Jalles (JALL3) dribla queda do açúcar e sobe na Bolsa, mas produtividade preocupa
A Jalles (JALL3) viu seu lucro líquido encolher 43,9%, para 18,9 milhões no segundo trimestre da safra 2025/2026 (2T26) na comparação com o mesmo trimestre da safra passada. A receita líquida recuou 18,1% no mesmo comparativo, totalizando R$ 640,7 milhões.
Por volta de 13h15 desta quarta, um dia após a divulgação dos resultados, as ações JALL3 avançavam 3,52% na bolsa.
O BTG Pactual explica que os resultados refletiram o mesmo padrão de outras empresas do setor: aumento da área colhida, mas queda acentuada na produtividade.
A área colhida cresceu 17% na comparação anual, porém o volume total de cana própria moída permaneceu estável, devido a uma redução equivalente de 17% no TCH (toneladas de cana por hectare).
A produtividade foi impactada principalmente por condições climáticas adversas durante a formação da safra e pela competição com plantas daninhas nas áreas de cana orgânica.
No lado comercial, as vendas de ATR (açúcar total recuperável) subiram 21% em relação ao ano anterior, sustentadas por maiores volumes tanto de açúcar quanto de etanol.
Segundo o banco, o guidance mais conservador da empresa divulgado em agosto, que saiu de 7,9 milhões para 7,5 milhões de toneladas de cana, implica em uma área colhida de 94 mil hectares e uma produtividade média de 79,8 toneladas/hectare. Supondo que a meta de área se mantenha, cerca de 83% dos campos já foram colhidos.
“Até setembro, a empresa havia moído 6,1 milhões de toneladas, mas grande parte da área já havia sido colhida — o que torna o atingimento do guidance bastante desafiador. Para alcançar a meta anual, a produtividade nos meses restantes precisaria disparar — cenário improvável, dado que a produtividade normalmente cai no fim da safra”, veem Thiago Duarte e Guilherme Guttillla, do BTG.
Considerando uma queda de produtividade em linha com a média do acumulado do ano, a Jalles encerraria a safra com cerca de 7 milhões de toneladas de cana moída, aproximadamente 6% abaixo do guidance atual.
JALL3: Hedge anima, mas produtividade preocupa
Segundo o BTG, enquanto a maioria das usinas discute quando os preços do açúcar poderão se recuperar — já que os níveis atuais estão abaixo dos custos de produção —, a Jalles conseguiu se proteger (ou, ao menos, ganhar tempo).
A empresa fixou 100% da safra atual a R$ 2.431/ton, 75% da safra 26/27 a R$ 2.475/ton e 36% da safra 27/28 a R$ 2.530/ton.
Os valores são significativamente superiores ao preço spot atual de R$ 1.655/ton, considerando o câmbio e as cotações de açúcar vigentes.
“A Jalles poderia facilmente ser o destaque do setor hoje, já que sua posição de hedge a protege justamente do principal problema dos concorrentes — os preços baixos do açúcar. A empresa poderia estar colhendo os frutos de margens atrativas no açúcar e preços elevados do etanol. No entanto, os fracos índices de produtividade continuam corroendo a rentabilidade”.
No cenário internacional, as tarifas de importação dos EUA sobre o açúcar orgânico também foram um revés inesperado. Fora isso, há desafios operacionais, como uma demora para maiores ganhos de produtividade na usina Santa Vitória.
“Estamos aguardando a materialização de melhorias na produtividade. Por ora, mantemos a recomendação de compra (preço-alvo de R$ 6), mas reconhecemos que a pressão de curto prazo sobre as ações deve persistir”.
O Bradesco BBI, que também recomenda compra com preço-alvo de R$ 6 para Jalles, destacou positivamente as vendas de açúcar orgânico, antecipadas por tarifas nos EUA, e que cresceram 42% na comparação anual. Para os analistas, a evolução do TCH em Santa Vitória será determinante para destravar valor no longo prazo.