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Ivan Sant’Anna: Impeachment americano

30 set 2019, 16:13 - atualizado em 30 set 2019, 16:13

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

Na semana passada, a speaker da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, anunciou o início de um inquérito formal visando ao impeachment do presidente Donald Trump.

Sabe, caro amigo leitor, quais são, em minha opinião, as chances de Trump ser “impichado” em consequência dessa iniciativa? Zero.

Mesmo que todos os democratas da Casa votassem pelo afastamento, o que não deve ser o caso – o voto lá é distrital e muitos deputados foram eleitos em distritos nos quais Trump venceu nas eleições presidenciais de 2016 –, e o impeachment atingisse os 218 votos necessários (metade mais um), o caso iria para o Senado, onde os republicanos têm maioria e o afastamento do presidente exige a concordância de dois terços dos senadores.

A acusação de Pelosi se baseia numa conversa telefônica entre Donald Trump e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na qual o americano teria condicionado uma ajuda militar de US$ 400 milhões à Ucrânia a informações sobre Hunter, filho de Joe Biden. Este último, que foi vice de Barack Obama, é o favorito para ser escolhido candidato democrata nas eleições do ano que vem.

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Hunter Biden teria participado de uma negociata ucraniana, segundo essa versão.

Em minha opinião, Nancy Pelosi deu um tiro no pé. No pé de Biden, bem entendido. Trump não será “impichado” e Joe Biden passou a ser aquele cujo filho (o caro leitor sabe como funcionam essas coisas na política) se envolveu num caso de corrupção, comprovado ou não, fake news ou fato real.

Faltam apenas 13 meses e poucos dias para a eleição presidencial americana. Mesmo que Donald Trump sofresse um impeachment, o que, como mencionei antes, acho impossível, não há o menor fundamento para se dizer que isso seria altista ou baixista para o dólar e para o mercado de ações.

A última tentativa de se “impichar” um presidente dos Estados Unidos ocorreu no governo Bill Clinton, em função do affair no Salão Oval com a estagiária Monica Lewinsky.

Deu o que seria de se esperar. A Câmara, naquela época de maioria republicana, votou pelo impeachment. O Senado, então controlado pelos democratas, o absolveu. E Clinton ainda esnobou, se reelegendo para um segundo mandato.

Richard Nixon provavelmente teria sido afastado da presidência pelas duas Casas do Congresso em 1974 se não tivesse renunciado antes. Motivo: invasão à sede do Partido Democrata em 1972 no conjunto Watergate, que acabou dando nome ao escândalo; obstrução da Justiça, ao destruir as fitas que provavam que ele sabia do caso mas tentou abafá-lo.

Antes dele, ouve o episódio de Andrew Johnson, alcoólatra inveterado, vice de Abraham Lincoln, que assumiu o posto por ocasião do assassinato do presidente. A Casa dos Representantes votou a favor do impeachment por 126 a 47, mas o Senado reverteu a situação por apenas um voto.

Esse caso do Trump, Biden e Ucrânia ainda vai render muitas manchetes sensacionalistas, mas dificilmente irá alterar o curso das ações na Bolsa de Valores de Nova York, mais interessada na política monetária do Fed, no affair comercial USA/China e na ameaça nuclear iraniana.

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