Ibovespa fecha em queda com petróleo e quadro fiscal, mas e-commerce atenua perda

O Ibovespa (IBOV) fechou em baixa nesta quarta-feira, marcado por falta de apetite a risco e queda do petróleo no exterior, além de receios com o cenário fiscal no país, em meio a um ambiente ainda de incertezas com a pandemia de Covid-19. A perda, contudo, foi amenizada pela disparada de ações de ecommerce e ações de mineração e siderurgia.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,51%, a 79.063,68 pontos, de acordo com dados preliminares, após chegar a 79.996,04 pontos na máxima e recuar à 78.055,82 pontos na mínima. O volume financeiro somou 21,7 bilhões de reais.
Na visão da equipe de análise técnica do Itaú BBA, o Ibovespa precisa superar a resistência inicial em 81.000 pontos para retomar o movimento de alta em direção à máxima deixada na última semana em 83.600 pontos, conforme relatório a clientes.
A sessão teve de pano de fundo decisão da Fitch na véspera de cortar para “negativa” a perspectiva do rating do Brasil, citando que a deterioração econômica e fiscal e ruídos políticos podem afetar a capacidade do governo de ajustar as contas públicas e implementar reformas após a pandemia.
O corte ocorreu no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de auxílio a Estados e municípios, com repasses de 60 bilhões de reais e suspensão de dívidas que elevam o impacto total a aproximadamente 120 bilhões de reais. O projeto, que sofreu alterações, segue para o Senado.
“A alteração da Câmara no projeto de socorro aos Estados denota a volatilidade política e, ao ampliar os servidores sem corte de salário, indica menos compromisso com impacto nas contas”, observou a Tullett Prebon Brasil, em nota a clientes.
Notícias corporativas, como os balanços e previsões de Gerdau (GGBR4) e Vivo (VIVT3;VIVT4), também ocuparam as atenções na sessão, que acabou com agentes financeiros na expectativa de um corte na taxa Selic para uma nova mínima de 3,25% ao ano.
Para a equipe do BTG Pactual, o momento ainda é de muita cautela e incertezas no Brasil, onde veem a expectativa de crescimento nos próximos anos se reduzindo a cada dia, enquanto avaliam que a saída da quarentena deverá ser mais lenta e mais longa do que o esperado.
“Fica a dúvida quanto o atual patamar de preços que está já precificando essa saída ou até uma recuperação”, observou a equipe do banco em nota a clientes enviada pela área de gestão do banco.
Wall Street teve uma sessão volátil e o S&P 500 fechou em baixa de 0,7%. Dados mostraram que os empregadores do setor privado dos Estados Unidos demitiram um recorde de 20,236 milhões de trabalhadores em abril.

Destaques
– Petrobras (PETR3; PETR4) recuaram 3,68% e 3,91%, na esteira do declínio dos preços do petróleo no mercado externo, onde o Brent cedeu cerca de 4%. A companhia informou que elevará o preço médio da gasolina cobrado das distribuidoras nas refinarias em 12% a partir de quinta-feira, na primeira alta do combustível fóssil desde 20 de fevereiro. O Credit Suisse citou que o aumento é um sinal positivo, mas ponderou a gasolina e o diesel da empresa ainda estão 6% e 9% abaixo da paridade de importação.
– Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) caíram 2,03% e 2,08%, respectivamente, com o setor como um todo em baixa. Os dois bancos divulgaram recentemente aumento em suas provisões contra possíveis perdas com empréstimos em meio à crise desencadeada pelo Covid-19. Banco do Brasil (BBAS3), que divulga balanço na quinta-feira, antes da abertura, fechou em baixa de 2,91%. Entre os papéis do setor no Ibovespa, BTG Pactual (BPAC11) liderou as perdas, com queda de 4,57%.
– Embraer (EMBR3) recuou 4,53%, a 7,16 reais, no menor preço de fechamento desde julho de 2009, conforme segue pressionada por incertezas após o fracasso das negociações com a Boeing.
Na véspera, a Embraer disse que avalia possível financiamento inclusive com o BNDES. Fontes afirmaram recentemente à Reuters que ela pode obter um crédito de 1 bilhão a 1,5 bilhão de dólares junto ao banco de fomento e bancos comerciais para capital de giro e financiar a exportação de aeronaves.
Duas fontes ouvidas pela Reuters afirmaram nesta quarta-feira que a Embraer contratou o Itaú BBA em um mandato que inclui as discussões com o BNDES, mas pode ser expandido para busca de soluções estratégicas para a empresa.
– Cemig (CMIG3) perdeu 4,65%, também entre os destaques negativos, com o setor elétrico como um todo em baixa. De acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, o governo quer separar os custos envolvidos na operação bilionária de socorro ao setor elétrico, em meio à crise trazida pelo covid-19, para evitar que a conta fique toda com os consumidores. A ideia é dividir o que seria pago pelas distribuidoras e o repasse nas contas de luz. Equatorial (EQTL3) recuou 3,03%.
– Gerdau (GGBR4) fechou em alta de 1,13%, em sessão na qual trocou de sinal algumas vezes, após divulgar queda de cerca de 50% no lucro do primeiro trimestre e corte nos planos de investimentos para 2020. Em teleconferências, executivos da companhia afirmaram ver início de recuperação, mas ainda assim esperam um segundo trimestre mais fraco do que o primeiro. No setor de siderurgia e mineração, Vale (VALE3) subiu 1,44% e CSN (CSNA3) avançou 1,76%, enquanto Usiminas (USIM5) perdeu 0,43%.
– CVC (CVCB3) caiu 5,89%, tendo de pano de fundo alta contínua do dólar ante o real, que flertou com os 5,70 reais nesta sessão, e o cenário ainda hostil para o setor de turismo em razão da pandemia.
– B2W (BTOW3) disparou 19,13%, em sessão de alta do setor de varejo, após balanço do primeiro trimestre e sinais de aceleração de vendas em abril divulgados pelo Mercado Livre, que tem ações negociadas em Nova York. A B2W e a sua controladora Lojas Americanas divulgam resultado na quinta-feira, após o fechamento. Lojas Americanas (LAME4) subiu 7,36%. Ainda no setor, Magazine Luiza (MGLU3) e Via Varejo (VVAR3) avançaram 9,86% e 3,20%, respectivamente. Mercado Livre saltou 19,6%.
– Tim Participações (TIMP3) recuou 2,23%, após reportar na véspera lucro líquido 8,3% maior no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. A operadora disse ainda que está avançando com sua estratégia de negócios, que inclui aquisições, apesar dos efeitos mistos que o coronavírus está causando em suas operações.A Vivo (VIVT3;VIVT4) cedeu 0,3%. A companhia reportou mais cedo queda de 14,1% no lucro líquido do primeiro trimestre, conforme maiores despesas com impostos e depreciação ofuscaram esforços para cortar custos e a melhora do desempenho operacional.