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Ibovespa: Já que você que está bancando a saída dos gringos da Bolsa, lembre-se disso

26 out 2023, 16:08 - atualizado em 26 out 2023, 18:14
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Sangue frio: Ibovespa cai, à medida que investidores estrangeiros vendem suas ações para pessoas físicas; e agora? (Imagem: REUTERS/ Amanda Perobelli)

O Ibovespa já acumula uma queda de 3,20% em outubro, considerando-se a diferença entre os 112.830 pontos com que fechou o pregão de ontem (25) e os 116.565 pontos da última sessão de setembro. Boa parte dessa baixa é causada pela forte saída de investidores estrangeiros e institucionais (como fundos de pensão) da Bolsa brasileira.

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Para se ter uma ideia da velocidade com que os gringos e os institucionais estão reduzindo sua exposição a ativos de risco verde-amarelos, basta lembrar que, no acumulado de outubro até o dia 24 (últimos dados disponíveis), os estrangeiros já registram uma saída líquida (compras menos vendas de ações) de R$ 2,7 bilhões, firmando-se como a principal força vendedora do mercado. Já os institucionais somam uma saída líquida de R$ 1,4 bilhão no mesmo período.

Os motivos que afugentam essa turma da Bolsa são mais do que conhecidos: a possibilidade de lucrar com juros altos na renda fixa, um tipo de investimentos mais conservador e, portanto, mais seguro, num momento em que o cenário internacional é sacudido por incertezas geopolíticas, como a guerra da Ucrânia e uma possível escalada da guerra de Israel contra o Hamas, e econômicas, como a inflação alta que castiga diversos países.

Gringos dão adeus ao Ibovespa (com a sua ajuda)

No caso dos gringos, a revoada parte da Bolsa brasileira para os Treasuries emitidos pelos Estados Unidos – um ativo  que o mercado internacional convencionou ser o mais seguro do mundo, a despeito do crescente endividamento do governo americano, dos (tímidos) alertas de agências de classificação de risco e dos constantes riscos de shutdown, ou seja, da paralisação da máquina pública por falta de dinheiro.

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Ainda assim, entre riscos e recompensas, os gringos preferem vender suas posições no mercado acionário brasileiro e investir esse dinheiro nos títulos americanos, à medida que o Federal Reserve aumenta os juros e sinaliza com novas altas. Entre março de 2022 e julho de 2023, o Banco Central americano elevou os juros básicos da faixa de 0,25% a 0,50% ao ano para o intervalo de 5,25% a 5,50%.

Para os brasileiros, que lidam atualmente com uma taxa Selic de 12,75% ao ano, parece uma ninharia. Mas, do ponto de vista dos americanos e de quem investe em seus títulos públicos, sempre acostumados a taxas baixíssimas, a taxa nominal oferecida foi multiplicada por 21 vezes em apenas 16 meses. Seria o mesmo que dizer que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central brasileiro chutaria a Selic para 267,75% ao ano, entre hoje e fevereiro de 2025.

Assim, a alta dos juros americanos é irresistível para os investidores estrangeiros. “Isso provoca uma fuga de capitais do país; tanto é verdade, que vimos uma escalada do dólar”, explica Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. “Mas esse movimento é observado em todo o mundo, e apenas se espraiou para o Brasil”, pondera.

Investidor institucional está escaldado com Bolsa brasileira

Já os investidores institucionais recorrem à renda fixa local para se abrigar das nuvens escuras no horizonte. Afinal, entre arriscar a futura previdência privada dos clientes no mercado acionário, e protegê-la com uma remuneração de, pelo menos, 12,75% ao ano, não há muito o que pensar.

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Spiess lembra que os institucionais até voltaram para a Bolsa, após o rali entre março e julho, quando o Ibovespa acumulou uma alta de 25,16% entre a mínima do ano (97.926 pontos em 23 de março) e a máxima (122.560 pontos em 26 de julho).  Foi um retorno arisco e breve, contudo.

Entra e sai: Veja quem está comprando as ações dos gringos na Bolsa brasileira (em R$ milhões)

Data Estrangeiro Institucional Pessoa física Inst. Financeira Outros
24/10/2023 -252,9 -227,19 75,78 271,59 132,31
23/10/2023 -682,71 325,92 141,21 -5,34 220,92
20/10/2023 -1.936,29 1.393,72 537,37 -220,93 226,13
19/10/2023 -196,73 -44,3 61,7 64,03 115,31
18/10/2023 447,25 -1.104,26 314,21 134,06 208,75
17/10/2023 -312,72 18,28 176,67 137,75 -19,99
16/10/2023 520,52 -476,67 -116,85 69,23 3,77
13/10/2023 405,36 -503,58 225,09 -42,42 -84,45
11/10/2023 483,7 -706,55 2,23 163,9 56,72
10/10/2023 309,55 36,1 -391,6 2,39 43,56
09/10/2023 387,74 -231,65 -371,13 84,24 130,79
06/10/2023 -399,4 234,51 -151,47 218,39 97,97
05/10/2023 -391,69 84,74 144,41 55,57 106,98
04/10/2023 -39,02 -253,4 67,3 80,47 144,65
03/10/2023 -514,24 -188,82 446,99 49,54 206,53
02/10/2023 -557,71 -17,98 380,68 63,69 131,32
Saldo líquido -2.729,29 -1.661,13 1.542,59 1.126,16 1.721,27

