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ESG: O que a prática tem a ver com o vinho manchado pela escravidão?

06 mar 2023, 10:37 - atualizado em 06 mar 2023, 10:41
ESG são práticas de governança socioambiental e corporativo que servem de recomendação às empresas, de modo a evitar casos como a descoberta de escravidão em vinícolas (Imagem: divulgação)

Por Denny Thame e Julia Adorno*

Os vinhos brasileiros têm ganhado prêmios e consumidores no mundo todo. Porém, recentemente esse sucesso foi mergulhado no gelo pela descoberta de trabalho análogo à escravidão atrelado à produção das principais vinícolas da região. 

A primeira resposta dessas empresas foi o clássico: ‘não tenho responsabilidade. Foram os terceirizados que cometeram atos criminosos’.

Mas essa desculpa não cola mais. Afinal, a tendência regulatória internacional é outra, inclusive tem crescido de maneira sem precedentes.

Lideradas por França e Alemanha, a Europa como um todo tem anunciando regras que responsabilizam as empresas por um dever de vigilância sobre o que ocorre ao longo da sua cadeia produtiva. Ao mesmo tempo, os consumidores estão cada vez mais exigentes a respeito da reputação e da função social das empresas.

Isso é o que demonstra uma série de boicotes recentes. Alguns chegam a atos extremos de depredações, como do supermercado Carrefour em Porto Alegre, depois de prática de racismo por terceirizado da área de segurança em 2020.

Portanto, seja for por medo das leis, da possibilidade de perder clientes, ou da fúria da sociedade, as empresas precisam adotar práticas de governança socioambiental e corporativa, conhecidas pela sigla em inglês ESG. Isso porque é a coisa certa a ser feita e também porque gera menos custos e perdas. É uma decisão justa e racional. 

Para ajudar nessa jornada, a ABNT publicou no fim do ano passado uma série de práticas recomendadas. Abaixo, segue a lista com as principais recomendações, confira:

ESG: Resumo sobre o que a ABNT indica como Prática Recomendada

A importância da governança ESG tange principalmente a gestão dos riscos, já que uma conduta ESG neutraliza muitos perigos e cria vantagens competitivas. Além disso, as práticas ESG são bem quistas pelo mercado e pelos compradores. Assim, uma conduta integrada de ESG na organização proporciona um propósito à corporação focada nos valores de longo prazo. 

Com isso, conhecer as recomendações da ABNT ajuda a ter uma estratégia organizacional para aplicar o ESG nas atividades de negócios, a fim de gerar valor compartilhado com a sociedade. Por fim, é necessário um bom planejamento da implantação que contenha objetivos e metas, com o intuito de motivar a continuidade dos projetos.

O último passo é colocar em prática o plano de normas ESG. Depois de implantado, as atividades de todas as áreas devem ser medidas e relatadas. 

Existem 5 estágios de maturidade do ESG. O elementar e o  não integrado que buscam, a priori, atender a legislação; o estágio gerencial, que possui enfoque nos processos operacionais; o estratégico, que conta com a liderança à frente dos processos do ESG, característico por possuir metas e objetivos conjuntamente com medidores de monitoramento. O último estágio é o transformador, que impacta e influencia outras organizações a aderir seu modelo de negócio. 

Além disso, há 7 passos para incorporar o ESG nas organizações: conhecer, ter intenção estratégica, diagnosticar, planejar, implementar, medir/monitorar e relatar/comunicar

Os resultados práticos

O engajamento com as práticas ESG de toda a cadeia de valor e de suprimentos é fundamental para dar consistência às medidas. Algumas empresas exercem a posição de liderança da cadeia e assim podem e devem exigir e fomentar nos parceiros, fornecedores, e até concorrentes a transição para as práticas: compartilhamento de informações e dados, uso racional de matérias-primas aumentando a circularidade, eficiência energética e uso de fontes renováveis, integração e comprometimento na gestão de riscos, criação de valor para toda a sociedade e para partes interessadas, não apenas foco nos acionistas.

Alguns eixos temáticos transdisciplinares são fundamentais para a gestão ESG: mudanças climáticas, recursos hídricos, biodiversidade e serviços ecossistêmicos, economia circular e gestão de resíduos, gestão ambiental e prevenção de poluição, diálogo social e desenvolvimento territorial, Direitos Humanos, diversidade, equidade e inclusão, relações e práticas de trabalho, promoção de responsabilidade social, governança corporativa, conduta empresarial, práticas de controle e gestão e transparência.

Particular importância têm os indicadores e as métricas utilizadas para medição e monitoramento. Eles devem refletir os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as 169 metas globais acordados em 2015 na Agenda 2030. E essa medição deve constantemente ser reportada e disponibilizada para que as partes interessadas internas e externas formem opiniões e tomem decisões. Nos relatórios de sustentabilidade deve haver também um acompanhamento constante das transformações geradas pelas ações tomadas pela empresa. 

Claro que seguir essas práticas de governança ESG à risca na vida real é um tanto complexo e pode ser custoso. Mas a alteração do foco na geração de resultado financeiro a curto prazo, para a geração de valor no longo prazo, irá compensar reduzindo riscos, incrementando a eficiência e o desempenho e além disso criando mais relevância para a sociedade.

*Denny Thame pesquisa bioeconomia circular sustentável na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo

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