O Copom distrai, mas é o T-Bond que derruba o Ibovespa

Investidor estrangeiro aperta o botão de venda quando os títulos americanos sobem — e o Ibovespa (IBOV) sente isso.
Por trás da aparente calmaria dos gráficos, uma curva negra vem se impondo sobre os ativos de risco. Desde meados de 2023, o rendimento do Treasury Bond de 10 anos — referência global para o custo do dinheiro — tem rondado níveis historicamente incômodos. Quando essa taxa ultrapassa a barreira simbólica dos 4%, o impacto se espalha como uma onda sísmica pelo sistema financeiro global. E a bolsa brasileira, como mostram os dados, sente o tremor.
A máxima recente ocorreu em 19 de outubro de 2023, quando o rendimento do T-Bond chegou a 4,99% ao ano. O movimento veio na esteira de uma percepção de inflação mais resistente nos Estados Unidos e de uma política monetária americana mais firme. O reflexo imediato foi uma desvalorização do Ibovespa, que já operava com dificuldades diante de incertezas fiscais domésticas e da revisão de lucros de empresas listadas.
A lógica é simples: quando o juro livre de risco do maior mercado do mundo se aproxima de 5%, os investidores não precisam se expor ao risco Brasil para obter retorno. O resultado? Saída de capital estrangeiro, pressão sobre o real e queda dos ativos locais — um ciclo já bem conhecido dos emergentes.
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Títulos americanos em alta pressionam o Ibovespa: entenda a correlação
O gráfico anexo traduz com clareza essa dinâmica: a linha preta, que representa o rendimento do T-Bond, sobe exatamente nos momentos em que a curva verde do Ibovespa apresenta inflexões negativas. Foi assim em agosto e outubro de 2023, e voltou a ocorrer entre janeiro e março de 2025.
No ponto de inflexão mais recente, em 4 de abril de 2025, o rendimento do T-Bond caiu para 3,99% e, como num alívio imediato, o Ibovespa voltou a ganhar fôlego, superando os 126 mil pontos.
Mas o alívio durou pouco. Em 11 de abril, a taxa voltou a subir para 4,49%, e os sinais de instabilidade reapareceram na bolsa brasileira. É um cabo de guerra invisível — mas poderoso.
Muito além da curva
A questão não é apenas de arbitragem entre ativos. A alta do T-Bond impacta diretamente o diferencial de juros entre Brasil e EUA — componente fundamental para a atratividade do real em estratégias de carry trade. Quando esse diferencial se estreita, o investidor institucional global reduz sua exposição ao Brasil, seja em renda fixa, seja em ações.
Além disso, uma taxa de 10 anos acima de 4% encarece o custo de capital globalmente, o que reprecifica ativos em todo o mundo. Empresas com projetos de longo prazo e crescimento futuro passam a valer menos — e isso afeta desde ações de tecnologia em Wall Street até papéis de infraestrutura listados na B3.
Conclusão: não é só o Copom
O investidor brasileiro costuma acompanhar com lupa as decisões do Copom, mas a chave para entender o rumo da bolsa — e da moeda — muitas vezes está a milhares de quilômetros de Brasília. A curva de juros americana, silenciosa e implacável, segue moldando os preços dos ativos e as narrativas do mercado.
Com o T-Bond orbitando novamente os 4,4%, o sinal está dado: o dinheiro está mais exigente — e a B3, mais vulnerável.