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Entrevista: “Fundos de infraestrutura são resilientes e geram bom retorno”, diz diretor da BRZ

16 mar 2021, 10:45 - atualizado em 16 mar 2021, 16:55
Porto Itapoá, em Santa Catarina
Subavaliado: desinformação ainda atrapalha fundos de infraestrutura, afirma Ricardo Propheta, da BRZ Investimentos  (Imagem: Divulgação/ Porto Itapoá)

Encontrar bons investimentos não tem sido fácil nos últimos meses, diante dos impactos econômicos da pandemia de coronavírus. Com a Selic a 2% ao ano, os ativos de renda fixa oferecem pouco retorno e chegam a perder da inflação. Já a forte volatilidade da renda variável deixa o mercado à flor da pele.

Nesse ambiente, os fundos de investimento em participações em infraestrutura (FIP-IE) são uma opção para diversificar a carteira, conciliando o ganho de capital das cotas (como acontece com a valorização de uma ação) com os dividendos pagos regularmente, como na renda fixa.

Os FIP-IE não são uma novidade, mas têm chamado cada vez mais atenção. Alguns já contam com milhares de cotistas, como o BRZ Infra Portos (BRZP11), com uma base de 4,3 mil investidores. Lançado em fevereiro do ano passado, pouco antes da eclosão da pandemia, o BRZ Infra Portos captou R$ 616 milhões.

Os recursos foram investidos na aquisição de uma participação indireta de 23% do Porto Itapoá, em Santa Catarina, o quarto maior terminal de contêineres do Brasil, com capacidade para movimentar 1,2 milhão de TEUs (trading equivalent units), e com licenças já garantidas para expandir a capacidade até 2 milhões de TEUs.

Resistência

Para Ricardo Propheta, diretor da gestora BRZ Investimentos, além da isenção de Imposto de Renda, tanto no ganho de capital, quanto na distribuição de dividendos, os FIP-IE têm outra vantagem em tempos de crise. “O setor de infraestrutura é muito resiliente”, diz o executivo.

Criada em 2005, a partir de um spin-off da GP Investimentos, o foco da BRZ são os ativos alternativos. Com cerca de R$ 3 bilhões sob gestão, a BRZ atua em duas frentes. Cerca de um terço desse patrimônio está alocado em fundos de crédito. O restante está em fundos de participação, com foco em projetos de infraestrutura (cerca de 60% de alocação) e empresas de rápido crescimento (cerca de 40%).

Veja, a seguir, os principais trechos da conversa com o Money Times.

Money Times – Como a pandemia impactou a BRZ?

Ricardo Propheta – Houve vários impactos. A queda da taxa de juros aumentou o interesse dos investidores pelos fundos de crédito. Tivemos muita demanda por esses produtos. Nos fundos de empresas de alto crescimento, o impacto dependeu do setor de atuação de cada investida. Já os fundos de infraestrutura foram muito resilientes.

MT – Que tipo de projeto atrai a BRZ, no setor de infraestrutura?

Propheta – Gostamos desse setor de uma forma geral. No mundo inteiro, quando se fala em fundos de infraestrutura, pensamos em baixo risco e retorno estável. Mas, no Brasil, justamente por causa das carências nesse setor, há também ativos com retorno elevado. Historicamente, a BRZ investiu muito em logística, mas estamos olhando para a infraestrutura urbana, como saneamento, iluminação pública e conectividade.

MT – Quanto vocês costumam investir por projeto?

Propheta – O tamanho médio dos nossos cheques vai de R$ 100 milhões a R$ 300 milhões. Mas, quando se trata de infraestrutura, um cheque assim pode atrair mais recursos, por meio de linhas de financiamento e investidores estratégicos.

MT – Como está o BRZ Infra Portos?

Propheta – O fundo foi lançado alguns dias antes do Carnaval de 2020. Logo depois, a pandemia foi declarada. Houve uma queda no valor das cotas, fizemos um desdobramento de cotas em meados do ano, mas ainda não recuperamos tudo. O importante é que o preço atual da cota não corresponde aos resultados que o Porto Itapoá gera.

MT – Como assim?

Propheta – Com base em análises de uma consultoria independente muito respeitada no setor de infraestrutura, a Leggio, o ebitda projetado do Porto Itapoá deve passar de R$ 238 milhões, em 2021, para R$ 492 milhões em 2025. A Taxa Interna de Retorno (TIR) é de 17,3%, com o preço atual da cota, de R$ 75. Mesmo a R$ 120, que é próximo do valor de emissão do fundo, a rentabilidade é de 13,4%.

MT – E onde está o problema, então?

Propheta – Os fundos de infraestrutura sofrem um pouco com a desinformação dos investidores, que, frequentemente, confundem TIR com dividend yield (retorno de dividendos). Eles olham muito para o dividend yield, e nos comparam com fundos imobiliários, por exemplo. Mas uma cota de fundo de infraestrutura é mais parecida com a ação de uma empresa de capital aberto.

Ricardo Propheta, sócio da BRZ Investimentos
Investindo no futuro: “cidades conectadas abrem novas perspectivas para economia local”, afirma Propheta (Imagem: Divulgação/ BRZ Investimentos)

Quem investe nesse produto terá, também, um crescimento implícito, decorrente da expansão do projeto, e isso vai gerar ganho de capital para o investidor. E com a vantagem de que os fundos de infraestrutura são isentos de Imposto de Renda, porque são incentivados pelo governo, já que captam recursos para projetos de interesse nacional.

Outro dia, quando apresentei esse produto para um investidor muito sofisticado, ele me disse que, depois das debêntures incentivadas, eu estava lhe mostrando o equity incentivado. E é isso mesmo.

MT – Na área de infraestrutura urbana, quais são os planos da BRZ?

Propheta – Estamos estruturando um fundo, o BRZ Cidades Modernas, que investirá em infraestrutura e tecnologia para cidades de médio porte, com 50 mil a 500 mil habitantes. Em cidades desse tamanho, é possível encontrar projetos interessantes de saneamento, conectividade por cabos de fibra óptica e outras tecnologias, iluminação pública.

MT – Vocês vão entrar na briga das operadoras pela criação de uma rede neutra de fibra óptica?

Propheta – Não necessariamente. Podemos ser parceiros das operadoras. Podemos, por exemplo, puxar o last mile, o cabo que vai para a casa do usuário, a partir de um ramal próximo a uma cidade de médio porte. Cidades conectadas interessam a todos, porque melhoram a qualidade de vida e abrem novos horizontes para a economia local.

MT – Qual será o porte do novo fundo?
Propheta – Por causa da variação cambial, falamos em US$ 200 milhões. Em reais, seria algo entre R$ 1 bilhão e R$ 1,2 bilhão. Será um fundo de private equity tradicional, com grandes investidores institucionais, family offices, organizações internacionais. O fundo ainda não está aberto para captação.

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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