Opinião

Fernanda Consorte: Como está o fluxo cambial brasileiro?

22 out 2018, 16:14 - atualizado em 22 out 2018, 16:14

Por Fernanda Consorte, Estrategista de Câmbio da Ourinvest

Desde que começamos nossas conversas, enfatizo a dificuldade em prever a taxa de câmbio. Porém, não significa que não é possível entender seus movimentos e sua natureza. Nesse sentido, entender e acompanhar o fluxo cambial é primordial para perceber a tendência da taxa de câmbio, ao menos no curto prazo. O fluxo cambial nos sugere se a moeda tem pontualmente força para valorizar ou desvalorizar, sobretudo na ausência de um fundamento muito específico ou indubitável (quando falo isso, me refiro àquele momento em que praticamente todos os agentes apostariam na mesma posição, dado o peso da circunstância).

O fluxo cambial mostra a quantidade de capital ($$$, dindin, grana) que é direcionada para dentro e para fora do país por investidores estrangeiros (volume de divisas externas). Dessa forma, fluxo de capital positivo (mais entrada de dinheiro do que saída) é essencial para as economias emergentes, pois contribui para o aumento de investimentos e para o financiamento de eventuais déficits. Além de sugerir que o investidor estrangeiro está interessado no país. Assim, um fluxo cambial positivo tende a aumentar a quantidade de dólar (a oferta de dólar) no país, diminuindo a pressão compradora, o que faz com que o real tenha uma tendência de apreciação (queda da taxa de câmbio). Por outro lado, fluxo cambial negativo tende a diminuir a oferta de dólar no país, aumentando a pressão compradora, e, portanto, sugere depreciação do real. Ou de forma simples, menor interesse dos investidores estrangeiros pelo país.

Entre janeiro e a primeira dezena de outubro, o fluxo cambial brasileiro está positivo em US$ 20,3 bilhões, com uma concentração forte de entrada líquida de recursos em abril (que somou R$ 14,4bi). Enquanto entre agosto e setembro, no auge das incertezas acerca das eleições presidenciais, tivemos um fluxo cambial negativo de US$ 10,4bi. Falemos um pouco mais…

O fluxo cambial é dividido entre comercial e financeiro, conforme observado no gráfico acima. Sendo o primeiro com movimento mais sutis que o segundo, pois se trata da compra e venda de bens e serviços. Eu, particularmente, gosto de acompanhar o movimento do fluxo cambial financeiro (somatória de IED, investimentos em carteira, investimento em derivados financeiros, ativos de reservas e outros), pois entendo que usualmente ajuda a explicar se a tendência corrente da taxa de câmbio será mantida ou não.

Por exemplo, o fluxo financeiro começou a ficar constantemente negativo a partir dos últimos dias de julho, justamente quando iniciaram as conversas, notícias de campanha eleitoral e instalou-se um nível muito forte de incerteza na economia. E seguiu assim até dia 03/outubro, quando as pesquisas eleitorais passaram a mostrar que havia crescido muito a rejeição ao candidato menos favorável ao mercado. E, não à toa, a taxa de câmbio caiu do patamar de US$/ R$ 4,00. E aqui estamos, com o mês de outubro acumulando um fluxo financeiro positivo de US$ 2,6 bilhões. Vejam, não conseguimos afirmar que a partir dessa informação a taxa de câmbio seguirá caindo, mas podemos sugerir que, com o fluxo atual, não há força depreciativa no mercado, na ausência de fundamento.

Nota da Autora

Talvez existam pessoas que tenham o heroísmo (ou a cara de pau?) de fazer projeções com forte grau de convicção para a taxa de câmbio brasileira. Eu, economista de formação, com mais de 10 anos andando nesse mercado de inconstâncias, prefiro dizer que sou capaz de dar opiniões, quiçá direções para essa variável. Humildade posta, eventualmente tomarei a frente para dar opiniões sobre fatos que podem gerar consequências no mercado, tentando desvendar quem vem primeiro: o ovo ou galinha.