por causa das medidas de prevenção contra a Covid-19”, disse este mês o presidente da associação de montadoras, Anfavea, Luiz Carlos Moraes, a jornalistas. “Mas estamos voltando à produção das fábricas com protocolos de saúde com referência em padrões internacionais, aprendidos por nossas empresas em países como China e Alemanha”, disse.

Mas mesmo com esses e outros cuidados, como equipe médica de plantão permanente, na maioria dos casos esse aparato não é o bastante para garantir uma distância segura entre as pessoas, o que faz empresas operarem com apenas parte do efetivo e também restringirem ao máximo a entrada de visitantes.

Essa é uma realidade tanto na Marcopolo quanto na fabricante de implementos rodoviários Randon, que voltou com metade dos 8 mil empregados, ainda assim com revezamento de turnos.

Depois, ampliou a equipe, mas com jornadas menores. “Também estamos providenciando milhares de testes rápidos para a Covid-19”, disse o diretor da Randon Daniel Ely. “Alguns funcionários se sentem mais seguros dentro da empresa do que fora.”

NOVA ERA, NOVO MERCADO

Essa busca por confiança no ambiente de trabalho tem incentivado empresas do setor de saúde a explorarem um novo filão de mercado. A companhia de medicina diagnóstica Fleury (FLRY3), um dos maiores laboratórios de análises clínicas do país, criou recentemente serviço específico para atender empresas que estão em fase de retomada dos negócios pós-Covid, incluindo testes e protocolos de segurança.

“É um conjunto de medidas para dar maior segurança para empresas, especialmente as que lidam com o público, e ao mesmo tempo racionalizar esforços e despesas”, disse Jeane Tsutsui, diretora-executiva de negócios do Fleury, que já presta o serviço para Bradesco (BBDC3)e a administradora de shopping centers Iguatemi.

Segundo especialistas, muitas empresas mais intensivas em mão de obra e sem a opção de home office perceberam que o rigor nas regras tem um papel vital de tentar restabelecer a confiança dos empregados, já que muitos temem voltar ao trabalho antes de que haja medicamentos eficazes ou uma vacina contra a doença.

“Algumas pessoas me consultaram por estarem indecisas entre voltar ao expediente ou pedir demissão para evitar o risco de infecção no trabalho”, disse a infectologista Adélia Marçal.

Não é um medo exagerado. Nos últimas semanas, fábricas das empresas de alimentos JBS (JBSS3)e BRF (BRFS) registraram centenas casos de Covid-19 entre os empregados e autoridades públicas cobraram fechamento de fábricas.

A infectologista, que tem assessorado indústrias e varejistas na retomada das operações e também a prefeitura do Rio de Janeiro na liberação de atividades como as da orla da cidade, diz que o receio é compreensível especialmente em ambientes de trabalho com menor ventilação e nos quais as empresas são menos familiarizadas com processos de qualidade, que devem ter mais dificuldade na retomada.

“Ainda há poucas das empresas considerando o que vão fazer se houver casos de infecção no retorno”, disse. E mesmo que soluções surjam logo para a pandemia, várias empresas já perceberam que mudanças recentemente introduzidas para prevenir infecções vieram para ficar.

“Alguns protocolos de segurança vão durar por um período bastante significativo”, diz a diretora no Brasil de assuntos corporativos da fabricante de chocolates e biscoitos Mondelez, Maria Claudia Souza.

A empresa, que exporta para 17 países e tem fábricas no Paraná e Pernambuco, já funciona com 100% da capacidade produtiva, mas com uma série de medidas de segurança, que incluem pagar transporte por aplicativo para os funcionários da produção.

Para além da indústria, o segmento de serviços também tem tentado se ajustar, sendo o de aviação um dos que mais adicionaram novos protocolos e procedimentos na expectativa de dar confiança ao público sobre a segurança das operações em plena pandemia.

A comissária de bordo Cynthia Holanda dos Santos, da companhia aérea Azul, afirmou que tem que apresentar várias vezes durante o voo procedimentos para evitar contaminação e estar pronta para a eventual necessidade de um passageiro ter que ser isolado, caso mostre algum sintoma da doença.

E enquanto se acostuma ao aumento de procedimentos obrigatórios, Cynthia tenta aprender com novas situações, como passageiro reclamando porque outro não usa máscara ou olhares de reprovação quando um comissário espirra.

“É exigente, mas necessário para que eu possa me sentir segura”, disse ela, que é mãe de dois filhos e cujo marido também trabalha na aviação civil. “Às vezes eu tento sorrir para as crianças no voo, mas não consigo por causa da máscara.”

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