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Entrevista: “A dicotomia entre EAD e presencial vai acabar”, aponta CEO da Ânima

08 jun 2021, 13:52 - atualizado em 10 jun 2021, 13:23
Marcelo Bueno, CEO da Ânima Educação
“No futuro, não vai haver mais diferença entre presencial e EAD . É o aluno que vai escolher o quanto ele quer de uso de tecnologia”, afirmou (Imagem: Divulgação)

O setor educacional vive um ponto de inflexão: a pandemia da Covid acelerou o emprego de novas tecnologias, como o ensino a distância (EAD). O que era visto com receio por muitos alunos hoje se tornou um caminho sem volta. E as instituições perceberam isso. 

Entre elas a Ânima (ANIM3), terceira maior empresa em número de alunos após a aquisição da Laureate Brasil por R$ 4,6 bilhões, recentemente aprovada pelo Conselho de Administração e Defesa Econômica (Cade).

A empresa, que agora se consolida ainda mais com a chegada de marcas como Anhembi-Morumbi, aposta que o futuro da educação passa pelo ensino híbrido, ou seja, um ensino que mescle o presencial e o virtual.

“Temos um modelo híbrido, que diante da pandemia se mostrou ser a melhor escolha. Fizemos essa opção há quatro anos, mais ou menos, quando alguns setores estavam começando a se movimentar”, aponta o CEO da Ânima, Marcelo Bueno, em entrevista ao Money Times.

O executivo afirma que o setor terá um processo parecido com o varejo. Antes, as empresas escolhiam entre investir no físico ou no digital. Hoje, elas perceberam que há integração entre os dois canais, o chamado omnichannel. 

“O consumidor não acorda de manhã pensando em comprar uma televisão pelo digital ou pelo varejo físico. Ele quer comprar uma televisão, não importa em qual canal”, diz. 

Com isso, na visão dele, essa divisão entre EAD e presencial pode estar chegando ao fim.

“No futuro, não vai haver mais diferença entre presencial e EAD . É o aluno que vai escolher o quanto ele quer de uso de tecnologia para melhorar a vida dele”, prevê. 

Resultados refletem tendências 

Segundo o diretor financeiro da empresa, o CFO André Tavares, os resultados do primeiro trimestre mostram que os alunos aprovam essa estratégia.

Nos três primeiros meses do ano, a companhia reportou lucro líquido ajustado de R$ 56 milhões, alta de 28,5%, enquanto a receita saltou 22,8%, para R$ 416 milhões.  

A base de alunos cresceu 11,3% e o ticket médio subiu 12%.

A diretora de relações com os investidores, Marina Oehling Gelman, lembra ainda que o 1º trimestre do ano passado foi um trimestre não pandêmico. 

“Tivemos somente 15 dias afetados. Esse crescimento vem em realidades completamente diferentes. O resultado trouxe a evidência dessa tese de qualidade”, diz.

Agora, a empresa olha para frente e vislumbra os ganhos potenciais com a aquisição da Laurete, que deverá gerar uma sinergia de R$ 350 milhões.

Veja os principais pontos da conversa: 

MT: Em que lugar Ânima quer chegar com a aquisição da Laureate?

Marcelo Bueno: Na nossa visão, a união da Laureate Brasil com Ânima é a maior fusão de ganho e geração de valor da educação superior brasileira. O poder disso é como se todas as PUC se unissem no Brasil. 

São marcas privadas tradicionais, que estão entregando educação de qualidade a 50, 60, 90 anos nas principais regiões do Brasil. Com essa união, a Ânima agora passa a cobrir mais de 75% do território nacional, com mais de 345 mil estudantes e mais de 18 mil educadores e educadoras com desafio de entregar educação de qualidade e com escala.

MT: Vocês continuarão focados em fusões e aquisições? Podemos esperar mais compras em 2021?

Marcelo Bueno: Fizemos a primeira aquisição do ensino superior em 2003. Os grandes grupos nem existiam. Sempre crescemos por meio de fusões e aquisições. Achávamos uma região ou um bairro onde não estávamos e abríamos uma unidade porque a educação de qualidade atrairia as pessoas. Nós estamos sempre atentos para futuros negócios.

MT: Quais são os planos de crescimento da empresa?

Marcelo Bueno: Temos um modelo híbrido, que diante da pandemia se mostrou ser a melhor escolha. Fizemos essa opção há quatro anos, mais ou menos, quando alguns setores estavam começando a se movimentar. 

