Economia

IPCA: Como a inflação acima das projeções reforça discurso de ‘paciência’ do Banco Central na queda da Selic

12 maio 2023, 12:12 - atualizado em 12 maio 2023, 12:12
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Banco Central aproveitou a ata do Copom para reforçar que os dados recentes da inflação não significam nada para a autoridade monetária. (Imagem: Agência Brasil)

Pelo segundo mês consecutivo, a inflação acumulada em 12 meses se mantém dentro do teto da meta estabelecida pelo governo. No entanto, ao olhar os dados mais de perto, fica claro que o processo de redução dos preços demandará mais tempo do que o esperado.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, subiu 0,61% em abril, desacelerando-se em relação à alta de 0,71% apurada em março. O problema é que o resultado veio bem acima da mediana projetada pelo mercado, de 0,55%.

O indicador acumula alta em 12 meses de +4,18%, de +4,65% no mês anterior, sendo que o resultado também ficou acima da mediana projetada, de +4,18%.

Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, aponta que o destaque dessa divulgação segue sendo a inflação dos núcleos de inflação, que voltou a acelerar no mês de abril. Além disso, a inflação de serviços, por sua vez, é a mais resiliente.

“O número de abril não forma, necessariamente, uma tendência altista para o indicador, mas reforça a dificuldade da desinflação desse grupo de itens da cesta de bens que compõem o IPCA”, afirma.

Os números reforçam um discurso que o Banco Central e Roberto Campos Neto vêm falando: que é preciso ter paciência quando a história é inflação.

Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta semana, destacou que “o processo desinflacionário em seu atual estágio demanda serenidade e paciência na condução da política monetária para garantir a convergência da inflação para suas metas.”

Pressão na inflação

Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena, aponta que a desaceleração na leitura mensal de 0,71% para 0,61% foi puxada pela dissipação da reoneração parcial dos impostos federais sobre combustíveis e do ICMS no cálculo de energia elétrica.

Por outro lado, a pressão altista no mês veio de alimentação no domicílio (leites, carnes e tubérculos), do reajuste de produtos farmacêuticos e de vestuário.

“A natureza da inflação exibiu a mesma figura que o IPCA-15 de abril: piora em relação à leitura do IPCA de março e ao que era esperado para hoje. Essa leitura não é suficiente para mudar a narrativa do Banco Central. A inflação subjacente continua em níveis altos e a velocidade da desinflação segue em cheque, porém não trouxe piora adicional em relação ao IPCA-15 de abril”, disse.

Já Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, aponta que a surpresa negativa do IPCA foi concentrada principalmente em Alimentação e bebidas.

“No grupo, a principal contribuição foi da alimentação e domicílios, que saiu de uma deflação de 0,14% em maio para uma alta de 0,73% em abril. Esse indicador preocupa, pois reflete aquilo que a população realmente não pode abrir mão”, afirma.

Ele ainda destaca que, qualitativamente falando, entre os sinais que a inflação apresentou uma composição pior estão:

  • Pressão sobre os preços de serviços, que vem sendo a lupa do Banco Central, cujo IPCA passou de 0,25% em março para 0,52% em abril;
  • Alta na média dos núcleos de 0,36% para 0,51%, que desconsideram do cálculo itens com maior volatilidade;
  • Aumento do índice de dispersão de 59,95% para 66,05, que mede a porcentagem de itens do IPCA com variação positiva no mês;
  • Alta dos itens livres de 0,17% para 0,53.

Aviso do Banco Central

Banco Central aproveitou a ata do Copom para reforçar que os dados recentes do IPCA não significam nada para a autoridade monetária e que isso não vai acelerar a redução da taxa Selic, que está em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado.

Para o segundo trimestre, é, sim, esperada uma queda relevante na inflação acumulada em doze meses em função do efeito base do ano anterior. Em maio e junho de 2022, o IPCA mensal se encontrava abaixo do 1% e isso vai influenciar nos números acumulados dos próximos meses.

Além disso, entre julho e setembro, o país registro deflação. Por outro lado, o segundo semestre deve ser marcado por uma volta na alta dos preços.

“No segundo semestre, como os efeitos das medidas tributárias que reduziram o nível de preços no terceiro trimestre de 2022 não estão mais incluídos na inflação acumulada e ainda se terá a inclusão dos efeitos das medidas tributárias deste ano, se observará elevação do mesmo indicador”, aponta o texto.

Editora-chefe
Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora-chefe no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
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