Economia

Javier Milei na Argentina: Veja 3 impactos que sua vitória já gera na inflação, dólar e reservas cambiais por lá

22 nov 2023, 12:45 - atualizado em 22 nov 2023, 12:45
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Terremoto: Javier Milei segue firme com o plano de adotar o dólar como moeda oficial da Argentina, e mercado e empresas já sentem os impactos (Imagem: Divulgação/ Javier Milei)

A vitória de Javier Milei no segundo turno da eleição presidencial argentina, no domingo (19), já gera impactos concretos em áreas sensíveis para o bolso dos argentinos, o mercado financeiro e as empresas locais. O epicentro dessas ondas de choque é o plano do economista ultraliberal de dolarizar a economia. Trata-se de uma proposta com uma fragilidade fundamental: simplesmente, faltam dólares no país.

Um exemplo da escassez de moeda americana é o déficit em conta corrente do governo federal, que deve encerrar o ano em US$ 3,8 bilhões, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). As transações correntes formam um quadro mais completo da situação cambial de um país, pois reúnem o saldo da balança comercial com o do balanço de pagamentos.

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Para piorar, parte das reservas internacionais da Argentina é composta por iuanes – sim, a moeda da China “comunista” que o economista ultraliberal Milei tanto abomina. Sua importância para as contas dos nossos vizinhos é tamanha, que, em julho, o próprio FMI aceitou receber um pagamento em iuanes, em vez de dólares.

Veja, a seguir, três impactos que a vitória de Milei já teve sobre a vida dos cidadãos e empresas da Argentina, e o que pode acontecer até sua posse, marcada para 10 de dezembro.

Dólar dispara com vitória de Javier Milei – e vai continuar subindo

A soma de falta de dólares com a firme disposição de dolarizar a economia argentina tem um efeito óbvio: a alta da moeda americana frente ao peso, a moeda oficial do país. Essa disparada já foi captada no próprio domingo (19) pelo dólar cripto, stablecoin atrelada ao dólar que se tornou uma referência para o câmbio do país. Em apenas duas horas, das 18h às 20h daquele dia de segundo turno, a criptomoeda saltou 10%.

A Argentina também viveu uma segunda-feira (20) de feriado e, por isso, o primeiro dia útil após a eleição de Milei foi a terça-feira (21). Ontem, o dólar “blue”, uma das cotações paralelas mais usadas por lá, fechou em alta de 8%, negociado a 1.025 pesos para compra e 1.075 para venda.

O desafio dos analistas é estimar quanto a moeda americana subirá até a posse de Milei. Em relatório enviado a clientes, o banco americano Morgan Stanley estima que o câmbio oficial, que fechou em 354 pesos por dólar ontem, precise de um ajuste de, pelo menos, 80%, o que o levaria para 637 pesos.

Preços de produtos da cesta básica sobem até 40%, após o segundo turno na Argentina

A economia real também já sente efeitos concretos da vitória do anarcocapitalista. Segundo o jornal La Nación, produtos da cesta básica apresentaram aumentos de até 40% nos preços desde domingo. O motivo é o fim de diversos acordos que o governo do peronista Alberto Fernández mantinha com setores da indústria e do comércio para controlar a inflação.

O programa Preços Justos, estabelecido pelo presidente em fim de mandato, prevê um aumento de 5% nos preços em novembro, e mais 8% em dezembro, mas, segundo o La Nación, a enxurrada de remarcações nos últimos dias mostra que as empresas e o comércio não respeitarão mais o acordo. Além disso, o setor produtivo e os varejistas já pressionam por aumentos ainda maiores para repor custos e a variação cambial.

O jornal argentino acrescenta que há escassez de diversos produtos nos supermercados. Nos atacadistas, a oferta de itens é maior, mas os preços praticados estão, em média, 20% acima dos acordados pelo governo Fernández.

Novas medidas para conter o câmbio e salvar as reservas internacionais

Segundo o Banco Central da Argentina, as reservas internacionais brutas do país somam US$ 21,5 bilhões. Quando se consideram, contudo, as reservas líquidas, a conta fica negativa em mais de US$ 10 bilhões. O motivo é que a reserva bruta considera depósitos privados em dólares, linhas de crédito abertas e, para desgosto de Milei, operações de swap cambial com a China.

Foram essas operações de swap que permitiram que a Argentina pagasse uma parte da dívida com o FMI, no meio do ano, usando iuanes, em vez de dólares.

Ciente da corrida por dólares causada pela vitória de Milei, o atual governo relaxou as regras para liquidação de operações internacionais com o dólar oficial. Até semana passada, as empresas deveriam trocar 70% de seus dólares pelo câmbio oficial. Os 30% restantes poderiam ser negociados num câmbio alternativo, chamado de CCL, cuja cotação era um pouco maior.

Agora, para preservar as reservas, o atual governo reduziu as exigências: as empresas podem liquidar apenas 50% de suas transações pelo câmbio oficial, deixando 50% no CCL.

 

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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