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Kit sobrevivência: 7 analistas indicam as melhores ações para não perder dinheiro no 2º semestre

01 jul 2022, 13:05 - atualizado em 19 set 2022, 2:55
Ações Brasil
Segundo semestre deverá ser ainda mais volátil que o primeiro; veja como se proteger da turbulência

Passar pelo primeiro semestre exigiu uma dose de autocontrole de investidores alocados em bolsa.

O ano até começou com boas notícias: uma enxurrada de investimentos externos como nunca visto há algum tempo aportaram no mercado, fazendo com que o Ibovespa desse sinais de esperança – o índice chegou a bater em 120 mil pontos.

A guerra que estourou na Ucrânia também beneficiou o Brasil, principal celeiro de commodities da América Latina. Porém, logo os efeitos colaterais da falta de matérias-primas pesou para inflação, que atingiu máximas históricas nos Estados Unidos e na Europa.

Era inevitável que o Federal Reserve, o Banco Central americano, tomasse medidas para conter a escalada dos preços. E, novamente, isso atingiu o país.

A alta dos juros fez com que os títulos do tesouro americana, o investimento mais seguro do planeta, ganhasse atratividade, provocando a saída de ativos mais arriscados em países emergentes, como no Brasil.

Agora, o tom de investidores e analistas é de que o Ibovespa está “extremamente” barato. O índice negocia a cerca de 6,1 vezes o lucro estimado, bem abaixo da média histórica de 10 anos de 11,6 vezes. A questão é se o índice pode ficar ainda mais descontado.

Segurem as carteiras, o 2º semestre vem aí

É verdade que o primeiro semestre não foi fácil, mas o segundo não deverá ser mais tranquilo. Isso porque temos no calendário o principal evento do Brasil: as eleições presidenciais.

Ao que tudo indicam as pesquisas eleitorais,  Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva disputarão a vaga.

O JPMorgan lembra, em relatório que lista as ações para o segundo semestre, que enquanto Lula está bem à frente nas pesquisas, Bolsonaro pode ganhar espaço à medida que a inflação comece a cair, além da reabertura do emprego e queda dos combustíveis.

“Neste ponto, há questões importantes sobre a direção da política econômica do PT e quem vai comandar isso. Ao mesmo tempo, há temores de que Bolsonaro possa chamar a eleição de fraude se o resultado não for necessariamente do seu jeito”, coloca.

Leandro Petrokas, sócio da Quantzed, ressalta que o risco fiscal será monitorado de perto pelos mercados. Segundo ele, medidas populistas do governo visando as eleições poderiam impactar o dólar e fazer com que o BC tome medidas mais drásticas para controlar a inflação.

Na noite de ontem, o Congresso aprovou a chamada PEC Kamikaze que abre um rombo fiscal no orçamento do governo.

Porém, ele recorda que o Ibovespa já precificou “em muito” esse pessimismo. “Qualquer cenário de melhora, o índice pode andar rápido”, completa.

Vale
Vale: vale a aposta? Ação continua sendo indicada por analistas (Imagem: Crédito Vale)

Quais ações comprar?

O Money Times consultou sete analistas de casas de análises e corretoras para traçar “o caminho das pedras” no investimento de ações para o segundo semestre.

De maneira geral, os especialistas estão “com os pés no chão”, apostando em papéis de setores tradicionais, com lucro comprovado, e que já sobreviveram à diversas crises. Nada de techs ou empresas de alto risco, que carregam seu valor no “futuro”.

“Acreditamos que os ativos brasileiros, especialmente os expostos à atividade econômica, caíram mais do que é justificado. Estamos observando algumas mudanças nas perspectivas de atividade dos principais economistas, bem como o início da queda da inflação, trazida pela política monetária restritiva”, coloca Phil Soares, chefe de análise de ações na Órama.

Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, diz que quando o fluxo estrangeiro vem para o Brasil, as grandes empresas são beneficiadas, já que tendem a serem boas pagadoras de dividendos.

“Ou seja, você pode ganhar tanto em proventos quanto em valorização de cotações”, ressalta.

Veja a seguir os principais setores e ações lembradas pelos analistas

Commodities, dá para cair mais?

