Política

Huawei não cumpre requisitos para rede privativa de 5G do governo, diz Fábio Faria

09 mar 2021, 19:29 - atualizado em 09 mar 2021, 19:33
Fabio Faria
As declarações foram dadas em audiência pública do grupo de trabalho (GT) criado pela Câmara dos Deputados (Imagem: Billy Boss – Câmara dos Deputados)

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, afirmou nesta terça-feira (9) que a empresa chinesa Huawei não preenche os requisitos para participar da rede privativa de 5G do governo brasileiro.

Ele acrescentou que essa rede será construída e gerida por uma operadora privada e servirá não apenas ao Poder Executivo, como ao Congresso Nacional, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Procuradoria-Geral da República (PGR).

“É como se todos nós tivéssemos nosso telefone normal, e os servidores de Brasília que trabalham no Congresso, no Executivo, no Supremo teriam um aparelho, e as informações sensíveis, que tenham algum tipo de risco se forem adquiridas por outros países, seriam preservadas”, disse.

As declarações foram dadas em audiência pública do grupo de trabalho (GT) criado pela Câmara dos Deputados para acompanhar a implantação da quinta geração de telefonia celular no Brasil.

O edital do leilão do 5G foi aprovado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) no dia 25 de fevereiro. O documento foi enviado para análise do Tribunal de Contas da União (TCU), e Faria estima que em 60 dias retorne à Anatel.

Participação da Huawei

Questionado pela deputada deputada Bia Kicis (PSL-DF), o ministro deixou claro que a chinesa Huawei atualmente não preenche as condições exigidas pelo governo brasileiro e que teria de mudar a composição acionária para estar apta a vender equipamentos para a construção da rede privativa.

Huawei
O ministro deixou claro que a chinesa Huawei atualmente não preenche as condições exigidas pelo governo brasileiro (Imagem: Reuters/Jason Lee)

Após viagem em fevereiro a China, ele avaliou, no entanto, que a Huawei não tem interesse em participar do projeto.

Na visão do deputado Vitor Lippi (PSDB-SP), não há motivos para restringir fornecedoras de equipamentos de nenhum país, suspeitar de espionagem ou excluir a Huawei.

Fabio Faria destacou, por sua vez, que o Estado estabeleceu pré-requisitos mínimos de segurança e governança e não excluiu diretamente países ou empresas.

“Não excluímos um país como a China, sendo bem direto. Se quiserem participar, que observem o acordo de acionistas deles e, se se adequarem para fazer a rede privativa, entram. Mas é direito do governo escolher que parceiro vai querer”, declarou.

Fábio Faria
“Não excluímos um país como a China, sendo bem direto”, disse o ministro (Imagem: Marcello Casal JrAgência Brasil)

Gestão privada

A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), que coordena o GT e pediu a audiência, defendeu a rede privativa para o governo, mas fez ponderações: “A mim surpreende quando o ministro diz que a gestão dessa rede pode ser feita também por uma empresa privada. Então por que uma rede separada, privativa de Estado, quando quem vai fazer a gestão será o setor privado?”.

Ele respondeu que o governo não quer arcar com os gastos de construir e gerir a rede. “Não quero que o ministério faça isso, é um valor muito alto, é praticamente o valor anual que temos na pasta”, explicou.

De acordo com o ministro, o valor estimado da rede será de R$ 780 milhões a R$ 1 bilhão, e só haverá participação da empresa pública Telebras se não houver interesse das empresas privadas.

Custo-benefício

Fabio Faria, que é deputado federal licenciado, prevê a instalação 3.800 antenas de 5G do tipo standalone nas 27 capitais até julho de 2022.  As redes desse tipo não permitem a reutilização da rede 4G, e exigem investimento novo por parte das operadoras. A aplicação de recursos na 5G deverá ser paulatino, até 2028.

O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) questionou a exigência de que a rede seja standalone. Para ele, o nível de exigência poderia ser mais baixo, e a relação custo-benefício pode não valer no caso brasileiro.

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O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) questionou a exigência de que a rede seja standalone (Imagem: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

“Vivemos em um país desigual, que tem urgência e baixo orçamento”, sustentou. O ministro argumentou que as redes standalones são essenciais para a prestação da telemedicina e para carros autônomos. “Não podemos abrir mão de tecnologia.”

Faria ressaltou ainda que o edital da Anatel estabelece compromissos de investimentos que obrigam as empresas vencedoras do leilão a atenderem com tecnologia 4G todas as localidades com mais de 600 habitantes, além de cobertura de 48 mil km de rodovias, e aportes da ordem de R$ 1,5 bilhão para a implementação de redes de fibra óptica na Região Norte.

De acordo com o ministro, o 5G é focado não em atender o usuário residencial, mas, sim, empresas e indústrias, a fim de conectar “coisa com coisa”, a exemplo de máquinas e sensores.

Novas audiências e regulamentação

O grupo de trabalho da Câmaa aprovou requerimentos do deputado Vitor Lippi para a realização de novas audiências sobre a tecnologia 5G, incluindo debate com a empresa Qualcomm; discussões sobre impactos do 5G no agronegócio brasileiro; e questões de infraestrutura e equipamentos.

Na reunião de hoje, Lippi cobrou a regulamentação, pelo ministério da Comunicações, de norma aprovada pelo Congresso (Lei 14.109/20) que permite o uso de parte de recursos do Fust para fundo de aval a pequenas empresas de telecomunicações.​

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