Macro Summit Brasil 2024

Ibovespa: Por que gringos saem do Brasil? Eis o que pensam Stuhlberger e Goldberg

12 abr 2024, 18:56 - atualizado em 15 abr 2024, 16:42

A saída de investidores internacionais é, muitas vezes, determinante para os ativos brasileiros. E, até agora, se tivemos um 2023 com forte entrada, em 2024 parece que o Ibovespa não conta com a mesma sorte.

Até o começo de abril, os resgates dos investidores estrangeiros em ações brasileiras no acumulado do ano bateram em R$ 24 bilhões, eliminando a maior parte dos R$ 38 bilhões de entradas em novembro e dezembro do ano passado.

O que explica este fato? Luis Stuhlberger, gestor lendário da Verde, e Daniel Goldberg, da Lumina, têm algumas teorias.

Em live especial do Market Makers, que encerrou o Macro Summit Brasil 2024, Stuhlberger nota que enquanto a bolsa brasileira em dólar (EWZ) acumula tombo de 9%, outras bolsas sobem bem, como nos Estados Unidos, na Europa e em países emergentes da Ásia.

“E por que os gringos estão tirando dinheiro daqui? Eu não tenho uma explicação para dar”, admite. Apesar disso, o gestor esboça uma teoria: a forte volatilidade trazida pela política.

“Eu aprendi na vida, ao longo desses anos, que os tais gringos são feitos de gente e, tirando quem é dono de um hedge fund ou quem tem uma empresa privada, o cara que está lá em um fundo de pensão, que está lá numa asset grande, é um portfólio manager, vendo o presidente falar semanalmente alguma coisa que gera volatilidade, você senta no lugar do cara e pensa: por que eu vou alocar no Brasil?”, discorre.

Goldberg tem outro palpite, porém: talvez a bolsa brasileira não seja tão barata.

“Eu não vejo essa preocupação do investidor, essa coisa meio antropomórfica ou investidor internacional que lê o jornal e fica preocupado porque o Lira está hoje ralhando com Padilha“, discorre.

Ele diz que é cético com a visão de que o investidor internacional não vem ao Brasil porque está assustado com a instabilidade política.

“Olha o que está acontecendo no mundo, um pouco pior do que a média dos emergentes. Será que está tão barato assim e será que o retorno esperado das classes de ativo que estão largadas justifica elas deixarem a taxa real americana? Eu acho que o Brasil está mais caro do que as pessoas acham”, discorre.

Como vai, Brasil

Questionado sobre como andam as coisas aqui no Brasil, Stuhlberger diz que quando se olha a fotografia, ele está bom. E cita a dívida bruta de 78% do PIB “milagrosamente igual estava em 2019” e a estabilidade política em relação aos outros países emergentes como pontos positivos.

“Como diz Artur Lira, se a Argentina tivesse o centrão, não estaria nessa situação. De uma certa forma, o Executivo que ganha eleição não leva tudo. Existe um certo equilíbrio dos Três Poderes”, argumenta.

Mas há poréns. Entre eles, o juro real mais alto do mundo e uma dívida alta. “Essa é a nossa natureza”.

Por fim, Stuhlberger é categórico: A mediocridade é boa para ganhar dinheiro.

Na outra ponta, Goldberg cita um ponto que, segundo ele próprio, é pouco comentado: a deterioração do ambiente no judiciário.

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“É um assunto super sensível, é super polêmico, você começa a falar disso e é capturado imediatamente por uma agenda política de polarização, mas o que tô discutindo, o que tô pensando não tem nada a ver com o debate do Alexandre Moraes com Elon Musk do Twitter, não tem nada a ver com essa agenda”, coloca.

O que é preocupante, segundo ele, “e eu não tenho nenhum problema em falar disso publicamente, é essa nova lógica, onde todo o grande caso privado que vai para tribunais superiores, precisa ter 12 escritórios de advocacia, 45 pareceristas, tem a torcida do Flamengo e a do Corinthians e a do Palmeiras e a dos Santos, lidam com a prestação jurisdicional como algo que é muito mais incerto e muito menos técnico do que eu vi no passado”, explica.

E finaliza: nos últimos 5 anos no Brasil, as leis melhoraram muito, mas os juízes pioraram bastante.

“E nesta Batalha entre leis e juízes, os juízes sempre serão mais importantes do que as leis. Então para o investidor, isso é uma preocupação importante”, completa.

2026 é agora?

Segundo Stuhlberger, os investidores começam a precificar as eleições para presidência da República de 2026 apenas um ano e quatro meses depois da eleição de Lula, em 2022.

“Eu não ficaria com a posição que eu tenho hoje em um ano de eleição. A questão é: quando que as eleições vão entrar nos preços do Brasil? Vão entrar no meio de 2026, no começo de 2025, no fim de 2025? Elas entraram agora. Ou seja, muito antes do que se esperava. Por que eu digo isso? Você observa claramente os preços na curva pré subindo já a partir desse ano”, explica.

Ele diz ainda que isso era um prêmio de risco que o mercado não considerava e que, agora, passou a enxergar devido a uma “leniência à expansão de gastos”.

“E o Congresso está dizendo claramente: ele pode gastar mais desde que ele dê um pedaço disso aqui para mim”, completa.

Stuhlberger vê Fernando Haddad como um ministro que tem, de fato, se preocupado com a situação fiscal do Brasil.

Porém, diz que há um certo equilíbrio instável. “E por que não fizemos hedge? Eu pensei que esse ano a gente atravessaria mais tranquilo”, completa.

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Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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