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Entrevista: “O transporte rodoviário será outro em quatro anos”, diz CEO da ClickBus

04 jun 2021, 13:44 - atualizado em 04 jun 2021, 19:13
ClickBus
O executivo, que conversou com exclusividade com o Money Times, diz ainda que a ClickBus quer aproveitar a baixa penetração de usuários que compram passagens online (Imagem: Divulgação/ClickBus)

O setor de transportes se viu em um dos seus piores momentos: de repente, de uma hora para outra, as pessoas pararam de viajar. Aeroportos foram fechados e centenas de aviões permaneceram aterrados.  No modal rodoviário, o mais utilizado por brasileiros, o estrago não foi menor: as vendas das passagens online caíram 31% em 2020 ante 2019.

Porém, uma empresa em especial tem tudo para aproveitar a janela de oportunidades do e-commerce que ocorreu durante a pandemia: a ClickBus. A plataforma é líder em venda online de passagens rodoviárias, com cerca de 150 viações de ônibus em seu portfólio que levam para mais de 4.6 mil destinos.

Para dar um gás ainda maior nessa transformação, a startup anunciou um novo CEO: Phillip Klien. O executivo tem passagens por companhias como PicPay, OLX, Uber e Twitter, além de ter sido fundador da Predicta, pioneira em marketing digital no Brasil.

Segundo Klien, o mercado rodoviário passará por grandes transformações nos próximos anos. 

“Muitas vezes, o mercado rodoviário não é uma indústria que atua muito na questão do marketing, mas ela é fundamental e muito propensa à inovação. Eu acho que daqui a quatro anos, o crescimento do modal irá surpreender no crescimento e acho que irão vir várias inovações para dar mais segurança, simplicidade e inteligência a esse meio de transporte”, afirma. 

O executivo, que conversou com exclusividade com o Money Times, diz ainda que a ClickBus quer aproveitar a baixa penetração de usuários que compram passagens online, hoje em cerca de 20%, para aumentar suas fronteiras. Antes da Covid esse número girava em torno de 12%.

Mesmo sendo de certa forma beneficiada pela pandemia, que poderá mudar para sempre hábitos de consumidores mais resistentes ao online, a empresa não escapou de ver suas receitas caírem 27% no comparativo com o período anterior. Foram emitidas 20% menos passagens que em 2019.

Por outro lado, os números também revelam certa resiliência em relação ao setor como um todo: segundo dados da ABRATI (Associação Brasileira das Empresas de Transportes Terrestres de Passageiros), apenas no primeiro trimestre deste ano o número de passageiros embarcados caiu cerca de 70% e o faturamento 73%, em relação ao ritmo pré-crise.

Na ClickBus, no entanto, a queda foi de 23% na emissão online de passagens e 19% na receita gerada na comparação com o mesmo período de 2020.

Neste ano, a companhia projeta expansão de 45% a 55% no setor, que deve se aproveitar da retomada econômica e da vacinação em massa.

CoronaVac
Vacinação: eis a apostas da empresa para catapultar o crescimento do turismo (Imagem: Agência Brasil/Tânia Rêgo)

Veja os principais trechos da conversa:

MT: Você já teve passagens por outras empresas com essa pegada digital, como PicPay e Uber. Quais suas expectativas e como você avalia esse mercado rodoviário?

Phillip Klien: A ClickBus está em uma rota de crescimento e eu vim para guiar esse busão ao futuro. Estamos em uma fase de retomada da crise. Começamos a ter uma perspectiva positiva. Várias métricas indicam esse processo, inclusive na indústria de turismo.  Com o aumento da vacina, vimos uma elevação de passagens no Dia das Mães, por exemplo. 

A ClickBus é a principal marketplace de passagens no Brasil e a minha experiência com marketplaces digitais, especialmente em fase de crescimento, pode ajudar a trazer esse “cabelo branco” para maximizar o processo. 

O que eu trago para a Click é uma perspectiva muito orientada no cliente, sempre buscando tecnologia de ponta em tudo que tocamos. Vamos crescer mais rápido não só por causa da retomada, mas vamos aproveitar esse momento de pessoas mais digitais. 

Tudo foi para o digital. Na minha experiência no PicPay no ano passado eu vi isso. Todos os aspectos da experiência do usuário estão indo para o digital. Na indústria do transporte rodoviário no final de 2019, na pré-pandemia, apenas 12% das passagens eram vendidas online e hoje esse número está em 20%. Por que não ampliar esse número? Nessa mudança de comportamento, nós nos vemos como grandes protagonistas e queremos acelerar ainda mais. 

MT: Como vocês lidaram com a pandemia?

Phillip Klien: Da porta para dentro trabalhamos com muita cautela. Primeiro tivemos uma redução drástica de volume de passagens. Foram emitidas 20% menos passagens em 2020 do que em 2019, considerando que a crise começou a partir de abril. 

Tentamos ajudar os parceiros a abraçar o digital com as nossas soluções. Com as rodoviárias fechadas e as vendas sendo migradas para o digital, nós nos vimos como super parceiros. Também criamos um selo de segurança minimizando o serviço para quem precisa viajar.

MT: Como estão observando a retomada?

Phillip Klien: Muitas pessoas abandonaram os grandes centros para morar em cidades do interior ou periféricas. 

Como vai ser quando passar a pandemia? Será que essas pessoas continuarão morando distante do trabalho e terão uma nova necessidade de transporte rodoviário intermunicipal para poder ir e voltar ao trabalho?

Estamos não só olhando o que está acontecendo no ecossistema e as mudanças de comportamento, mas também já vendo que outras mudanças grandes que vão ocorrer e como poderemos nos beneficiar desse movimento.

MT: O brasileiro ainda viaja de ônibus?

Phillip Klien: Somos um país de proporções continentais e infelizmente a nossa infraestrutura de transporte é precária. O mercado de aviação cresceu nos últimos anos, mas a realidade é que só via ônibus que você consegue atingir 4 mil destinos no Brasil. 

A pandemia trouxe uma oportunidade de olharmos o turismo no mercado doméstico, não só para lá fora.

Além disso, a tecnologia dentro dos ônibus tem melhorado bastante. Você consegue ter diversas classes de nível de conforto. No pré-crise, vendemos 160 milhões de passagens no Brasil. Cada vez mais que conseguimos promover eficiência e simplicidade no transporte rodoviário, não tem razão para esse modal não aumentar.

MT: Quais os principais planos para crescer?

Phillip Klien: O propósito que buscamos é sempre trazer o máximo de tecnologia para todos os pontos de contato. Se existe essa realidade de 20% comprando as passagens online, precisamos questionar: quais são as dores e as resistências que existem para essas pessoas não irem para o digital. 

Essa mudança de comportamento é um dos grandes objetivos para fazer essa retomada, aplicando tecnologia, conversando com as viações. 

O mercado de transporte é muito regulamentado. Porém, vemos cada vez mais aberturas, novas possibilidades e modelos para trazer mais eficiência

MT: A empresa busca captação em alguma rodada de investimentos?

Phillip Klien: Exploramos alternativas. Não precisamos delas, estamos em uma situação confortável: temos a nossa escala, o nosso crescimento. Mas com certeza podemos trazer novas tecnologias ou novas oportunidades. São coisas que a gente sempre está aberto a olhar e estudar.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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