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Entrevista: “Estamos pessimistas, e temos só 5% de Brasil na carteira”, diz sócio da BlueLine

26 mar 2021, 18:05 - atualizado em 26 mar 2021, 19:12
Escritório da BlueLine Asset Management
Foco global: fundada por ex-executivos do JPMorgan, a BlueLine não nutre esperanças pelo Brasil no curto prazo (Imagem: Divulgação/ BlueLine)

A aversão ao risco não afasta apenas os investidores estrangeiros dos ativos negociados no Brasil. Os gestores brasileiros também buscam melhores oportunidades no exterior para multiplicar o patrimônio de seus clientes. Infelizmente, não faltam motivos para desconfiar dos rumos da economia no curto prazo.

“O cenário brasileiro voltou a se complicar no começo do ano, com problemas que se retroalimentam”, afirma Fábio Akira, economista-chefe e sócio da BlueLine, gestora que administra um patrimônio de R$ 280 milhões.

“A pandemia aumenta o risco fiscal, que aumenta o risco político, que aumenta o risco intervencionista. E a cereja desse bolo é a inflação furando o teto da meta do Banco Central”, explica.

Por isso, apenas 5% do risco de seu fundo multimercado é representado por ações brasileiras. O restante está distribuído em papéis de empresas estrangeiras. Isto porque, as perspectivas externas são bem mais favoráveis, com o avanço da vacinação em massa, a reabertura das principais economias globais, a política expansionista de Joe Biden nos EUA e o alívio das tensões geopolíticas com a China.

Para quem ainda deseja investir no Brasil, Akira recomenda esquecer o Ibovespa e se concentrar em papéis de empresas com boa exposição à economia global, como as exportadoras de commodities. Mas não nutra esperanças de uma guinada neste ano.

“Estou pessimista. Não acho que haverá uma solução estrutural para os problemas brasileiros neste ano”, resume. Veja os principais trechos da entrevista concedida ao Money Times.

Money Times – Você já afirmou que o Brasil está “inoperável”, devido às grandes incertezas sobre a pandemia e a economia. Continua com essa opinião?

Fábio Akira – Desde o ano passado, já estávamos preocupados com o crescente risco fiscal brasileiro, na esteira do combate à Covid-19. Ninguém questiona a necessidade de ajudar os mais vulneráveis, mas preocupa muito como isso será financiado no longo prazo. Com isso, nossa alocação em Brasil foi ficando cada vez menor. Na média dos últimos nove meses, nossa exposição ao risco Brasil ficou em 25%, contra 75% do exterior. No pior momento, entre setembro e outubro, mantivemos apenas 5% de risco Brasil na carteira.

No começo de 2021, chegamos a ter 35% de Brasil e 65% de estrangeiros. Mas, depois, o cenário brasileiro voltou a se complicar com problemas que se retroalimentam. A pandemia aumenta o risco fiscal, que aumenta o risco político, que aumenta o risco intervencionista. E a cereja desse bolo é a inflação furando o teto da meta do Banco Central.

Por isso, voltamos a manter apenas 5% de exposição ao risco Brasil, com uma observação: o momento é diferente. Antes, os problemas brasileiros já eram evidentes, mas o exterior estava bem e havia apetite ao risco. Agora, o mundo passa por um freio de arrumação, e os investidores estão mais criteriosos. Outro complicador é que os países desenvolvidos também estão subindo os juros, ou apontam para este caminho, e a concorrência pelos investidores globais ficou maior.

MT – Há condições efetivas de realizar ajustes fiscais?

Akira – Estou pessimista. Não acho que haverá solução estrutural para os problemas brasileiros neste ano. Não virão reformas, nem nada. Continuaremos com uma execução fiscal de emergência, com contingenciamentos de curto prazo. Antes, o que nos tranquilizava era que a expansão fiscal se dava com juros baixos, mas, agora, os juros começaram a subir.

Além disso, não se trata apenas da questão quantitativa, isto é, quanto cortar de gastos públicos. Há a questão qualitativa, sobre que gastos cortar. Essa é mais sujeita à política. O que é importante cortar, do ponto de vista econômico, pode não ser politicamente. Não acho que o Brasil vai entrar numa rota de estabilização fiscal tão rápido.

MT – Por tudo isso, ainda há tempo de o governo resgatar a credibilidade de sua política econômica?

Akira – Tudo o que o ministro da Economia pode fazer, agora, é controle de danos. Faz tempo que ele não consegue mais pautar as reformas. Mas tem algo que pode ajudar. No segundo semestre, se a vacinação em massa avançar, temos chances de melhora no quadro geral da economia.

Fábio Akira, economista-chefe e sócio da BlueLine Asset Management
Garimpo: Akira aconselha investidores a não operar índices brasileiros e a buscar oportunidades pontuais na Bolsa (Imagem: Divulgação/ BlueLine)

MT – Onde estão as melhores oportunidades de ganhos, dentro desse cenário?

Akira – Olhando como gestor de investimentos, a situação fiscal não vai melhorar radicalmente, mas há oportunidades. Não precisa ficar vendido em Brasil o tempo todo. Na Bolsa, as melhores oportunidades estão em papéis atrelados às commodities, que podem se beneficiar com a retomada global. É essa a lógica que nos leva a investir também na Ásia.

MT – As BDRs (Brazilian Depositary Receipts) são uma boa opção para escapar do risco Brasil?

Akira – Sim. Essa diversificação geográfica e de papéis é o que fazemos. Mas os investidores de varejo precisam fazer isso de modo consciente, e lembrarem ainda que esse é um investimento exposto à variação cambial. Por isso, é preciso estudar muito, antes de tomar uma decisão, ou contar com a ajuda de profissionais.

MT – Apesar de todas as incertezas atuais, você tem alguma projeção de Ibovespa para 2021?

Akira – Não acho que o Ibovespa esteja barato, mas acredito que algumas empresas ainda têm um bom potencial. Por isso, é melhor operar papéis, do que índices. Mas, se a pandemia for controlada e a economia for reaberta, temos boas chances de sair de 2021 com o Ibovespa entre 120 mil e 125 mil pontos.

MT – E qual é a estratégia da BlueLine para lidar com esse cenário?

Akira – A BlueLine é uma gestora nova, mas formada por veteranos de mercado, muitos saídos do JPMorgan. Nosso foco sempre foi global, por isso, usamos muito a análise top-down na gestão do portfólio. Gerimos um fundo multimercado, o Blue Alpha B, com um patrimônio de R$ 280 milhões. É claro que nosso objetivo é fazer com que ele cresça.

 

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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