Colunista Vitreo

Jojo Wachsmann: E nós pensávamos que o Brasil sozinho seria a dor de cabeça

26 fev 2021, 8:43 - atualizado em 26 fev 2021, 8:53
Coluna Vitreo
A festa da inflação / Mad Men (2007 – 2015) (Imagem: Reprodução)

Bom dia, pessoal!

Em dia de dados importantes no Brasil e no mundo, a escalada dos juros americanos deixa os mercados globais apreensivos.

O sentimento local, ainda que indique em certos aspectos uma melhora gradual, representada principalmente pelos resultados de algumas companhias, como a Petrobras, segue atrelado à dinâmica global, que privilegia alocação em moeda forte e em países desenvolvidos em detrimento de alocação em países emergentes.

Hoje, as Bolsas europeias seguem abrindo em queda, não sendo acompanhadas. A ver…

Incertezas fiscais não ajudam

O adiamento da PEC Emergencial, antes marcada para ser votada nesta semana, contribui para as incertezas fiscais.

Adicionalmente, há quem já admita a possibilidade de fatiar a proposta, de modo a aprovar apenas mais uma rodada do auxílio emergencial (quatro meses de R$ 250) — seria ruim, pois não teríamos os gatilhos para os cortes de gastos que estão sendo preparados pela equipe econômica do governo.

Por fim, no dia de ontem (25), houve novos sinais intervencionistas por parte de Bolsonaro, que afirmou a existência de uma nova dinâmica na Petrobras, com surpresa positiva para quem depender dos seus produtos — a dinâmica atual parecia estar funcionando muito bem, basta ver o resultado apresentado pela estatal. A realidade conspira contra ativos de risco.

Uma inflação para chamar de sua

O yield do Tesouro americano subiu para cima de 1,50% ontem, enquanto os preços do petróleo ampliaram os ganhos pela quarta sessão, atingindo os níveis mais altos em mais de 13 meses — existe uma correlação positiva entre o preço das commodities e a expectativa de inflação (matérias-primas mais caras com seu respectivo valor se espalhando nos diferentes elos da cadeia).

Jerome Powell disse ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara que o Fed não tem pressa em aumentar as taxas de juros ou começar a cortar seus US$ 120 bilhões em compras mensais de títulos.

A autoridade disse ainda que não vê qualquer indicação de que a inflação possa sair de controle, muito embora os preços possam subir nos próximos meses — essa alta, segundo o presidente, deve ser temporária devido às restrições da cadeia de abastecimento.

Enquanto isso, o plano de alívio do coronavírus de US$ 1,9 trilhão do presidente Biden está ganhando força. Tudo isso impulsiona o sentimento de inflação nos EUA, impactando a curva de juros.

Por isso mesmo, a continuidade da apresentação dos dados de PCE (gasto do consumidor) de janeiro será muito importante hoje, em meio aos receios com as pressões inflacionárias, que empurram os juros longos para cima e derrubam as Bolsas — nítido movimento de aversão à perda, exacerbado em países emergentes, os quais passam a ter desvalorização em sua moeda.

Em que pé estamos com a inflação?

Em 2021, a inflação dos preços ao consumidor deve ser maior. Os preços do petróleo criarão possivelmente um pico de inflação no segundo trimestre, mas nem os consumidores nem os bancos centrais se importarão — Powell e Lagarde possuem uma abordagem extremamente permissiva em relação à inflação.

Essas preocupações foram alimentadas por uma leitura do índice de preços ao produtor dos EUA acima do esperado, com o núcleo subindo 1,2% no mês, contra uma previsão de 0,4%. Isso incluiu um aumento de 0,9% nos custos de saúde, o segundo maior salto já registrado, com a taxa anual sendo a mais alta desde 2007.

Isso é significativo porque a saúde é responsável por um quinto do índice básico de despesas de consumo pessoal (a ser divulgado hoje), o medidor de inflação favorito do Fed. As preocupações com a inflação continuaram a elevar os juros, uma vez que o banco central americano ancorou o curto prazo.

A inflação, porém, parece ser de fato mais temporária do que estrutural, sendo que os mercados parecem preparados para uma inflação média de 2,6% nos próximos dois anos.

Anote aí!