O setor foi lembrado pelos analistas porque tem ações que se beneficiam da elevação do minério de ferro ou do petróleo, pagando bons dividendos. Apesar disso, a visão não é unânime. Soares, da Órama, afirma que as commodities podem sofrer realização. Petrokas também está pessimista com o segmento. Segundo ele, são ações para “não se ter’.

“Empresas de petróleo, mineração, siderurgia e commodities agrícolas subiram bem no pós-pandemia e esticaram os múltiplos e agora com risco da incerteza da atividade global, tendem a dar uma arrefecida. Há espaço para quedas”, prevê.

Entre os papéis, Vale (VALE3) continua sendo a favorita. De acordo com a Toro Investimentos, a mineradora conta com uma estrutura operacional eficiente e geração de caixa robusta, além da forte competitividade internacional.

“Consideramos a Vale uma excelente opção para se ter em carteira, dado o seu histórico e perspectiva de pagamento de proventos. Além disso, o cenário macroeconômico atual pode apresentar excelentes oportunidades para a companhia, dada a política expansionista que estamos vendo na China, além de tensões diplomáticas entre China e Austrália, maior exportadora de minério de ferro do mundo (o Brasil ocupa o segundo lugar nessa lista)”, completa.

Bruno Komora, da Ouro Preto Investimentos, diz que gosta de Vale, principalmente por conta da China. “O país tem dado sinais que não está conseguindo crescer, principalmente por conta dos lockdown. Mas achamos que o governo dará os estímulos para o PIB subir em 5,5%, que é a meta. A partir desses estímulos, achamos que o minério de ferro vai se beneficiar”, pontua.

Além disso, o analista observa recuperação do setor imobiliário da potência asiática.

“Ele tem piorado, mas acreditamos que com os estímulos darão um respiro. Infraestrutura é um driver importante para o crescimento chinês. Isso vai fazer com que Vale gere bastante caixa. Tem potencial de bons dividendos. É bem provável que não seja o resultado como em 2021, mas de qualquer forma será muito forte”, completa.

Gerdau
Gerdau é outra empresa considerada “barata” por analistas (Imagem: Facebook/Gerdau)

Outras commodities

Outras empresas ligadas às commodities também foram lembradas. Entre elas, a Gerdau (GGBR4). A companhia acumula perdas de 18% no ano, o que deixou o papel barato, afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus.

“No caso do aço, ainda pode sofrer por conta de uma desaceleração, mas já estão bem precificados, por exemplo no caso de Gerdau”, argumenta.

Ele ainda recomenda exposição em metais preciosos por meio da Aura Minerals (AURA33), uma das principais exploradoras de ouro da região.

Em papel e celulose, Suzano (SUSB3) está sempre na lista de ações favoritas. Para João Abdouni, da Inv, o papel possui valuation atrativo, negociado a 5 vezes a geração de caixa dos últimos 12 meses.

“É a maior produtora de papel e celulose do mundo com menor custo de produção. Está com um projeto de expansão que pode aumentar a capacidade da empresa até 2024 em 15%. Tem receita muito ligada ao dólar e nesse tempo mais difícil, empresas dolarizadas podem defender melhor a sua carteira”, conclui.

Faça chuva, faça sol: Bancos

Os bancos são os queridinhos dos analistas. Com lucros comprovados e resiliência, o setor reúne características para passar por crises e tempos difíceis. E, de quebra, são conhecidos pelos bons dividendos.

“Eles são ganhadores de dinheiro em qualquer cenário. Só você olhar o histórico, geram caixa no presente, ganham spread com a taxa de juros alta e quando percebem que há risco maior com inadimplência, seguram crédito. Os bancos vêm fazendo trabalho de redução de custos. Não quer dizer que os bancões não possam apresentar mau desempenho. Mas dado o atual cenário, os bancos possuem maior resiliência, apresentando bons resultados mesmo com a economia mais fraca”, diz Petrokas, da Quantzed.

Mas qual comprar? A Toro recomenda Bradesco (BBDC4).

