Colunistas

Ivan Sant’Anna: Encurralados pelo fogo

12 set 2019, 15:24 - atualizado em 12 set 2019, 15:24

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

Sempre que a gente se lembra de um acontecimento marcante em nossas vidas, ou de algum fato histórico que acompanhamos, temos o hábito de dizer:

“Parece que foi ontem.”

Pois bem, ontem foi o 18º aniversário do 11 de setembro. E pouca gente se lembrou logo de cara. Eu mesmo esqueci completamente. Até que minha mulher, Ciça, ligou da sala de espera do dentista:

“Tá lembrado que hoje é 11 de setembro?”

Aí veio tudo à memória. Numa fração de segundo. Naquela terça-feira fatídica, eu trabalhara até alta madrugada, escrevendo os últimos capítulos de meu livro Carga Perigosa, quando Ciça me acordou, telefonando de seu escritório.

“Ivan, liga rápido na CNN. Um teco-teco bateu no World Trade Center.”

Pulei da cama de um salto só, liguei a TV do quarto. Teco-teco? Àquela altura, o segundo avião, um Boeing 767 que cumpria o voo United Airlines 175, de Boston para Los Angeles, já atingira a Torre Sul do WTC.

Inferi na hora que se tratava de um ataque terrorista. Só que meus primeiros pensamentos não foram de pesar pelas vítimas.

“Caramba!”, disse em voz alta para mim mesmo, com a deformação profissional típica dos operadores de mercado. “As bolsas vão sofrer um crash”. E sobreveio uma ideia: “Vou escrever sobre isso”.

Afinal de contas, meu livro Caixa-preta, sobre três acidentes aéreos, lançado em novembro de 2000, fora um tremendo sucesso, permanecendo sete meses na lista dos mais vendidos da revista Veja.

Voltando a setembro de 2001, com pequenas paradas para dormir, permaneci uns dez dias sintonizado na CNN. No mesmo dia das Torres Gêmeas, houvera outro atentado, ao Pentágono (voo 77 da American Airlines) e uma quarta tentativa, a do United Airlines 93, abortada pelos passageiros. Esta última aeronave, um Boeing 757, acabou sendo derrubada, pelos próprios sequestradores, num bosque em Shanksville, na Pensilvânia.

A Bolsa de Valores de Nova York, que não chegou a abrir no dia do ataque, só voltou a funcionar na segunda-feira, 17 de setembro. Como não podia deixar de ser, levou um tombaço: – 7,1%.

Num pregão encurtado para uma hora e quinze minutos, a Bovespa, que não chegou a fechar no dia 11, caíra 9,17%.

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Mais ou menos um mês após a ação terrorista em Nova York, avisei ao meu editor, Roberto Feith, da Objetiva, que pretendia escrever um livro sobre o assunto.

“Mas, Ivan”, ele rebateu a ideia, “vai haver uns 200 livros sobre o assunto.”

“Duzentos e um”, respondi. “Não abro mão do meu”.

Plano de ataque, de minha autoria, foi lançado em 11 de setembro de 2006, exatamente cinco anos após os atentados. A primeira edição se esgotou em menos de duas horas. Grande parte da narrativa é feita sob o ponto de vista dos sequestradores suicidas, e dos passageiros dos quatro aviões, e é isso que diferencia meu texto dos demais.

Se tivesse tempo (demandaria uns três anos de dedicação exclusiva), gostaria de escrever outro livro sobre o 11 de Setembro, dessa vez focando os operadores de mercado que trabalhavam nas torres do World Trade Center, principalmente os da instituição financeira Cantor Fitzgerald.

Ocupando do 101º ao 105º andar da Torre Norte, a empresa ficou acima da linha do fogo, sem nenhuma rota de fuga após o prédio ter sido atingido pelo voo 11 da American Airlines.

A Cantor perdeu todos os 658 funcionários que estavam lá na ocasião. Sofreram morte horrível, encurralados pelo fogo e a fumaça ou se jogando pelas janelas.

A esses colegas, vítimas inocentes da insanidade humana, dedico esta crônica de hoje.

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