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Fim da Americanas (AMER3)? Veja quais seriam os impactos para o consumidor e o mercado

16 jan 2023, 11:42 - atualizado em 16 jan 2023, 11:42
Lojas Americanas
Entenda os impactos de um possível encerramento da Americanas (Imagem: Flávya Pereira/Money Times)

O fim de tarde da última quarta-feira (11) foi traumático para o mercado financeiro e até mesmo para quem está fora da bolha.

O anúncio de um rombo nas Lojas Americanas na ordem de R$ 20 bilhões, que foi posteriormente revisado para até R$ 40 bilhões, seguido da renúncia de Sergio Rial com menos de dez dias úteis à frente da empresa como CEO, não só foram assuntos da empresa especializada, mas também de grandes veículos e de um nicho da sociedade que é alheio às notícias que envolvem o mercado financeiro.

As Lojas Americanas, que emitiram um comunicado recorrendo ao eufemismo ao sinalizar haver ‘inconsistências contábeis’ em seus balanços, enfrentam um cenário nebuloso, pois ainda não se sabe o que deve ser feito – venda de ativos, conversão de dívidas em ações, aporte de capital e a própria recuperação judicial são algumas das probabilidades.

Mas, ainda que tenha grande musculatura, não se descarta o pior: o encerramento das atividades.

Como o consumidor brasileiro poderia ser impactado pelo fim das Lojas Americanas?

Diferente de empresas como Arapuã, Lojas Brasileiras, Ricardo Eletro, Varig, Vasp, Transbrasil, Luigi Bertoli, entre outras, que ou faliram, ou estão em processo de recuperação judicial, a Americanas, enquanto loja física, não conta com concorrentes diretos.

Seu posicionamento transcende por várias atuações – e talvez isso explique a sua baixa performance, afinal, se o seu modelo de negócio fosse rentável, existiriam outros players.

A Americanas conta com cerca de 1800 lojas, entre as de modelo tradicional, Americanas Express e Local – um gigante sob qualquer viés de análise. E são diversos os comportamentos de seus clientes.

Quem nunca soube de histórias (ou até mesmo recorreu à prática) de ir às Americanas comprar doces, salgados e refrigerante antes de ir ao cinema nos shoppings, afinal os preços cobrados eram muito mais baixos que nas bombonieres?

E qual mulher (ou até mesmo homens, ainda que em menor proporção) não aproveitavam o horário de almoço ou pós-expediente para comprar algum item na Americanas (como um shampoo, desodorante, cosméticos, produtos de cama, mesa e banho) antes de pegar a condução de volta para casa?

Americanas
(Imagem: Money Times/ Gustavo Kahil)

Ainda que a Americanas não fosse referência em alguns desses itens, a facilidade que o consumidor tem de encontrá-los a poucos passos faz com que muitos aceitem até mesmo pagar um pouco mais caro e poupar um novo deslocamento.

Atualmente não há players no mercado que tenham um portfólio tão completo para todas essas situações – e menos ainda com tamanha capilaridade.

Magalu, Pernambucanas, Carrefour (sobretudo na bandeira Express) ou até mesmo varejistas locais podem ser considerados concorrentes, mas por fatias: não há um rival que permita que o cliente encontre em um só espaço shampoo, chocolate, refrigerante, toalhas, chinelos, roupas íntimas, TVs e notebooks.

A joia da coroa: o poderoso data lake da Americanas

Assim como o peso da marca e os seus ativos tangíveis, como imóveis, a Americanas tem um poderoso data lake que certamente é objeto de desejo de qualquer varejista ou instituição bancária.

Em 2021, a empresa anunciou ter unificado todos os dados de seus clientes em um único data lake. A gestão ocorre pela Microsoft, por meio da plataforma Azure. Tal estratégia foi adotada não só para facilitar o dia-dia da operação e reduzir custos, mas também para dar sequência ao plano de combinação de ativos entre Lojas Americanas e B2W.

Com o rastreio do comportamento do cliente em todos os canais de contato, a Americanas passa a conhecer como poucos quem é, de fato, o seu público, qual é a jornada que percorre e os hábitos de compra que possui.

Grandes varejistas, independentemente de onde atuam, já têm a consciência de que a coleta de dados, com a máxima granularidade possível, somada à curadoria com acuracidade, são as frentes que realmente vão embasar a adoção de estratégias corretas para a perenidade do negócio.

Em um movimento que teve empresas como a Amazon como precursoras, varejistas como Magalu, Grupo Pão de Açúcar, Renner e Riachuelo já vêm apostando há alguns anos em formas de captar e trabalhar com os milhões de informações que seus clientes fornecem em cada visita ou compra aos seus canais – tanto remotos como físicos.

Mercado imobiliário: quem vai absorver o espaço de mais de 1800 lojas?

O mercado imobiliário também será fortemente afetado com um eventual fim das Lojas Americanas. Ainda que existam diversos modelos de ocupação dos espaços (tanto próprios como locados e, quando locados, não são pertencentes a um único dono), a absorção não será rápida e, em determinados locais, a vacância pode ser longa.

Segundo cálculos do BTG e em texto melhor explicado por Flavya Pereira, uma loja típica da Americanas possui ABL (área bruta locável) média de 1 mil a 1.500 metros quadrados:

O alerta do BTG para shoppings que têm Americanas (AMER3) como inquilina.

Esse poderá ser mais um golpe no setor, que ainda vem se recuperando por conta da pandemia, das restrições decorrentes dela e do avanço do comércio online.

(Foto: Flávya Pereira/Money Times)

Com a Saraiva reduzindo drasticamente o número de pontos de venda, marcas como a Centauro e Livraria da Vila, trataram de ocupar seus espaços.

Mas agora falamos de números com outras dimensões: a Saraiva, em seu auge, tinha aproximadamente 120 lojas – menos de 10% das que a Americanas possui hoje.

Além do inevitável baque no sortimento de produtos, já que o consumidor não poderá mais, ao menos em um curto prazo, recorrer a um único endereço para fazer compras, talvez seja necessário o fatiamento dessas lojas em pontos de venda menores – saída razoável para atrair mais lojistas.

Um cenário negativo para todos

Independentemente da opinião do leitor sobre os acionistas de referência Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles, é fato que um eventual fechamento das Americanas seria nocivo para todos.

Estamos falando de mais de 40 mil colaboradores espalhados pelo Brasil, os quais seriam dificilmente absorvidos por outras empresas a curto ou médio prazo. O encerramento das operações de um competidor favorece quem está no mercado, mas nunca o consumidor final.

Os concorrentes podem expandir pelas lacunas da Americanas, mas com menos pressão pelo preço mais baixo e até mesmo com prováveis demissões, que ocorrem quando há sobreposição de lojas (que ocorrem quando o concorrente já possui um ponto de venda próximo ao da empresa adquirida e opta pelo fechamento de uma das unidades).

O desafio será árduo e envolve a necessidade de aportes bilionários, além de uma completa reengenharia do negócio. Mas, como consumidor, torço pela recuperação imediata da Americanas.

João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.
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João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.
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