Gestoras de Recursos

Gestora previu vitória apertada de Lula, acertou sobre minério de ferro, e agora vê oportunidade em outra commodity

06 mar 2023, 12:01 - atualizado em 12 mar 2023, 12:52
Victor Alcalay, analista e sócio da RPS, conversou como o Money Times e revelou a estratégia para passar por um 2023 ainda difícil (Imagem: Divulgação)

O ano de 2022 não foi fácil para a indústria de fundos. Enquanto a Selic disparava para 13,75%, os fundos de investimentos sangravam, com resgate que totalizou R$ 168 milhões, o maior em 14 anos, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Quem mais sofreu foram os segmentos de ações e multimercados. Por outro lado, os fundos de renda fixa, como o esperado, conseguiram se sair bem, já que naturalmente ganham com os juros altos. Porém, uma gestora conseguiu se destacar e terminar o ano bem acima do seu benchmark.

A RPS, com o seu RPS Long Bias Selection, encerrou 2022 com uma alta de 22,2%, o terceiro melhor fundo multimercado do país, de acordo com dados da Quantum.

A fórmula do sucesso? Apostar contra a bolsa nos Estados Unidos, prever a alta no primeiro semestre e a queda no segundo do minério de ferro e acertar sobre a vitória apertada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (institutos de pesquisa davam uma vitória de Lula muito menos apertada).

Victor Alcalay, analista e sócio da RPS, conversou como o Money Times e revelou a estratégia para passar por um 2023 ainda difícil. Uma das apostas é outra commodity: o petróleo.

Veja a entrevista a seguir:

Money Times: Como vocês conseguiram ter um desempenho positivo em 2022?

Victor Alcalay: Olhar as tendências macros para depois ver as tendências micros. Passamos o ano passado vendidos em bolsa americana e conseguimos operar bem o ciclo de commodities. O segmento foi bem no primeiro semestre. Mas quanto a gente viu que a China ia dar para trás, conseguimos realizar lucros.

Eleições: antes, em junho, o mercado achava que a chance de Bolsonaro não ser reeleito era pequena. Compramos um pouco de estatais. Depois, o mercado viu que chances de ganhar era maior. Compramos Banco do Brasil e Petrobras e vendemos depois das eleições. Foi mais um ajuste de percepção de risco.

Acertamos também em empresas que divulgaram bons resultados, como Hipermarcas, Sabesp (SBSP3) e Arcos Dourados. Apesar do ano difícil, mostraram resiliência.

Money Times: 2023 será pior que o esperado?

Victor Alcalay:  É muito cedo achar que a batalha está ganha com a inflação. Não é tão simples assim. Os dados mais recentes que estamos vendo é que a economia americana continua forte.

Se isso acontecer, bolsa americana continua sofrendo. A assimetria de estar comprado hoje não nos parece boa. No relativo, a bolsa americana até que performou bem no ano. Mas não parece atrativa nesse preço. Com tudo isso, continuamos vendidos.

Money Times: Como vocês estão enxergando a condução da economia pelo ministro Fernando Haddad? Ele está surpreendendo?

Victor Alcalay: Ele tem demonstrado ser um dos integrantes com mais disciplina no fiscal. A surpresa, na margem, é positiva. Talvez o que preocupa é o quanto de apoio ele vai ter para exercer todas as funções e as estratégias que planejou. A parte política é mais complicada, mas (Haddad) surpreendeu positivamente sim.

Money Times: E como estão avaliando o presidente Lula?

Victor Alcalay: Esse governo tem uma vontade muito grande de acelerar a economia. E para isso, toma medidas mais populares mirando o curto prazo,  se preocupando menos com o fiscal e mais com a economia.

Para você conseguir trazer o capital estrangeiro precisa passar uma sinalização de responsabilidade fiscal para o mercado. Essa ansiedade de acelerar a economia prejudica o desempenho.

Money Times: Há espaço para os juros caírem aqui no Brasil?

Victor Alcalay: Enxergamos haver espaço para a Selic cair um pouco se o governo tomar a atitude certa com a substituição do diretor do Banco Central, se indicar e mostra independência do Banco Central. Tem espaço, dado que o juro está bem restritivo.

Money Times: Como enxergam Bolsa? Está barata?

Victor Alcalay: Em termos de valuention, tem muita coisa barata. Tem oportunidades, desde que o governo indique essa responsabilidade fiscal e tome as medidas certas para que o fluxo venha para a bolsa e as pessoas se preocupem menos com essa parte fiscal.

Money Times: Investem em ações? Quais?

Victor Alcalay: Gostamos bastante do setor de saneamento, que é mais defensivo e depende menos da economia, como Sabesp e Copasa (CSMG3).

Estamos mais negativo em consumo de forma geral, principalmente para as empresas mais alavancadas.

Estamos mais otimistas com petróleo, com a demanda na China fazendo o petróleo reagir mais cedo ou mais tarde, e com restaurantes.

Entre as empresas, 3RPetroleum (RRRP3) e PRIO.

Money Times: 2022 foi um ano ruim para a indústria de fundos, com restastes históricos; acham que o pior já passou?

É muito difícil competir com uma taxa de juros de 13%. À medida que juros caírem, o mercado para a indústria deveria melhorar. A condição para melhorar é essa. Se os juros não cair por algum motivo, a indústria seguirá ruim.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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