Eleições 2022

Lula na eleição: Vêm aí os “Faria Lulers”, os investidores que não temem o petista?

16 fev 2022, 13:34 - atualizado em 16 fev 2022, 13:40
Mercado espera que Lula seja moderado na política economia
O ex-presidente lidera as intenções de voto nas pesquisas eleitorais (Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

Todas as pesquisas de intenção de voto realizadas pelas principais instituições do país têm mostrado o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) vencendo as eleições de 2022 em todos os cenários postos — inclusive, com perspectivas de faturar a disputa já no primeiro turno.

Apesar de ter uma base de eleitores consideravelmente robusta, o presidente da república Jair Bolsonaro (PL) segue em segundo lugar em todos os levantamentos, com uma considerável diferença em relação ao petista.

As eleições só acontecem, de fato, em outubro. O primeiro turno será no dia 2, e um eventual segundo turno acontecerá no dia 30 do mesmo mês.

Isso significa que ainda há muito para acontecer até lá, mas os dados apresentados hoje desenham um possível cenário de vitória de Lula e da volta do PT ao Poder Executivo.

Lula e os 800 mil empresários

A política econômica do governo petista, no entanto, nem sempre agradou ao mercado. Basta lembrar que, em outubro de 1989, o então presidente da Fiesp, Mario Amato, afirmou que pelo menos “800 mil empresários” abandonariam o país, se o ex-sindicalista vencesse a eleição contra Fernando Collor.

Em 2002, mesmo adotando o figurino “Lulinha, Paz e Amor”, idealizado pelo marqueteiro Duda Mendonça, a perspectiva de vitória fez o dólar disparar e a Bolsa mergulhar. Para acalmar os ânimos, foi preciso que Lula escolhesse um empresário respeitado como vice, o ex-presidente da Coteminas, José Alencar, e lançasse a Carta aos Brasileiros, direcionada sobretudo para os grandes investidores, garantindo respeitar contratos e não adotar nenhuma heterodoxia econômica.

Agora, encabeçando novamente a corrida presidencial, mais calejado e ciente de que, para faturar o pleito no primeiro turno, é necessário atrair também eleitores moderados de centro, Lula tem dado sinais de “aceno” aos donos do dinheiro, como por exemplo, ao escolher Geraldo Alckmin, tucano de carreira na vida pública, como seu vice-presidente. A aliança deve ser oficializada em breve. 

Para o cientista político e professor da FGV Cláudio Couto, isso é uma clara sinalização por parte de Lula do que pode ser o seu eventual novo mandato.

“Alckmin foi o mais longevo governador de São Paulo, sempre pelo PSDB, que polariza com o PT desde a década de 90. Você não chama [alguém assim] para a sua chapa se não estiver mirando um governo mais amplo, mais voltado para o centro”.

Mercado começa a sorrir para Lula?

Bahia Asset avaliou que a perspectiva de um “Lula mais moderado” também contribuiu para o desempenho positivo da bolsa em janeiro . (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Couto avalia que já é possível afirmar que o mercado começa a “aceitar” Lula de alguma forma. “A percepção é que analistas internacionais olham de forma muito mais positiva para o Lula do que para o Bolsonaro. Lula é profundamente pragmático, diferente do presidente que é profundamente ideológico. Isso significa que ele vai procurar estabelecer políticas para o seu governo da forma que ele consegue”.

O governo Bolsonaro tem sido alvo de críticas pelo que pode ser interpretado como “irresponsabilidade fiscal” apontada não apenas por agentes do mercado, mas também pela própria administração pública.

Além da questão ainda não resolvida sobre um possível reajuste para os servidores federais, no último dia 4, o presidente sancionou um aumento salarial para os professores do magistério de mais de 30%. A decisão foi apontada como um erro por prefeitos e governadores, que alegam não ter como subsidiar o reajuste.

“[Ele tem] a ideia de que produzindo algum tipo de transferência de recursos, isso também vai lhe trazer retorno. E isso causa um problema inflacionário certo. Essa transferência de recursos teoricamente era pra ser suficiente para compensar as perdas econômicas que a população teve em outras frentes”.

André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, destaca que para o mercado, Bolsonaro mandou os “bons modos monetaristas às favas” com o aumento de gastos, sobretudo com os reajustes salariais e de benefícios e com a tal da PEC “Kamizake”, de autoria do senador Carlos Fávaro (PSD-MT), que propõe a redução de tributos que incidem sobre os preços do diesel, biodiesel, gás e energia elétrica.

Ainda assim, Perfeito pondera que essas medidas consideradas populistas podem ser boas para angariar votos na eleição, o que daria ao presidente um certo “bônus político”. Desta forma, Bolsonaro não seria ainda carta fora do baralho.

