Fed deve cortar juros dos EUA em 0,25 ponto, mas risco de dissenso triplo aumenta

O Federal Reserve (Fed) deve formar maioria para reduzir os juros dos Estados Unidos (EUA) em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira (17), mas cresce a chance de dissenso triplo entre os dirigentes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), afirma o Banco Pine.
O economista-chefe, Cristiano Oliveira, e sua equipe pontuam que, apesar do consenso, parte dos membros pode votar por uma redução maior, de 0,50 ponto, enquanto outros devem defender a manutenção da taxa.
A curva de juros já precifica integralmente o corte de 0,25 ponto, mas, segundo o Pine, a combinação de fragilidade no mercado de trabalho, inflação acima da meta e forte pressão política cria espaço para diferentes interpretações dentro do colegiado.
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A leitura é que esse cenário fortalece tanto os membros mais dovish, que defendem estímulos maiores, quanto os mais hawkish, que preferem cautela.
Para Oliveira, um cenário de divergência explícita tende a elevar a volatilidade dos mercados, não apenas por mostrar falta de consenso interno, mas também por gerar incerteza sobre os próximos passos da política monetária. “A comunicação do Fed, portanto, será tão relevante quanto a decisão em si, já que caberá ao presidente Powell evitar sinais de perda de controle sobre o Comitê.”
O Pine lembra ainda que os efeitos da decisão do Fed ultrapassam as fronteiras norte-americanas. Um corte mais profundo poderia enfraquecer o dólar e impulsionar fluxos para mercados emergentes, enquanto a manutenção dos juros reforçaria a busca por ativos considerados mais seguros.
Além disso, o banco chama atenção para o impacto político de um eventual dissenso: divergências internas poderiam ser exploradas pelo governo de Donald Trump para questionar a credibilidade da autoridade monetária.
O C6 Bank compartilha a visão de corte de 0,25 ponto, uma vez que as recentes declarações de Jerome Powell demonstraram uma preocupação maior com uma possível deterioração do mercado de trabalho do que com a inflação.
A economista Claudia Rodrigues lembra que as contratações caíram de 79 mil em julho para 22 mil em agosto e que a taxa de desemprego subiu de 4,2% para 4,3%.
Já a inflação chegou a 2,9% no acumulado dos 12 meses até agosto, se afastando mais da meta de 2%. Além disso, a expectativa é de que o aumento de tarifas de importação comece a ter impacto sobre os preços de bens industriais nos próximos meses, o que deve manter os preços elevados.
“Acreditamos que a inflação persistentemente elevada e o risco de uma pressão maior sobre os preços deveria manter o Fed cauteloso em relação aos próximos passos.”