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Há 5 anos sem pagar juros, títulos de dívida da Samarco têm rali

01 mar 2021, 11:24 - atualizado em 01 mar 2021, 11:24
Samarco
Mesmo em uma época de grande agitação nos mercados financeiros globais, o tamanho do rali é inesperado (Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Uma das apostas mais quentes em dívida de mercados emergentes não paga um centavo de juros há cinco anos.

Os preços dos títulos emitidos pela Samarco Mineração, a empresa produtora de minério de ferro de propriedade conjunta da Vale e da BHP Group, dispararam para 83 centavos por dólar de apenas 34 centavos no início da pandemia de Covid-19, entregando aos credores um retorno de 144%.

Existem vários fatores que impulsionam a alta: os preços do minério de ferro estão subindo; executivos da Samarco começaram a preparar um plano de reestruturação da dívida; e a mina está finalmente produzindo novamente, embora apenas uma fração do que produzia antes do estouro da barragem em 2015 que matou 19 pessoas e destruiu grande parte de duas vilas.

Mesmo em uma época de grande agitação nos mercados financeiros globais, o tamanho do rali é inesperado. Os títulos estão sendo negociados apenas alguns centavos a mais do que nos dias anteriores à catástrofe. Os banqueiros que assessoram a Samarco e seus acionistas foram pegos de surpresa.

Eles veem o preço de 83 centavos como muito mais alto do que o valor que será oferecido na reestruturação da dívida, segundo pessoas com conhecimento direto do assunto que pediram para não ser identificadas.

A única maneira de o preço atual fazer sentido, disseram eles, é se a Vale e a BHP injetassem novo capital na Samarco para ajudar a pagar a dívida, algo que eles insistem que não vai acontecer. A empresa precisa reduzir sua dívida de US$ 3,8 bilhões e ajustar seu cronograma de pagamentos para refletir seu novo tamanho menor, disseram as pessoas.

Os banqueiros estão claramente tentando moderar as expectativas – mas o interesse dos investidores nos títulos continua alto. Uma difícil negociação de reestruturação da dívida pode ser retomada em breve.

“Os detentores de títulos simplesmente não vão aceitar haircut, pois a Samarco tem dois acionistas saudáveis ​​que eles acham que poderiam injetar dinheiro”, disse Carlos Gribel, managing director da Andbanc Brokerage em Miami. “Para chegar a um acordo, eles poderiam concordar com um adiamento nos prazos de pagamentos, por exemplo.”

BHP, Vale, Samarco e o banco de investimento Houlihan Lokey Inc., de Nova York, que assessora um grupo de detentores de títulos, não quiseram comentar.

Para colocar o rali dos papéis da Samarco em perspectiva, os títulos de empresas de matéria-prima de mercados emergentes retornaram cerca de 33% desde 7 de abril na média, enquanto os papéis de dívida externa do governo brasileiro renderam 11%, de acordo com os índices Bloomberg Barclays. Os preços do minério de ferro saltaram mais de 10% somente neste ano.

Alguns credores da Samarco não estão dispostos a esperar por uma reestruturação extrajudicial e estão entrando com ações na Justiça.

Um grupo de detentores de títulos da Samarco entrou com uma ação em Nova York em outubro pedindo à empresa o pagamento de mais de US$ 2,7 bilhões em principal e juros. O escritório de advocacia Davis Polk & Wardwell está representando os credores em Nova York, enquanto a Samarco está sendo assessorada pelo Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP.

Alguns litigantes que buscam receber empréstimos de pré-pagamento à exportação têm sido mais bem-sucedidos na Justiça brasileira.

O juiz Jeferson Maria em Belo Horizonte decidiu em 8 de fevereiro que a Samarco precisa pagar uma nota promissória de US$ 125 milhões com vencimento em 3 de dezembro para o York Global Finance BDH, LLC.

As notas foram usadas como garantia em um empréstimo do Mizuho Bank Ltd. em 2013, que foi vendido ao York em 21 de junho de 2018, de acordo com documentos judiciais. A empresa ainda pode entrar com uma ação para suspender o processo de execução.

Os escritórios Padis Mattar Advogados e Ferro, Castro Neves, Daltro & Gomide Advogados representam o York no Brasil, enquanto o Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados representa a Samarco.

Alguns credores de outros US$ 1,6 bilhão em pré-pagamento à exportação e outras dívidas estão planejando ir aos tribunais no Brasil após o sucesso do primeiro processo, disse uma pessoa. Eles são em sua maioria fundos de investimento, depois que os bancos venderam a maior parte de suas participações.

Antes de uma nova rodada de negociações de reestruturação de US$ 2,2 bilhões em títulos de dívida externa com vencimento em 2022 e 2024, um grupo de credores está sendo assessorado pelo Houlihan Lokey. A Samarco está recebendo assessoria do JPMorgan Chase & Co., a Vale está trabalhando com a Moelis & Co. e a BHP com o Rothschild & Co.

Dependendo do desenrolar dos processos, a Samarco pode ser obrigada a pedir recuperação judicial no Brasil, disseram três das pessoas, acrescentando que esse não é o desfecho mais provável por enquanto. A Samarco está preparada para ir à Justiça se seu caixa for apreendido por credores ou se as operações forem prejudicadas de alguma forma por ações judiciais, disseram as pessoas.

Em 4 de fevereiro, a Vale anunciou um acordo de R$ 37,7 bilhões para reparação de danos coletivos causados pelo rompimento de uma outra barragem que matou 270 pessoas em 2019.

“O momento para a Samarco reestruturar todos os seus passivos é muito bom agora, já que a empresa está de volta à produção, o real está fraco e os preços do minério de ferro tiveram uma alta incrível”, disse Rafael Fritsch, diretor de investimentos de fundos distressed da Canvas Capital, com sede em São Paulo, que detêm dívidas da Samarco.

“Os dois acionistas da empresa resolveram algumas de suas questões jurídicas e têm planos de negócios claros, e isso aumenta o otimismo”, disse Fritsch.

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