Exclusivo: Santander Asset revela por que a renda fixa ainda é sua principal aposta, mesmo com a bolsa em alta

Os últimos meses vêm sendo marcados pelas sucessivas máximas do Ibovespa, impulsionado, principalmente, pela perspectiva de queda de juros no Brasil e o início do ciclo de cortes nos Estados Unidos. No entanto, apesar da criação de um fluxo de capital para a bolsa, os especialistas da Santander Asset mantêm a preferência pela boa e velha renda fixa.
Atualmente, o cenário base da casa é de que o Banco Central brasileiro fará o seu primeiro corte de juros apenas em março do ano que vem, com a Selic no fim de 2026 próxima dos 12,5% ao ano. Para além do patamar das taxas, a opção da gestora pela renda fixa se dá por uma questão estrutural.
“Renda fixa é a nossa fortaleza porque se trata de um mercado gigante no Brasil. É algo que independe do momento”, afirma Eduardo Jarra, head de estratégia e macroeconomia da Santander Asset Management, em entrevista exclusiva ao Money Times na sede do banco.
“90% da indústria de investimentos aqui no Brasil, sendo conservador, é focada em renda fixa”, completa Luciano Rais, head de renda fixa da gestora.
Nesse sentido, a alocação da gestora do banco espanhol é relativamente mais “agressiva” que o mercado. Do total de R$ 394 bilhões sob gestão, R$ 249 bilhões estão alocados em renda fixa.
A gestora avalia que, hoje, a renda fixa é tão relevante no Brasil que compõe o portfólio mesmo dos fundos de ações. E, além disso, esses ativos são fortes o suficiente para manter o viés home bias, ou seja, com investidores locais preferindo os papéis brasileiros, enquanto em ações a diversificação ganha força.
Bolsa: menos Brasil e mais global
“Em relação às ações, com o passar do tempo e com a sofisticação, as pessoas estão caminhando para ter posições globais maiores. Investidores têm evitado idiossincrasias de um país e estão diversificando mais, buscando ações de tech, de commodities ou de biotecnologia”, afirma Jarra.
Com isso, para eles, faz mais sentido “estar muito bem diversificado em ações” — ainda mais pelo fato de o Brasil representar menos de 2% do mercado mundial de equities. “É complicado ter 100% do portfólio na bolsa brasileira”, diz o head de estratégia.
Já quando o assunto é renda fixa, a Santander Asset enxerga que o mercado brasileiro oferece soluções suficientes para os investidores locais.
“Não tem como não ser dessa forma. A inflação do investidor brasileiro é a inflação brasileira, não a americana. As metas dos fundos de pensão não são a meta americana, mas a brasileira. O nosso mundo de juros é o mundo brasileiro”, diz Jarra.
A visão da Santander Asset é que parte dos portfólios brasileiros, apesar dos fluxos, segue sendo “imutável” quando o assunto é renda fixa.
Atualmente, a Santander Asset tem preferência por títulos pré-fixados com prazos entre três e cinco anos. Segundo os gestores, essa escolha se explica pela postura conservadora do BC em relação à política monetária, com a expectativa razoável de que a Selic comece a cair no início de 2025.
Ao travar hoje uma taxa pré-fixada, a visão é de que haverá garantia de um rendimento mais alto do que aquele que será oferecido no futuro, quando os juros estiverem mais baixos.
Depois dos pré-fixados, a segunda preferência da casa são as NTN-Bs (Tesouro IPCA+) de longo prazo. Nessa classe de ativos, o raciocínio é que, apesar da volatilidade natural, os papéis oferecem taxas reais atrativas, com rendimentos acima da inflação. As NTN-Bs funcionam como uma proteção de longo prazo contra a inflação e, ao mesmo tempo, oferecem bons retornos ajustados pelo risco.
Juros menores, porém mais altos
Por fim, a casa também enxerga que as taxas de juros brasileiras — e também as globais — devem incorporar prêmios maiores daqui para frente por conta do atual cenário fiscal mundo afora.
“As taxas de equilíbrio tendem a ser um pouco mais altas pela pressão fiscal, enquanto o ciclo econômico é uma força gravitacional que faz o Banco Central agir ao redor dessa taxa. Hora apertando mais, hora afrouxando mais”, explica Luciano
A asset mantém também certo otimismo em relação à renda fixa brasileira por conta do cenário macroeconômico, sustentado por dois pilares.
No primeiro, há o cenário internacional mais positivo, caminhando para uma flexibilização monetária, com o Fed, por exemplo, sinalizando cortes de juros mesmo com um mercado de trabalho ainda aquecido. E isso, usualmente, cria fluxo de investimentos para países emergentes, seja para ações ou para a renda fixa.
Os executivos da gestora de fundos do Santander também se mostram mais otimistas que o mercado quando o assunto é o risco fiscal. “O Brasil foi o único país que saiu da pandemia com resultado fiscal melhor do que entrou”, observa o head de renda fixa, lembrando que enquanto potências como França, Japão e os próprios Estados Unidos enfrentam pressões crescentes de endividamento soberano, o país aparece relativamente mais bem-posicionado.
Essa combinação de ambiente global mais leve e de melhora fiscal no comparativo abre espaço para cortes de juros no Brasil já no início de 2025, o que deve também valorizar títulos na marcação a mercado. “Estar alocado nos ativos corretos, se a gente acertar o cenário, é muito mais importante do que o timing”, afirma Rais.