Conseguimos colocar 145 mil estudantes para estudar em casa em segurança, e com educação de qualidade. O nosso posicionamento de qualidade se mostrou correto. Não se pode comemorar nada na pandemia, mas acho que Ânima vai sair fortalecida desse processo.  

No futuro, não vai haver mais diferença entre presencial e EAD. É o aluno que vai escolher o quanto ele quer de uso de tecnologia para melhorar a vida dele e não alguém que vai dizer para ele que isso aqui é EAD e isso é presencial.

André Tavares
“Mesmo com a pandemia, nós não tivemos elevação da evasão. É um dos números que mais me deixa orgulhoso e confiante”, afirmou o CFO André Tavares (Imagem: Divulgação)

MT: Quais os destaques positivos do 1º trimestre?

André Tavares: Mesmo com a pandemia, nós não tivemos elevação da evasão. É um dos números que mais me deixa orgulhoso e confiante. É uma mensagem do nosso aluno dizendo que está satisfeito com o serviço e com o modelo híbrido. 

Eu diria que os destaques dos resultados são a sedimentação do modelo híbrido, e isso tem tido impactos na qualidade dos resultados, o crescimento da receita, puxado pelas aquisições e pelo nosso ticket, e um ganho de escala e eficiência em várias despesas.

MT: E os destaques negativos?

André Tavares: No primeiro, trimestre tivemos uma continuidade do processo que aconteceu em 2020 e que estamos olhando com muito cuidado, que é condição de alguns alunos de se manterem adimplentes. 

A inadimplência não é um ponto que nos preocupa, mas é um indicador que tem exigido bastante atenção. Ela não se elevou no primeiro trimestre, o aumento veio mais no ano passado, mas esse quadro no primeiro trimestre não se reverteu, ela continuou alta. 

Temos lançado diversas alternativas para ajudar nossos alunos em um momento de maior dificuldade. Utilizamos uma parte do capital levantado pela oferta de ações no ano passado para apoiar esses alunos nesse momento que eles precisam de maior prazo para pagar suas mensalidades atrasadas. Logicamente, a melhoria também passa pelo cenário econômico e do emprego.

Educação, Ensino à Distância, EAD
“A educação vai ser cada vez mais híbrida, não vai ter mais diferença entre espaço físico e espaço virtual. Ela vai ser cada vez mais humana”, aponta (Imagem: Pixabay)

MT: Quando irá ocorrer a retomada do setor de educação?

Marcelo Bueno: A companhia está preparada, seja qual cenário for. Não estamos contando com nenhuma melhora por enquanto. Não baixamos a guarda. Se a economia melhorar, ótimo.

Diferente de outros setores que fecharam, na educação nós vimos três cenários: algumas escolas que conseguiram colocar os alunos em casa, estudando com qualidades, outras que migraram para o EAD cobrando R$ 80 por aluno e um terceiro que fechou.

No nosso caso, nos preparamos para a tese da prestação de serviços com qualidade e em casa. Porém, sempre achamos que haveria questões econômicas pela frente. Nós nos preparamos para apoiar os alunos, inclusive para acolher outros alunos de instituições que fecharam. 

André Tavares: Apesar das expectativas do PIB maior, importa mais para nós o índice de confiança do consumidor e o emprego e isso não melhorou tanto. Esperamos ver alguma melhora substancial no final do ano. 

MT: O EAD veio para ficar?

Marcelo Bueno: Para nós, a visão de que o EAD baixa qualidade e o ensino presencial aumenta a qualidade é distorção. Escolhemos o híbrido. A tecnologia veio para melhorar a vida do estudante e não para baratear o processo. Essa é a lógica do futuro. Você tem cursos de tecnologia 100% EAD com qualidade mais caros que o presencial. 

Esse aluno que acreditava que um campus bonito era sinônimo de qualidade ou ficou sem aula porque a escola fechou ou ele usou a tecnologia. Necessariamente, quem usou a tecnologia vai gostar. Nunca mais vai deixar de usar. É uma grande oportunidade de você utilizar corretamente a tecnologia.

MT: Como vocês imaginam o setor no pós-pandemia?

Marcelo Bueno: A educação vai ser cada vez mais híbrida, não vai ter mais diferença entre espaço físico e espaço virtual. Ela vai ser cada vez mais humana. O aluno vai escolher o quanto de tecnologia ele quer usar e quais serão as trilhas educativas que quer utilizar.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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