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IPOs, Bitcoin e mercados emergentes: a nova onda especulativa de Wall Street

21 dez 2020, 16:36 - atualizado em 21 dez 2020, 16:44
EUA Wall Street
Enquanto o coronavírus se propaga, o ciclo econômico ainda respira com a ajuda de aparelhos, e empresas são afetadas por novas restrições de mobilidade(Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

O espírito animal corre solto em Wall Street, mas a análise dos números mostra que o mercado altista deste ano está ainda mais eufórico do que parece.

As ações globais agora valem cerca de US$ 100 trilhões. Empresas dos Estados Unidos levantaram um recorde de US$ 175 bilhões em ofertas públicas iniciais de ações. Cerca de US$ 3 trilhões em títulos corporativos são negociados com rendimento negativo.

Enquanto o coronavírus se propaga, o ciclo econômico ainda respira com a ajuda de aparelhos, e empresas são afetadas por novas restrições de mobilidade.

Animados por infinitos estímulos monetários e apostas em um mundo pós-pandemia, traders novatos e investidores institucionais veteranos aproveitam as condições financeiras mais frouxas da história.

(Imagem: Bloomberg)

“Indicadores de sentimento caminham em direção à euforia”, disse Cedric Ozazman, diretor de investimentos da Reyl & Cie, em Genebra. “As pessoas agora investem em meio ao temor de perder o rali do Papai Noel.”

Onda de IPOs

Nada evoca um pico do mercado acionário como a corrida às bolsas. Estreias como as ofertas públicas iniciais da Snowflake e do Airbnb elevaram o volume de IPOs deste ano para um recorde de US$ 175 bilhões nos Estados Unidos, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Veículos de aquisição para fins especiais que levantam recursos para que companhias de “cheque em branco” comprem o que quiser captaram mais de US$ 60 bilhões em 2020.

O apetite dos investidores parece ser insaciável. O retorno do primeiro dia de negociação para IPOs foi, em média, de 40% neste ano, o maior já visto com exceção de 1999 e 2000, de acordo com uma estimativa.

Rali das bolsas

Operadores da plataforma Robinhood se tornaram o assunto de Wall Street neste ano, pois compraram de tudo, desde opções de tecnologia a ações de companhias aéreas. Com esses investidores de varejo querendo aproveitar o rali de ações ao lado de investidores institucionais, o S&P 500 é negociado com um múltiplo de vendas cerca de 16% acima do pico de 2000.

Tudo está subindo. A cesta do Goldman Sachs de ações com mais posições vendidas no índice Russell 3000 subiu cerca de 40% neste trimestre, o triplo do indicador mais amplo. Ações com beta alto estão perto do maior nível em relação aos papéis de baixa volatilidade desde 2011.

Mercados emergentes

Naturalmente são tempos de expansão para países de mercados emergentes, cujas vendas de títulos em dólares e em euros em 2020 superaram US$ 730 bilhões, mais do que em qualquer ano anterior.

Mesmo com a turbulência política, o Peru vendeu títulos de 100 anos com o menor rendimento de todos os tempos de um governo de economia em desenvolvimento. A Costa do Marfim emitiu dívida denominada em euros com rendimento mais baixo do que no ano passado, apesar de sua participação em uma iniciativa do G-20 para alívio da dívida e um programa em andamento com o Fundo Monetário Internacional.

Retomada do Bitcoin

Para os obstinados, a alta de mais de 200% do Bitcoin neste ano em meio à onda de dinheiro novo mostra que a hora da criptografia chegou. Para muitos em Wall Street, é apenas o mais novo sinal de exuberância irracional.

Analistas da Yardeni Research, como Ed Yardeni, dizem que veem o Bitcoin e outras criptomoedas como “tulipas digitais. Não temos como avaliá-las. “Observamos a ação do preço do Bitcoin como um indicador dos excessos especulativos”, escreveram em relatório.

A volatilidade do Bitcoin é uma pílula difícil de engolir para a maioria, mas empresas como JPMorgan Chase e Nomura têm notado muito interesse, como de family offices e fundos quantitativos.

bloomberg@moneytimes.com.br