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Felipe Miranda: alguém poderia me responder, por favor?

22 abr 2020, 13:16 - atualizado em 22 abr 2020, 13:16
“O risco é descobrirmos que ainda somos o Brasil de sempre nas crises: juro de 6% e Bolsa a 10 mil pontos em dólares”, afirmou o colunista

Às vezes, quase sempre, acho meus textos longos demais. Talvez eu seja apenas prolixo. Talvez seja falta de tempo. Faço longo por falta de tempo de fazê-los curtos. Mais provável que a incompetência decorra da soma das duas coisas.

Por conta do feriado, tive um pouco mais de tempo e, por isso, hoje vai ser mais curto. Com mais tempo na agenda, tenho espaço para mais reflexões. Sem a pretensão de que elas venham acompanhadas de respostas. Como diria meu professor Luizinho, importam as perguntas. Tenho pena daqueles portadores de tantas certezas, desprovidos da capacidade de questionar, inclusive a si mesmos.

Sabe, eu fico pensando… será mesmo que os mercados se comportam em ciclos, em grandes ondas longas, que duram anos, em que a próxima onda sempre toca o máximo e/ou o mínimo anterior? Eu tenho essa dúvida porque, conforme me lembrou o Pedro Cerize, que é um gênio, se nós estivermos na quinta onda do Ibovespa, vamos lá superar os 40 mil pontos em dólar. Mas — e esse é um grande mas — se nós ainda estivermos na quarta onda, devemos caminhar para os 9.000 pontos em dólar.

Pode parecer assustador, mas me vêm tantas combinações possíveis à mente. 60 mil com R$ 6,50 por dólar; 65 mil com R$ 6; e por aí vai. Claro que parece distante agora. Sempre parece ex-ante. Mas, objetivamente, 62 mil pontos bateu outro dia. Some a isso uma eventual crise institucional doméstica com o segundo teste da mínima lá fora, típica dos bear markets, e estaremos lá. Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo o que fizemos, talvez ainda sejamos os mesmos. Depois de tudo, o risco é descobrirmos que ainda somos o Brasil de sempre nas crises: juro de 6% e Bolsa a 10 mil pontos em dólares.

Uma outra provocação que tem sido perturbadora para mim: estariam mesmo as ações subindo nas últimas semanas ou seria o dinheiro que está caindo? Ora, o Ibovespa subiu da mínima dos 62 mil pontos para essa faixa atual dos 78 mil pontos. Mas se você colocar aí algum indexador a coisa não é tão simples assim. Veja você mesmo o gráfico do Ibovespa sobre o dólar, sobre o ouro e sobre o bitcoin. O Fed tem limites para o que ele pode comprar.

Dois recados mais pragmáticos para terminar por hoje.

1) Se você é acionista da PetroRio (PRIO3) — e eu me surpreendi com os milhares de acionistas disso —, por favor tome cuidado. Não brinque com fogo. Não subestime a probabilidade de uma junior oil company explodir do dia para a noite.

O mercado de petróleo está simplesmente colapsando e isso vai matar gente pelo caminho. Quem está alavancado e pensava em tocar uma campanha exploratória, tinha isso em seu business plan, está em maus lençóis agora. Existe o risco de esse negócio dividir por três. Você não pode estar exposto a um downside desse tamanho.

2) A postura do controlador da AES Tietê (TIET11) em relação à proposta de fusão apresentada pela Eneva só corrobora o Day One desta segunda-feira (20).

Um absoluto desrespeito aos mais elementares princípios de governança corporativa. Com a carta-resposta ao BNDES negando a convocação de AGE e restringindo a votação da matéria de fusão aos ordinaristas (na verdade, em temas de fusão, o preferencialista deveria votar), a AES rasga seu estatuto e compra uma briga direta com a B3 e o BNDES. Uma vergonha. Perdem todos os demais stakeholders.

CIO e estrategista-chefe da Empiricus
CIO e estrategista-chefe da Empiricus, é ex-professor da FGV e autor da newsletter Day One, atualmente recebida por cerca de 1 milhão de leitores.
CIO e estrategista-chefe da Empiricus, é ex-professor da FGV e autor da newsletter Day One, atualmente recebida por cerca de 1 milhão de leitores.
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