Internacional

Itamaraty espera que Biden entenda posições de Bolsonaro

15 jan 2021, 11:59 - atualizado em 15 jan 2021, 11:59
Ernesto Araújo
“A gente espera muito, por parte da nova administração americana, que o nosso governo seja percebido pelo que ele é realmente”, afirmou o chanceler Ernesto Araújo (Imagem: Reuters/Adriano Machado)

O governo de Jair Bolsonaro, que apoiou tanto Donald Trump quanto seus principais ideais, tem um recado para o presidente eleito Joe Biden: o Brasil não vai mudar suas posições em função da nova liderança nos Estados Unidos.

Pelo contrário, o governo brasileiro espera que Joe Biden entenda que Brasil e Estados Unidos têm muitos interesses comuns, que incluem a promoção da democracia e da segurança na América Latina, e não estão em lados opostos em relação ao meio ambiente, disse o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

“A gente espera muito, por parte da nova administração americana, que o nosso governo seja percebido pelo que ele é realmente, por aquilo que o povo brasileiro é e pretende”, disse Araújo em entrevista em seu gabinete em Brasília na quinta-feira. “Os dois lados precisam fazer um esforço de compreensão mútua.”

A sintonia fluiu facilmente com Trump não apenas por conta da amizade com Bolsonaro, mas também porque o presidente dos EUA entendeu que os brasileiros fizeram uma escolha ao elegê-lo, disse Araújo.

Em troca do alinhamento do Brasil com as posições dos EUA, Trump pôs fim à proibição das importações de carne in natura brasileira, apoiou a candidatura do país para ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e assinou acordos de cooperação em defesa e exploração espacial.

O comércio bilateral do Brasil com os EUA é maior do que com qualquer outro país, exceto a China. No entanto, Bolsonaro tem estado em rota de colisão com Biden desde que o presidente eleito ameaçou o governo brasileiro, durante debate de campanha, com “consequências econômicas significativas” se o Brasil não se empenhar em preservar a Amazônia.

Pessoas a par dos planos de Biden disseram em dezembro que o presidente eleito pretende liderar uma frente unida do Ocidente para pressionar Bolsonaro a adotar políticas ambientais que contenham os incêndios que destroem a Amazônia.

No entanto, Araújo disse que as preocupações ambientais são exageradas pela mídia local e internacional. O chanceler insistiu em que Brasil continua no Acordo de Paris e fez uma oferta importante para antecipar a meta de neutralidade em carbono em troca de US$ 10 bilhões por ano de países em desenvolvimento. Segundo o ministro, com os EUA prestes a aderir novamente ao acordo global, haverá mais dinheiro na mesa para esses pagamentos.

Conservadores silenciados

Bolsonaro, Trump
Araújo não quis comentar as acusações de fraude nas eleições norte-americanas infladas por Trump e Bolsonaro (Imagem: Reuters/Kevin Lamarque)

Bolsonaro apoiou publicamente a candidatura de Trump e foi um dos últimos líderes mundiais a parabenizar Biden por sua vitória. Na semana passada, enquanto seguidores de Trump invadiam o Capitólio, Bolsonaro repetia alegações de que houve “muita fraude” nas eleições dos EUA, bem como durante sua própria eleição em 2018 que, segundo ele, deveria ter vencido no primeiro turno.

Araújo não quis comentar as acusações de fraude, mas disse que questionamentos sobre os sistemas de votação nos EUA, Brasil e outros países são legítimos e devem ser investigados. Ele condenou a violência em Washington na semana passada, mas advertiu que isso não pode ser usado como desculpa para calar as vozes conservadoras ao redor do mundo.

“Assim como nada justifica a invasão, nada justifica o cerceamento da liberdade de expressão, que é um valor democrático tão importante quanto a integridade física”, disse, criticando a decisão do Twitter de banir Trump da plataforma e acusando a empresa de remover milhares de seus próprios seguidores sem um motivo claro. “Surgiu um clima de caça às bruxas”, disse Araújo.

O ministro não descartou a possibilidade de que o tipo de protesto visto em Washington aconteça em outros países, inclusive na eleição presidencial de 2022 no Brasil.

“Se as pessoas se sentirem sufocadas na sua capacidade de falar e de ouvir, qualquer país pode ter problemas sérios”, afirmou.

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