Economia

Enquanto evita imprimir dinheiro, Banco Central prepara novo corte na Selic

01 maio 2020, 12:45 - atualizado em 01 maio 2020, 15:21
Banco Central
O Comitê de Política Monetária (Copom) deve estender o ciclo de corte de taxas iniciado no ano passado (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

O Banco Central deverá cortar sua taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual novamente na quarta-feira para ajudar a economia brasileira, que mergulha em uma recessão acelerada devido a medidas de isolamento, mostrou uma pesquisa da Reuters.

Com a atividade já passando pelo que parece ser a maior queda trimestral já registrada, e as empresas quase incapazes de vender seus bens e serviços, a inflação não é mais uma ameaça que impediria mais flexibilização monetária.

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve estender o ciclo de corte de taxas iniciado no ano passado para alimentar uma economia que já estava em ritmo lento antes da pandemia de coronavírus, prejudicando as promessas de crescimento do presidente Jair Bolsonaro.

“A gravidade da situação ficou mais clara desde a última reunião do Copom”, disse Etore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, em São Paulo. “A condição crítica da economia prevalecerá nas decisões políticas”.

Em um sinal de quão rápidas as condições econômicas estão em declínio, a taxa de desemprego no Brasil subiu para 12,2% nos três meses até março, marcando o maior aumento em três anos, embora o coronavírus não tenha sido o principal fator.

A redução esperada seria a sétima desde 7 de julho, quando a taxa Selic ficou em 6,5%, e a deixará em um nível recorde mínimo de 3,25%, após um corte de 0,5 ponto percentual em uma reunião de março, segundo 26 economistas consultados entre 27 e 30 de abril.

Prevê-se que o Copom diminua novamente a taxa para 3% em algum momento deste trimestre, abaixo da taxa de final de ciclo de 3,25% esperada em uma pesquisa anterior da Reuters em abril, e permaneça lá por um ano inteiro antes de começar gradualmente a subir.

Roberto Campos Neto
Até agora, Roberto Campos Neto, presidente do banco, descartou a compra generalizada de títulos (Imagem: Reuters/Adriano Machado)

Mas essa abordagem causou um efeito colateral, com uma queda de 27% do real desde janeiro, depois que os cortes nas taxas do Copom corroeram a chamada vantagem de “carry trade” da moeda brasileira, diminuindo sua atratividade para os investidores.

Uma depreciação tão grande pressionaria a inflação em outras circunstâncias, como na década de 1980 ou na atual Argentina, vizinha do Brasil. No entanto, a contração relacionada ao coronavírus deixou as empresas brasileiras sem nenhum poder de elevar preços.

“Apesar da fraqueza do real, as expectativas de inflação continuaram caindo, dando espaço para o Banco Central flexibilizar ainda mais”, escreveram analistas do Citi em relatório nesta semana. As vendas de dólar também diminuem as pressões de uma moeda em queda, acrescentou.

A inflação provavelmente ficará em média em 2,7% no segundo trimestre, a menor em um período de três meses desde 2017, quando uma safra abundante derrubou os preços dos alimentos, de acordo com pesquisas da Reuters. O Produto Interno Bruto (PIB) deverá cair 5,7% em abril-junho.

A perspectiva preocupante levou o Congresso a começar a debater uma emenda constitucional que concede poderes de emergência ao Banco Central para realizar uma flexibilização quantitativa (“quantitative easing”) como parte de seu arsenal de combate a crises.

Até agora, Roberto Campos Neto, presidente do banco, descartou a compra generalizada de títulos, dizendo que qualquer ação seria semelhante à sua intervenção cambial em tempos de forte estresse no mercado.

As autoridades querem acalmar os receios de embarcar na impressão definitiva de dinheiro. “Será limitado ao mercado secundário, vemos isso como uma medida positiva”, disse Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, em São Paulo.

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