Agenda cheia hoje. Vamos a ela. O Brasil começa o dia com taxa de desemprego medida pelo IBGE na Pnad contínua — a mediana das projeções indica 13,9%, melhor do que o mês anterior, quando o desemprego estava em 14,1%.

Além disso, o BC divulga contas pública em janeiro, dado que passa a ser mais importante do que o usual em tempos de sensibilidade fiscal.

No exterior, temos a inflação dos preços ao consumidor em fevereiro na França, Espanha e Portugal. Nos EUA, os gastos do consumidor devem confirmar que os níveis mais baixos de receio com a pandemia e os estímulos fiscais apoiaram o crescimento.

O deflator PCE, amplamente considerado como a medida de inflação favorita do Fed, também será apresentado — ajusta as mudanças nos gastos.

Muda o que na minha vida?

Todos os olhos voltados para o consumidor americano.

A pandemia alterou drasticamente a forma como as pessoas compram e os investidores procuram pistas que apontem para quão duradouras serão as mudanças operadas no ano passado — não sabemos se o novo padrão de consumo, muito pautado pelo consumo de bens duráveis, se manterá depois que as coisas se normalizarem.

Existe muita demanda represada que poderá voltar a ser utilizada em serviços, por exemplo.

Ao mesmo tempo que proporcionava um forte impulso a varejistas online, a crise também levantou grandes redes de varejo, que permaneceram abertas durante a pandemia.

Muitos rivais menores e varejistas localizados em shoppings foram forçados a fechar e, desde então, o setor ainda não se recuperou. Isso acabou servindo para a consolidação de grandes nomes nos EUA, como Walmart e Target.

Normalmente, movimentos verificados nos EUA são vistos no resto do mundo ocidental logo em seguida. Provavelmente, essas mudanças nos EUA serão um foco, inclusive, dos investidores nacionais, para saber para onde o consumo vai depois de uma normalização da economia. Até lá, aqui no Brasil, ainda precisamos sair da pior fase da pandemia.

Fique de Olho

Ontem foi dia de Diário de Bordo.

Nesta edição, o Jojo falou sobre o momento de crise e volatilidade pelo qual estamos passando e destacou, mais uma vez, a importância de diversificarmos a nossa carteira de investimentos para que a gente possa se proteger dos reveses econômicos e políticos (que muitas vezes são imprevisíveis) que podemos encontrar pelo caminho dos investimentos.

Além disso, o Jojo deu dois spoilers dos nossos próximos lançamentos: um sobre o fundo Emerging Markets e outro sobre o FoF Melhores Fundos Novas Ideias.

Não deixe de ler essa edição na íntegra, clicando no botão abaixo.

[EU QUERO LER O DIÁRIO DE BORDO]

Um abraço,

Jojo Wachsmann

CIO e sócio fundador da Vitreo
Também conhecido como Jojo, George Wachsamnn é CIO e sócio fundador da Vitreo. Economista pela USP, com mestrado pela Stanford University e mais de 25 anos de experiência no mercado, passou pelo Unibanco (onde ajudou a montar a área de fundo de fundos) e anos mais tarde montou a Bawm Investments que foi mais tarde comprada pela GPS - a maior gestora de patrimônio independente do Brasil onde ele também trabalhou por anos, cuidando de fortunas. Jojo lidera a equipe de gestão e ajuda a viabilizar versões mais baratas de produtos antes disponíveis apenas para brasileiros de alto patrimônio. Ele “conversa” com todos nossos clientes semanalmente no Diário de Bordo, o update semanal da Vitreo sobre mercados e produtos.
Também conhecido como Jojo, George Wachsamnn é CIO e sócio fundador da Vitreo. Economista pela USP, com mestrado pela Stanford University e mais de 25 anos de experiência no mercado, passou pelo Unibanco (onde ajudou a montar a área de fundo de fundos) e anos mais tarde montou a Bawm Investments que foi mais tarde comprada pela GPS - a maior gestora de patrimônio independente do Brasil onde ele também trabalhou por anos, cuidando de fortunas. Jojo lidera a equipe de gestão e ajuda a viabilizar versões mais baratas de produtos antes disponíveis apenas para brasileiros de alto patrimônio. Ele “conversa” com todos nossos clientes semanalmente no Diário de Bordo, o update semanal da Vitreo sobre mercados e produtos.
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