No setor financeiro da América Latina, o foco ‘quase total no Brasil’; veja o que importa para os estrangeiros, segundo o BTG

Em viagem aos EUA, analistas do BTG Pactual visitaram clientes em Nova York, Chicago e Flórida e relataram que o interesse por ativos da América Latina continua forte ao falar sobre o setor financeiro — mas com foco quase total no Brasil.
Nas reuniões, os temas que mais chamaram atenção foram valuation do setor financeiro, estratégia do Itaú Unibanco (ITUB4), cenário eleitoral e perspectivas para o Nubank (NU), disse o banco em relatório assinado por Eduardo Rosman e equipe, divulgado nesta segunda-feira (24)
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Segundo os analistas, a América Latina ainda é vista como “vencedora” no cenário global, favorecida pela queda do dólar, potencial eleição de líderes pró-mercado e distância de conflitos internacionais. Mas, diferentemente de outras viagens, investidores demonstraram pouco interesse por outros países da região.
Apesar do bom desempenho dos ativos brasileiros em 2025, o BTG também vê investidores mais cautelosos e seletivos. A recomendação do banco é manter exposição em papéis líquidos e de qualidade. Na carteira recomendada de junho, as apostas seguem com Itaú, Nubank, entre outros.
A XP Investimentos também disse nesta semana ter observado o interesse do estrangeiro nas ações brasileiras ao falar da Bolsa como um todo, mas com uma discussão sobre relação “risco x retorno” de empresas com forte exposição doméstica — com Marcopolo (POMO4), Randon (RAPT4), Gerdau (GGBR4) e Aura (AURA33) entre as mais mencionadas.
Arrefecimento de entusiasmo com setor financeiro e estratégia do Itaú
Entre os principais pontos, chamou a atenção o arrefecimento do entusiasmo com o setor financeiro após a forte performance no ano, disse o BTG, que acrescentou que muitos investidores demonstraram preocupação com o valuation.
O Itaú (ITUB4), que permanece como uma aposta central para muitos fundos, ainda gera dúvidas sobre como poderá destravar mais valor, considerando o múltiplo de 2x preço sobre valor patrimonial, comentou o banco.
Nesse contexto, uma das pautas mais debatidas foi a estratégia do Itaú de migrar 100% da sua infraestrutura tecnológica para a nuvem até 2028, reduzindo a relação custo/receita do braço de varejo de 45% para 35%.
O BTG acredita que essa será uma das principais mensagens no Investor Day do Itaú, marcado para setembro. Apesar de poucos investidores estarem modelando essa transformação, a maior parte tende a manter a ação como posição estratégica no Brasil, confiando no histórico de execução do banco, segundo os analistas.
Nubank é o mais discutido; Bradesco volta ao radar
O Nubank (NU) foi o papel mais discutido nas reuniões — e também a principal recomendação do BTG como ideia de trading.
Segundo o BTG, a maioria dos investidores estrangeiros não sabia da aquisição da Hyperplane ou dos aumentos expressivos nos limites de cartões. Aqueles que tinham ciência mostraram preocupação com a qualidade dos ativos em um ambiente macroeconômico mais desafiador, disse.
Apesar disso, o BTG mantém uma visão mais otimista do que a média.
Ainda conforme os analistas, o Bradesco (BBDC4) voltou ao radar de alguns investidores, especialmente pelo valuation atrativo e pelo resultado acima do esperado no trimestre. Porém, o ceticismo com uma recuperação mais estrutural permanece, disse.
Já o Banco do Brasil (BBAS3) viu o sentimento deteriorar, após um fraco desempenho no primeiro trimestre e aumento da inadimplência no crédito agrícola. Segundo o BTG, surgiram questionamentos sobre a continuidade do pagamento de dividendos, a recuperação dos lucros em 2026 e os impactos das eleições.
O Santander (SANB11), por sua vez, foi pouco citado, com exceção de algumas perguntas sobre um possível fechamento de capital, disse.
Avanço do mercado financeiro com corte da Selic
A expectativa de corte na Selic reacendeu o interesse por ativos ligados ao desenvolvimento do mercado financeiro, disse o BTG. Houve demanda relevante por nomes como BTG Pactual (BPAC11), XP (XPBR31), B3 (B3SA3) e empresas de pagamentos.
A XP tem se consolidado como o principal nome para capturar os efeitos do ciclo de queda dos juros e das eleições, enquanto o BTG é visto como uma alternativa premium, já consolidada nas carteiras, disseram os analistas.
Stone e PagSeguro voltaram ao radar de investidores fora do Brasil, impulsionadas pelos bons resultados, acrescentaram.
Já o Inter (INBR32) foi citado em algumas reuniões, mas com menos destaque. O setor de seguros praticamente não gerou interesse, de acordo com os analistas.