“Dois grandes gestores do mercado [Luiz Stuhlberger, CEO da Verde Asset, e Rogério Xavier, fundador da SPX Capital], que são gestores acima de qualquer suspeita, vieram se manifestar a respeito de uma posição menos alarmada sobre uma volta do presidente Lula. Acho que isso reflete um sentimento geral sobre ser difícil separar o joio do trigo. Não sei se o mercado não tem tanto problema com o Lula ou se a situação está tão ruim que aparentemente se tornou algo indiferente”. 

O economista se refere às falas de Stuhlberger e Xavier em evento do Credit Suisse no início do mês. Xavier falou, por exemplo, que as pessoas podem falar o que quiserem, mas no exterior, “Lula faz sucesso”.

“Quando digo isso, acham que sou petista, mas nem voto mais no Brasil, não tenho mais esses vieses, eu torço para que o Brasil continue no caminho da prosperidade, do emprego e da renda, mas não matem o mensageiro: as pessoas gostam do Lula aqui fora e não gostam do Bolsonaro”.

Stuhlberger avaliou que o presidente já “quase ganhou a eleição”, e que ele não acredita que um “Lula revanchista, ou sindicalista, ou de esquerda vão predominar.”

Sobre a aversão a Bolsonaro, há quem defenda que para o mercado, ele e Lula seriam “mais do mesmo”. A tese da indiferença é defendida por Vitor Benndorf, fundador da casa de análises Benndorf, que vê semelhanças nas políticas econômicas nos governos dos dois adversários.

“O que o mercado não gosta é de indefinição e do desconhecido. Porém nós temos conhecidos, a gente sabe exatamente o nome dos players, a gente quem é o Bolsonaro e o Lula. Nós temos exatamente o que vamos encontrar, que são duas políticas populistas, pró-gastos e não tão preocupadas com o controle fiscal. Em relação à eleição a gente não vê tenta quebra de expectativa. O que pode trazer volatilidade é a retórica de cada um”.

Qual Lula e qual PT vão governar

Mercado teme um eventual novo governo Lula próximo do que foram os mandatos de Dilma. (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, avalia que uma questão a se observar por parte do mercado é qual PT governará o país — se algo mais próximo ao que foi o primeiro mandato do ex-presidente Lula ou, em contraste, o PT dos governos Dilma Rousseff (PT).

Ele diz, no entanto, que o mercado observa a recuperação importante de alguns ativos, como o Ibovespa, o que faz com que observe com “bons olhos” o processo eleitoral.

O Bahia Asset avaliou que a perspectiva de um “Lula mais moderado” também contribuiu para o desempenho positivo da bolsa em janeiro, por exemplo.

“O mercado está apostando que vai ser o primeiro mandato, é o que os preços estão dizendo. Eu, sinceramente, tenho dúvidas, mas adoraria que fosse. Tudo o que a economia brasileira precisa é um pouco de sossego para colocar as coisas em ordem. Mas tem um risco enorme de ser parecido com o segundo governo. Apesar das sinalizações de Lula, não podemos esquecer o que aconteceu nos últimos seis anos”.

Silveira, da Nova Futura, cita como as sinalizações a presença de Alckmin como vice na chapa e, por exemplo, uma não participação de Guido Mantega em um eventual futuro governo petista.

No último dia 31, o ex-ministro da Fazenda afirmou em entrevista à Bloomberg que não pretende voltar à pasta da Economia em um eventual novo governo Lula.

“Não pretendo voltar. A economia tem ciclos. Você fica com a parte boa, mas se a economia não funciona, a culpa é do ministro. Fiquei no governo por 12 anos seguidos. Já dei a minha parte”.

O economista esteve à frente da Fazenda nos dois mandatos do ex-presidente Lula e no primeiro mandato de Dilma, não é bem visto pelo mercado.

Considerando esses fatores de forma “isolada”, Silveira destaca que é possível crer em um governo mais amplo que privilegie o ajuste fiscal e a queda dos juros reais, fórmula que deu certo nos primeiros anos do governo.

“Mas se você ampliar um pouco o foco, vão sobrar economistas da nova geração [próximos a Lula] que, na minha opinião, são tão desastrosos como o Guido Mantega, que tem uma visão de política fiscal absolutamente diferente da visão do primeiro mandato e entendem a política econômica fiscal exatamente como Mantega entende. Se você amplia um pouco o foco, o que você enxerga é uma ambiguidade latente ainda presente na candidatura”.

“A gente pode até tentar imaginar. Mas se ele vai escolher um ministro à lá Henrique Meirelles ou à lá Guido Mantega, isso vai ser decidido por ele”, diz.

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Jornalista paulistana formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e editora do Money Times. Passou pelas redações da CNN Brasil e TV Globo como produtora, VOCÊ S/A e VOCÊ RH como repórter e Exame.com como redatora estagiária.
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