Colunista Vitreo

Jojo Wachsmann: A gasolina e o foguetão de preços

05 mar 2021, 8:28 - atualizado em 05 mar 2021, 8:28
Aquele momento em que você suspeita que há algo errado / Eu Me Importo (2020) (Imagem: Divulgação)

Bom dia, pessoal!

Em dia com dados importantes, mas que perderam a relevância devido a um consenso do mercado sobre as próximas movimentações das autoridades monetárias (provável subida de juros no Brasil e manutenção nos EUA), os mercados deverão seguir reagindo aos mesmos fatores das últimas semanas.

No Brasil, o alívio fiscal é verificado pelo descolamento de ontem (4) dos ativos locais. Não nos surpreenderíamos se nosso país fechasse a primeira semana do segundo bimestre seguindo sua própria dinâmica.

Hoje (5), as Bolsas abrem o dia no vermelho na Europa. Futuros dos EUA acompanham, com destaque de queda para a Nasdaq. A ver…

Que siga para a Câmara

Foi aprovada em segundo turno no Senado (62 a 14 votos) a PEC Emergencial durante o pregão de ontem. Agora, a proposta segue para a Câmara dos Deputados, onde também encontrará suporte de Arthur Lira.

As boas notícias envolveram não só a preservação do limite ex-teto de R$ 44 bilhões para o auxílio emergencial, como também a criação de gatilhos que poderiam ser acionados caso a despesa obrigatória atingisse 95% da despesa primária total — uma briga ferrenha da equipe econômica.

Com isso, ainda que a PEC tenha passado um pouco desidratada, eliminou-se o temor mais radical de que haveria um rompimento do Teto de Gastos, da Regra de Ouro ou da Lei de Responsabilidade Fiscal.

O alívio fiscal serviu para acomodar os ativos, ao menos no curto prazo. No entanto, ainda temos um longo caminho pela frente, o qual demandará um esforço descomunal por parte da equipe econômica — e ainda nem estamos em ano de eleições.

Enquanto o Brasil passa pelo pior momento da pandemia, foi animadora também a notícia de que o governo teria comprado vacinas da Pfizer e da Johnson & Johnson (esta última é importante, pois só necessita uma dose).

De todo modo, as boas notícias e eventuais dados acima do esperado não deverão mudar a perspectiva do mercado para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom): a Selic deverá subir, mesmo que marginalmente.

Longe da recuperação

“A economia dos EUA está longe do pleno emprego e os mercados de títulos não são desordenados.” Para a surpresa de absolutamente ninguém, Powell se valeu ontem de uma fala expansionista sobre a questão americana.

Ao que tudo indica, o aumento da inflação no segundo trimestre é algo que Powell está disposto a ignorar. Por conta das falas, os rendimentos do Tesouro dos EUA aumentaram de volta para cima de 1,50%.

Na verdade, porém, a elevação tem sido em um valor economicamente insignificante. Se a inflação for realmente temporária, então o estresse do mercado que verificamos não se sustentará. Por outro lado, se ela se tornar estrutural em um segundo momento, forçando o Fed a rever sua abordagem, poderá significar problemas para a Bolsa.

Uma grande ancoragem da decisão do Fed é a taxa de desemprego, que ainda está elevada. Os EUA estão às vésperas de um salto inicial no emprego com a recuperação da manufatura do setor de serviços (o primeiro está mais próximo que o segundo).

Até que a questão se acomode, depois de um repique na atividade, o principal norte da política monetária será mantido: a flexibilização.

E no final, o nível de produção foi mantido

A Opep concordou em manter a produção de petróleo amplamente estável; em outras palavras, decidiram por manter os níveis de produção de petróleo de março também no mês de abril, embora tenham autorizado uma isenção para a Rússia e o Cazaquistão, que terão permissão para aumentar modestamente a produção por causa dos “padrões de consumo sazonais”.

A Arábia Saudita, por sua vez, disse que também continuará a cortar voluntariamente 1 milhão de barris por dia de sua própria produção até o final de abril. A decisão surpreendeu os mercados, que esperavam um aumento da produção.

Os preços do petróleo estão de volta aos patamares pré-pandemia e parecem amplamente consistentes com o nível de atividade econômica esperado para este ano. Ainda que alguns economistas não entendam o preço do petróleo para 2021 como uma força economicamente perturbadora, existe uma ala de financistas mais temerosa dos efeitos disso sobre os preços em geral.

A gasolina, por exemplo, pode atingir os níveis mais altos desde 2014 nos EUA. Vê como aumento de preços na gasolina não é exclusividade nossa? A única diferença são o câmbio e a carga tributária, mas o movimento de alta é o mesmo. De todo modo, esse foguetão em diferentes preços na economia tem pressionado para cima as expectativas de inflação, corroborando a conjuntura atual.

Anote aí!

No Brasil, destaque para a produção industrial de janeiro, que poderá indicar expansão de 0,40% na margem (contra o mês anterior) — o dado não deverá, contudo, impactar a possível elevação da Selic na próxima reunião do Copom, que já está quase que contratada por conta da alta dos preços e da forte depreciação cambial (o dólar bateu os R$ 5,75 nesta semana).