Fonte: B3

“Neste patamar de Selic, os institucionais ainda não estão confortáveis com a Bolsa”, observa Spiess. “Eles vieram depois do rali, mas sem convicção, porque ainda estão machucados, diante daquele ciclo muito ruim de julho de 2021 a março de 2023”.

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Como todo estudante de primeiro semestre de Economia sabe, só existe mercado, porque vendedores encontram compradores. Se os gringos e os institucionais saem da Bolsa, quem compra essas ações e ocupa seus lugares? Novamente, vale a pena conferir as posições líquidas na Bolsa até o dia 24 de outubro.

Empresas listadas na Bolsa apostam em si mesmas

Os investidores classificados como “Outros” lideram as compras líquida, com R$ 1,7 bilhão. Em seguida, vêm as pessoas físicas, que já acumulam um saldo positivo de R$ 1,5 bilhão neste mês. A conta fecha com as instituições financeiras, como bancos e gestoras, com R$ 1,1 bilhão.

A grande maioria dos “outros” é representada por empresas listadas na Bolsa com programas de recompra das próprias ações em andamento. Há cerca de 90 deles neste momento. Segundo Spiess, esses programas “são muito bem-vistos, quando o preço da ação está baixo e com múltiplos atrativos”. Assim, as próprias empresas sinalizam para os demais investidores que vale a pena comprar seus papéis.

“Vemos muito disso [recompra de ações] hoje, o que mostra que a Bolsa brasileira está, de fato, atrativa em termos de preço”, acrescenta o analista da Empiricus.

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De certa forma, o mesmo vale para bancos e gestoras, que enxergam no mercado acionários boas oportunidades de investimento. Afinal, como o megainvestidor Warren Buffett afirmou certa vez, é na maré baixa que se descobre quem estava nadando pelado. Bons papéis castigados por um cenário macro adverso são apetitosos para quem sabe onde encontrá-los – caso de gestores profissionais e tesourarias de bancos.

Ibovespa, Bolsa, gringos: o que você tem a ver com isso, afinal?

E, então, chegamos aos investidores pessoa física – o elo que inspira mais cuidados nesta cadeia de compra e venda de ativos de risco. Primeiro, pela diversidade de tipos e interesses que compõe esse grupo. Há quem esteja retornando à Bolsa tardiamente, embalado pelo rali que atraiu estrangeiros e institucionais há alguns meses.

Há, também, aqueles que, com razão, afirmam que a Bolsa segue barata e, portanto, seguem o velho conselho de comprar na baixa para vender na alta. E, por último, há os que têm maior desenvoltura no mundo dos investimentos e buscam teses de qualidade e longo prazo.

Trata-se, sem dúvida, de um movimento bem-vindo, já que o Brasil ainda está muito atrás dos países desenvolvidos, quando se compara o número de pessoas físicas que investem na Bolsa aqui e lá. Mas, como sempre, é preciso cuidado.

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“Lembre-se de que valuation não é um gatilho de curto prazo”, alerta Spiess, da Empiricus. Traduzindo: os bons fundamentos que justificam a compra de uma ação não serão suficientes para impulsionar sua alta no curto prazo. Será preciso paciência – algo que a maioria dos pequenos investidores não tem.

“A menos que essas pessoas estejam comprando teses de qualidade e estejam dispostas a segurar esses ativos por, pelo menos, 12 meses, podem se machucar ao saírem em breve”, lembra ele. Sem esse exercício de paciência, tudo o que o pequeno investidor fará é servir de porta de saída da Bolsa para os estrangeiros e os institucionais, agora, e porta de entrada para os mesmos daqui um tempo, ao vender seus papéis.

“É preciso comprar e manter essa posição, porque, caso contrário, você será só mais um no banquete dos investidores estrangeiros, que podem se dar ao luxo de sair a qualquer preço, porque são muito grandes e as posições brasileiras são pequenas dentro do portfólio deles”, explica Spiess. Resumindo: já que você voltou para a Bolsa, tenha paciência e não saia correndo ao menor sinal de volatilidade. Fazer isso seria o mesmo que chegar, quando uma festa está no fim, e sair antes que outra comece.

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Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
marcio.juliboni@moneytimes.com.br
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