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Lorenzo Frazzon: o mundo cripto e os grandes investidores institucionais

11 fev 2020, 11:30 - atualizado em 29 fev 2020, 0:20
O mundo das criptomoedas está saindo do “underground” e com isso grandes parte dos investidores institucionais estão aderindo ao mercado de criptoativos (Imagem: Freepik/newfabrika)

Durante muitos anos, o mundo das criptomoedas esteve nas sombras. Sendo assim, era explorado somente por indivíduos corajosos que passavam por cima da ausência de regulações, custódia e transparência.

Agora, o cenário está mudando. Investidores institucionais estão entrando no jogo e o mercado das criptomoedas está saindo do “underground”.

Os “big players” têm poder para exigir mudanças em transparência e confiabilidade. Portanto, esse movimento de adesão traz, consigo, o desenvolvimento do mundo das criptomoedas.

Podemos vislumbrar um futuro de mais transparência, melhores serviços de custódia, desenvolvimento de novas opções de investimento e regulamentação.

A cada investidor institucional que as moedas digitais conquistam, novos investidores pensam em entrar nesse mercado. Dessa forma, a demanda pelas criptomoedas tende a crescer cada vez mais e consolidar o bitcoin e outras criptomoedas no mercado.

Neste artigo, trago a você os principais movimentos e iniciativas envolvendo grandes players do mercado tradicional nesse novo mundo das criptomoedas.

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A regra da maioria dos países é que instituições que operam em mercados financeiros convencionais não poderiam comercializar moedas digitais (Imagem: Freepik/drobotdean)

O mercado de criptomoedas nos maiores bancos do mundo

De 2015 até os dias de hoje, os maiores bancos do mundo — entre altos e baixos e passando por muitas relutâncias — tomaram um rumo em direção às moedas digitais.

A União Europeia — liderada pela Alemanha — está caminhando em direção à aprovação da custódia e comercialização de Bitcoin por bancos tradicionais, e a previsão é que isso ocorra ainda em 2020.

A regra da maioria dos países é que instituições que operam em mercados financeiros convencionais não poderiam comercializar moedas digitais. Entretanto, essa regra está caindo, o que daria aos bancos a possibilidade de incorporar criptomoedas entre seus ativos.

Julius Baer e Barclays

O banco privado suíço Julius Baer — presente em mais de 20 países — passou a oferecer, este ano, serviços de custódia e comercialização de criptomoedas. Isso só foi possível graças à parceria do banco com o SEBA — banco de moedas digitais da Suíça.

Em 2015, o banco inglês Barclays foi o primeiro a disponibilizar criptomoedas a seus clientes. O Barclays permaneceu nesse mercado por quase quatro anos, quando rompeu suas parcerias e deixou o mercado.

As justificativas para o abandono ainda não são conhecidas. Especula-se que os diretores não estavam mais dispostos a aceitar os riscos inerentes, mas que demandariam mudanças e entrariam novamente no mundo das criptomoedas.

Goldman Sachs é uma instituição tradicional que vem mudando sua postura em relação às criptomoedas (Imagem: Reuters/Brendan McDermid)

JPMorgan, Goldman Sachs e outros

JPMorgan e Goldman Sachs são duas das principais instituições financeiras dos Estados Unidos. São conhecidas no mercado das criptomoedas por repudiaram as moedas digitais, mas vêm mudando seu posicionamento desde 2018.

Meses após falar que as criptomoedas eram as piores bolhas financeiras que já existiram, o JPMorgan afirmou, em tom mais ameno, que a tecnologia Blockchain era real e que poderia revolucionar o mercado.

Outros bancos, como Citi, Santander e HSBC, estão dedicando esforços para elaborarem soluções de como entrar, da melhor forma possível, no universo Bitcoin. Não falta muito para que encontrem a solução.

O consenso é que os investidores institucionais já passaram da fase de desconfiança e finalmente estão no momento de pensar, de verdade, em como explorar esse mercado.

É preciso que os serviços cripto sejam seguros, rápidos e tecnologicamente eficientes para que investidores institucionais adotem essa classe de investimentos (Imagem: Freepik)

A demanda dos bancos

Em 2019, no Blockshow, na Ásia, foram entrevistados especialistas na área das criptomoedas. Uma das principais perguntas era: o que é preciso para que os bancos entrem no mercado de criptomoedas?

Justin Chow — nome-referência no mundo das moedas digitais — resumiu o assunto. De acordo com ele, é preciso custódia, liquidez e regulação. 

Essa são as três principais demandas para que investidores institucionais entrem no mercado.

Quando falamos de custódia, os investidores institucionais procuram serviços sofisticados. É preciso que sejam seguros, rápidos e tecnologicamente eficientes.

Os bancos estão ávidos para se sentirem seguros de uma vez por todas. O objetivo principal da comercialização das criptomoedas é conseguir chegar às gerações mais novas — Y e Z —, ou seja, pessoas acostumadas à tecnologia e aos riscos.

