Ibovespa: BEEF3, CSAN3 e UGPA3 lideram altas; BTG aponta ações que ganham com ‘novo dólar’
As ações de frigoríficos e exportadoras lideravam as altas do Ibovespa na manhã desta sexta-feira (29). Por volta de 11h37, quando o índice recuava 0,40% e dólar futuro avançava 1,09%, em R$ 6,106. No mesmo horário, Minerva Foods (BEEF3), JBS (JBSS3) e Vale (VALE3) lideravam as altas, avançando 6,62%, 3,05% e 2,21%, respectivamente.
No fechamento desta sexta, destaque para altas de Minerva, Cosan (CSAN3), Ultrapar (UGPA3) e Braskem (BRKM5), que avançaram 7,54%, 5,38%, 4,97% e 4,46%.
A disparada câmbio deve-se à reação negativa do mercado ao pacote de corte de gastos, anunciado na quarta-feira (27) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que prevê economia de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos.
- Dólar batendo recorde; quem ganha e quem perde? Veja os impactos e as oportunidades com a alta do câmbio, no Giro do Mercado:
Alguns analistas já projetam uma taxa básica de juros mais alta para reancorar as expectativas do mercado, com a curva futura de juros precificando uma Selic de 14%, tema abordado pelo diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo.
Quem ganha com o novo dólar?
Em seu relatório sobre o setor de alimentos, bebidas e agronegócio, o BTG Pactual apontou os impactos nos fluxos de caixa de médio prazo das empresas brasileiras com um nível de câmbio sustentavelmente mais alto no Brasil. O banco assume um cenário base de um dólar em R$ 5,5 para 2025.
“Embora reconheçamos que há diferentes maneiras de analisar o impacto da variação cambial em empresas com exposição cambial operacional/de balanço, acreditamos que esta é a abordagem correta, pois consideramos os impactos de caixa na receita, custos e dívida, assumindo que o real é a única variável na análise e que as taxas de câmbio médias de médio prazo e de fim de período convergirão”, explicam Thiago Duarte e equipe.
Melhor cenário para exportadoras
Segundo os analistas, o valor da maioria de exportadores de proteínas e empresas com operações no exterior (Minerva, JBS e BRF) deve ser impactado positivamente. O oposto é verdadeiro para empresas com operações domésticas e custos denominados em dólar (principalmente M. Dias Branco (MDIA3).
No caso da Ambev (ABEV3), os impactos negativos de custo são atenuados pelo fato de que ela gera cerca de 43% das vendas em outros países além do Brasil, o que implicaria um efeito positivo ao traduzir esses números para real.
“A Marfrig é a única exportadora que sofre um impacto negativo da depreciação cambial em seu valor de dívida pendente. Enquanto outros exportadores veem seus ganhos de Ebitda mais do que compensando as maiores despesas financeiras, as margens baixas da Marfrig e a dívida líquida denominada em dólar de R$ 14 bilhões significam que a depreciação do real afeta negativamente o fluxo de caixa da empresa”, pontuam.
O cenário para o agronegócio
No agronegócio, a SLC Agricola (SLCE3) se beneficia mais da depreciação do real devido às suas pesadas receitas denominadas em dólar (parcialmente compensadas pelos custos denominados na moeda).
Quanto a empresas de açúcar e etanol, como Cosan (CSAN3), Raízen (RAIZ4), Jalles (JALL3) e São Martinho (SMTO3), é necessária uma análise mais sofisticada.
Os analistas explicam que, historicamente, um real mais fraco não deveria impactar as empresas, já que os preços dos produtos é denominado em real (o Brasil é um formador de preços historicamente), o que significa que os preços de exportação não devem mudar muito com base em uma moeda mais fraca.
No entanto, esse cenário mudou nos últimos anos, com a correlação multianual entre açúcar e etanol agora desaparecida.
“Considerando isso, agora assumimos que nossa receita de açúcar é exposta em dólar (já que a maior parte do açúcar produzido no Brasil é exportada). Do lado do etanol, os investidores podem argumentar que os preços podem variar junto com o câmbio, dado que os preços da gasolina devem fazer o mesmo”, pontuam.
Ainda assim, o BTG continua a ver o açúcar como o principal impulsionador de longo prazo dos preços do etanol, dada a flexibilidade das usinas para mudar a mistura.
“Se a Petrobras decidir repassar taxas de câmbio mais altas para os preços da gasolina, a alta para o etanol pode ser ainda maior”.