Produção automobilística e dados dos mercados de trabalho da FGV também serão apresentados. A ideia aqui, assim como podemos verificar na Europa, por exemplo, é que haverá uma recuperação da manufatura conforme os consumidores ainda consomem mais bens do que serviços.

Nos EUA, hoje é dia de payroll (dados da folha de pagamento — emprego). As projeções apontam para a criação de 200 mil vagas e uma taxa de desemprego em 6,3%.

Da mesma forma que no Brasil, ainda que seja um dado importante, acaba perdendo impacto depois das falas de Powell — “a criação de vagas ainda é insuficiente e levará muito tempo até o pleno emprego”. Falas de outras autoridades monetárias estão marcadas também.

Muda o que na minha vida?

A temporada de resultados corporativos ruins, derivados da recessão, nos EUA parece ter chegado ao fim, pelo menos de maneira geral. A grande maioria das empresas no S&P 500 reportou seus números dos últimos três meses de 2020, com boa parte dos analistas entendendo que o pior dos impactos nos resultados realmente já passou.

Até sexta-feira da semana passada (26), 96% das companhias do S&P 500 já haviam publicado seus respectivos resultados. De acordo com as últimas estimativas, o lucro consolidado do índice cresceu 3,9% no último trimestre, fato que marcaria o primeiro aumento ano a ano desde o final de 2019.

Isso aconteceu em paralelo ao crescimento anualizado de 4,1% dos EUA no último trimestre, mesmo diante da alta dos números de casos e de mortes por Covid-19.

Como conversamos anteriormente, apenas manter o patamar de produção do final de 2020 já seria um crescimento relativamente à média de 2020.

Os resultados foram bem diferentes do que o mercado esperava, com mediana das expectativas em queda de 11% dos lucros para o quarto trimestre para o S&P (muito diferente do que realmente aconteceu – os agentes não conseguiram entender o comportamento dos consumidores durante a crise, uma vez que os modelos convencionais não funcionaram como de costume).

Agora, as perspectivas para 2021 têm sido positivas o suficiente para gerar um aumento considerável nas estimativas, potencializando o upside à frente — os analistas estão projetando um crescimento de ganhos de dois dígitos para todos os quatro trimestres de 2021. As boas perspectivas não são exclusividade dos EUA, mas o mundo como um todo tem vivido uma boa temporada de resultados.

Fique de olho

Como de costume, toda quinta-feira, sai o Diário de Bordo, que eu escrevo semanalmente.

Nesta edição ele abordou os temas mais recentes sobre o cenário econômico internacional e brasileiro, e claro, sobre o nosso cenário político.

O governo brasileiro ainda não se decidiu se seguirá rumo ao populismo ou adotará uma agenda mais reformista, respaldando o ministro Paulo Guedes.

Pelo que estamos vendo neste momento, o mantra da vez será: persistência e consistência para atravessarmos este momento turbulento.

E como nós nunca te deixamos sozinho com seus investimentos, o Diário de Bordo também está recheado de boas indicações para você diversificar seu portfólio e se manter vivo neste jogo.

Além disso, temos novidades!

Queremos te mostrar a nova funcionalidade em nosso site e no aplicativo que facilitará ainda mais a sua vida no momento de comprar suas ações.

Não deixe de conferir o Diário de Bordo desta semana.

Para ler essa edição na íntegra, basta você clicar no botão abaixo:

[EU QUERO LER O DIÁRIO DE BORDO]

Um abraço,

Jojo Wachsmann

CIO e sócio fundador da Vitreo
Também conhecido como Jojo, George Wachsamnn é CIO e sócio fundador da Vitreo. Economista pela USP, com mestrado pela Stanford University e mais de 25 anos de experiência no mercado, passou pelo Unibanco (onde ajudou a montar a área de fundo de fundos) e anos mais tarde montou a Bawm Investments que foi mais tarde comprada pela GPS - a maior gestora de patrimônio independente do Brasil onde ele também trabalhou por anos, cuidando de fortunas. Jojo lidera a equipe de gestão e ajuda a viabilizar versões mais baratas de produtos antes disponíveis apenas para brasileiros de alto patrimônio. Ele “conversa” com todos nossos clientes semanalmente no Diário de Bordo, o update semanal da Vitreo sobre mercados e produtos.
Também conhecido como Jojo, George Wachsamnn é CIO e sócio fundador da Vitreo. Economista pela USP, com mestrado pela Stanford University e mais de 25 anos de experiência no mercado, passou pelo Unibanco (onde ajudou a montar a área de fundo de fundos) e anos mais tarde montou a Bawm Investments que foi mais tarde comprada pela GPS - a maior gestora de patrimônio independente do Brasil onde ele também trabalhou por anos, cuidando de fortunas. Jojo lidera a equipe de gestão e ajuda a viabilizar versões mais baratas de produtos antes disponíveis apenas para brasileiros de alto patrimônio. Ele “conversa” com todos nossos clientes semanalmente no Diário de Bordo, o update semanal da Vitreo sobre mercados e produtos.
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