A criação de criptomoedas por parte do Estado é uma forma de se proteger de ataques especulativos e aumentar a capacidade de autofinanciamento (Imagem: Freepik)

O mundo das criptomoedas nos Bancos Centrais

Depois do anúncio do Facebook de lançar a Libra, muitos Bancos Centrais ao redor do mundo estão correndo para criar suas próprias moedas digitais. Dentre esses países, estão China, Japão, Canadá, Suíça, Ucrânia, Reino Unido e Noruega.

A criação de criptomoedas por parte do Estado é uma forma de se proteger de ataques especulativos e aumentar a capacidade de autofinanciamento, além de ser uma solução adicional para problemas cambiais.

A moeda digital de maior potencial para abalar a estrutura econômica do mundo é o yuan digital chinês. Especula-se que a aderência massiva a esse meio de pagamento poderia colocar a supremacia do dólar em cheque.

Essa adesão da população chinesa parece quase certa, uma vez que já é acostumada ao uso da tecnologia na sua rotina. Grande parte dos pagamentos no país são feitos pelo celular, usando o Wechat ou o Alipay.

A corrida com o Facebook se dá porque os especialistas projetam que quem lançar sua moeda digital primeiro ganhará o mercado. Dificilmente uma população se dividirá em seus meios de pagamento, de forma que o primeiro — se tiver qualidade — terá sucesso.

Como a regulação com a parceira de Bakkt é grande, essa certamente é uma porta de entrada para os investidores institucionais (Imagem: Money Times)

Exchange Bakkt

Em 23 de Setembro de 2019, iniciou-se a negociação de contratos futuros pela Bakkt — exchange sócia da Bolsa de Nova York. Além da comercialização de contratos futuros, também é possível adquirir créditos em Bitcoin — alavancagem. A corretora está disposta a assumir esse risco.

A liquidação das transações é D+1, quase um mercado à vista. Isso foi feito para enquadrar a bolsa nas regras da CFTC, agência reguladora dos Estados Unidos, responsável pelos mercados futuros.

Como a regulação com a parceira de Bakkt é grande, essa certamente é uma porta de entrada para os investidores institucionais. Eles confiam na liquidação e na custódia da Bolsa de Nova York.

Os “big players” podem começar a transacionar criptomoedas e exigir ainda mais produtos financeiros, tecnologias e transparência, de tal forma que o mercado tende a se desenvolver cada vez mais no decorrer do tempo.

Além dos contratos futuros, nota-se também o crescimento das negociações de opções que são instrumentos financeiros que ampliam as possibilidades estratégicas

Cria-se a possibilidade de movimentos defensivos e outras jogadas arrojadas de criptoativos.

Esse já é um mercado que movimenta trilhões no mundo financeiro tradicional. Inclusive, existem exchanges reguladas oferecendo esse serviço como Ledger e a CME. Esta última acabou de lançar um produto de derivativos financeiros para investidores institucionais.

Como consequência dessa aderência gradual dos investidores institucionais, veremos a consolidação do poder dessas moedas (Imagem: Freepik/gesrey)

O que podemos esperar daqui para frente?

O caminho para que o mundo das criptomoedas saia das sombras já está pavimentado. Muitas instituições já estão começando sua jornada com destino a esse mercado.

Ainda são demandadas regulamentações para dar mais segurança aos “big players”. Até agora, só os mais propensos ao risco estão se jogando à frente. 

Mas é um consenso de que não há volta para as criptomoedas, e que as desconfianças deram lugar aos ajustes e ao tempo.

Até podemos dizer que as criptomoedas já não estão mais no “underground”. Para uma parcela significativa da população, são mais “mainstream” do que muitos ativos financeiros tradicionais.

Como consequência dessa aderência gradual dos investidores institucionais, veremos a consolidação do poder dessas moedas. Será momento em que nosso estilo de vida sofrerá, de uma vez por todas, uma mudança significativa.

Espero que tenha gostado do artigo. Qualquer dúvida, entre em contato conosco pelas redes sociais. Ficaremos gratos em te ajudar.

Lorenzo Frazzon atua no mercado financeiro desde 2007, atendendo investidores de alta renda e detém R$ 100 milhões em ativos sob consultoria desses clientes. É economista, possui mestrado em Engenharia e é Analista de Investimentos Regulamentado (CNPI), além de ser estrategista-chefe e Fundador da Investtor.

Fundador da Investtor
Atua no mercado financeiro desde 2007, atendendo investidores de alta renda e detém R$ 100 milhões em ativos sob consultoria desses clientes. É economista, possui mestrado em Engenharia e é Analista de Investimentos Regulamentado (CNPI), além de ser estrategista-chefe e Fundador da Investtor.
lorenzo.frazzon@moneytimes.com.br
Atua no mercado financeiro desde 2007, atendendo investidores de alta renda e detém R$ 100 milhões em ativos sob consultoria desses clientes. É economista, possui mestrado em Engenharia e é Analista de Investimentos Regulamentado (CNPI), além de ser estrategista-chefe e Fundador da Investtor.