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Homem mais rico de Hong Kong perde amigos na China e no Ocidente

12 jul 2020, 10:04 - atualizado em 08 jul 2020, 17:11
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Para Li Ka-shing, que acumulou a maior fortuna de Hong Kong ao atravessar a divisão entre China e Ocidente, agora é mais difícil do que nunca manter os dois lados felizes (Imagem: Unsplash/@zhangkaiyv)

Alguns o acusam de ser defensor do movimento pró-democracia de Hong Kong e traidor da China. Para outros – a saber, o governo Trump e seus aliados -, é um partidário do Partido Comunista Chinês em quem não se pode confiar para projetos de infraestrutura crítica.

Para Li Ka-shing, que acumulou a maior fortuna de Hong Kong ao atravessar a divisão entre China e Ocidente, agora é mais difícil do que nunca manter os dois lados felizes.

Enquanto o governo de Pequim enfrenta governos ocidentais em vários temas, como Hong Kong, comércio e coronavírus, o império do bilionário de 91 anos se tornou um importante caso de teste para saber se empresas internacionais podem navegar no que muitos chamam de nova Guerra Fria.

As chances de sucesso diminuem a cada dia, caso o mercado acionário servir de um guia. A CK Hutchison Holdings, a maior parte do império de Li, agora negocia em menos da metade do valor de seus ativos líquidos, o nível mais baixo desde que a empresa foi formada em uma reestruturação de 2015.

As ações acumulam queda de 30% nos últimos 12 meses, contra baixa de 7% no índice Hang Seng de Hong Kong.

Embora Li sempre tenha sido intimamente associado a Hong Kong e à China continental, a CK Hutchison obtém mais de 80% de sua receita do exterior, com boa parte proveniente de setores sensíveis, como energia, infraestrutura, telecomunicações e portos.

Isso torna o conglomerado – juntamente com várias outras empresas, incluindo HSBC Holdings e Swire Pacific – sujeita a um escrutínio político mais intenso do que a maioria das multinacionais com presença importante na China e no Ocidente.

“Este é um ato de equilíbrio delicado”, disse Jackie Yan, professora de estratégia de gestão na Universidade de Hong Kong. “Ele não quer ser visto por órgãos reguladores de países ocidentais como intimamente ligado ao governo chinês.”

No entanto, essa conexão pode ter sido feita em maio, quando uma afiliada da CK Hutchison perdeu uma licitação para construir uma usina de dessalinização de água em Israel que poderia gerar receita estimada de US$ 85 milhões por ano, ou US$ 2,1 bilhões ao longo de sua vida útil.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, alertou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que os EUA estavam preocupados com a participação da CK Hutchison na licitação, segundo um dos maiores jornais de Israel.

“Não queremos que o Partido Comunista Chinês tenha acesso à infraestrutura israelense”, disse Pompeo em entrevista a um canal de TV cerca de duas semanas antes do contrato ser concedido a uma empresa israelense.