“Com operação diversificada e boa resiliência, o Bradesco tende a ter uma boa performance mesmo em momentos desafiadores. Com o aumento dos juros, o banco deve se beneficiar do aumento do spread bancário, ou seja, a diferença entre taxas de empréstimo que ficam com os bancos como remuneração e compõe importante parte de suas receitas”, coloca.

Já Komura, da Ouro Preto Investimentos, tem preferência pelo Banco do Brasil (BBAS3).

“Gostamos de BB porque está bastante descontado, negociado a 0,5 vezes o valor patrimonial. Entendemos que esse desconto é porque o Banco do Brasil é estatal, mas está apresentando lucro, dando resultados e isso deve continuar ao longo de 2022. Tem pouco para sofrer, dado que já está barato e tem potencial de fechar esse gap em relação aos pares privados. O papel precifica um cenário de intervenção do governo”, completa.

Mesmo assim, ele ressalta que o setor deverá enfrentar alguns riscos, principalmente de segmentos mais expostos à economia, como cartão de crédito e cheque especial.

“O aumento da inadimplência pode se intensificar à medida que a economia piora. Mas de qualquer forma, achamos que o setor é resiliente, consegue crescer carteira de crédito da mesma forma, mudando o mix, favorecendo o crédito mais seguro, como crédito para grandes empresas”, lembra.

Hidrelétrica de Furnas
A Toro destaca o segmento de transmissão, por operar com licitações e contratos longos, às vezes superiores a 30 anos, o que é uma vantagem entre os demais (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Elétricas

As elétricas também têm lugar especial nas preferências de analistas. Com longos contratos e geração de caixa garantido, esses papéis flutuam pouco na bolsa (e podem ser a proteção que faltava na carteira de investidores).

A Toro destaca o segmento de transmissão, por operar com licitações e contratos longos, às vezes superiores a 30 anos, o que é uma vantagem entre os demais, pelo fato de ter uma alta previsibilidade de receita.

“Por serem remuneradas diretamente por geradoras, distribuidoras e consumidores livres com base na disponibilidade da linha, as empresas de transmissão não dependem do volume de energia transmitido, além de serem parte do segmento que menos sofre diretamente com o risco hidrológico e suas sazonalidades”, afirma.

Entre os papéis, a corretora tem preferência por Transmissão Paulista (TRPL3), que “além de apresentar números sólidos ao longo do tempo e atuar no estado de São Paulo (rico em densidade demográfica e alta atividade industrial), tem um histórico consolidado quanto ao pagamento de dividendos.

Komura, da Ouro Preto Investimentos, cita outra empresa que atua no segmento de transmissão, a Alupar (ALUP11), além da Eletrobras (ELET3), a mais nova companhia privada da Bolsa e que passou por um processo de capitalização no primeiro semestre.

Eletrobras é uma empresa integrada, tem geração, transmissão e distribuição. Possui bastante potencial com a desestatização, melhoras em relação à governança, enxugamento da estrutura e toda a negociação em relação aos passivos. Tem um potencial enorme, por mais que o papel tenha subido bastante. Começou agora pelos conselheiros. São nomes bons e técnicos, nomes que agradam o mercado”, diz.

Varejo, mas não qualquer empresa

O setor de varejo talvez seja o que mais sofreu com a escalada da inflação e, consequentemente, dos juros. As varejistas da bolsa, como Magazine Luiza (MGLU3), Americanas (AMER3) e Via (VIIA3), por exemplo, lideraram as perdas. No entanto, o setor é extenso e inclui outros segmentos da economia, como o alimentício.

De acordo com com Komura, para o segundo semestre, vale ter Assaí (ASAI3) na carteira. A empresa que desmembrou suas operações do GPA, acumula alta de 12% no ano.

“Muitos consumidores já estão comprando marcas mais baratas, pensando no preço na hora de efetuar as compras. O modelo de atacarejo do Assaí tende a se beneficiar desse processo. Supermercados tradicionais podem ter perda de venda, enquanto o acatarejo tende a se beneficiar desse cenário mais adverso. Assaí ficou para trás do Carrefour (CRFB3) e isso não é justificável. Tem potencial em relação às lojas do Extra, multiplicando as lojas em até 5 vezes. Lojas bem localizadas e que possui bastante valor”, argumenta.

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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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