Brasil

Lula nas eleições: ‘Centrão não tem disposição ideológica. Político faz conta para se reeleger’, diz especialista

15 abr 2022, 11:00 - atualizado em 14 abr 2022, 16:15
Lula
Especialista avalia que é natural que os partidos queiram apresentar seus próprios candidatos e descolar a pecha de “centrão”. (Imagem: REUTERS/Carla Carniel)

No início desta semana, o ex-presidente Lula (PT) se reuniu com alguns dos nomes mais relevantes do MDB durante um jantar em Brasília na casa do senador Eunício Oliveira.

O encontro foi articulado pelo também senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos coordenadores da campanha eleitoral do petista, e por Renan Calheiros (MDB-AL), aliado antigo de Lula.

O encontro contou com a presença de alguns dos principais caciques emedebistas. A principal pauta do jantar foi, evidentemente, a eleição.

O ex-presidente Lula foi, inclusive, criticado por alguns dos presentes por sua fala recente sobre o aborto no Brasil. Os políticos destacaram que a pauta de costumes é sensível e só fortalece a candidatura de Jair Bolsonaro (PL), abertamente contrário à questões do tipo.

A relação entre PT e o MDB — que já foi o maior partido do chamado “Centrão” — é antiga, mas ficou estremecida após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, visto que a legenda de Michel Temer foi uma dos articuladoras do processo.

Carlos Melo, cientista político do Insper, avalia que ainda que a militância possa questionar a aproximação de Lula com o MDB ou outros partidos de centro, não há muito o que se fazer sobre.

“Você pode torcer o nariz, a [ala mais à] esquerda do PT vai ficar indignada, mas vai fazer o quê? Votar em outro candidato? O Lula sabe disso. Ao mesmo tempo que ele também sabe que se não fizer uma inflexão ao centro, se ele ficar só na esquerda, não vai ganhar a eleição. Existe um antibolsonarismo muito forte, mas tem o antipetismo também”, avalia.

A própria escolha de Geraldo Alckmin (PSB), ex-governador de São Paulo que foi tucano por 33 anos, mostra o aceno que o petista faz para o eleitor que não vota tradicionalmente na esquerda.

Quem o Centrão escolhe?

Jair Bolsonaro e Ciro Nogueira
Ciro Nogueira (PP-PI) é ministro-chefe da Casa Civil no governo Bolsonaro (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Os partidos de Centro, que já se aliaram a Lula outrora e apoiaram o impeachment de Dilma também já acenaram para Bolsonaro durante a sua gestão.

O atual presidente, que criticou duramente durante a sua campanha em 2018 as “barganhas” e concessões que o Planalto fazia ao se aliar ao Centrão, também precisou fazer o mesmo.

Hoje quem chefia a Casa Civil, antes ocupada por Onyx Lorenzoni, é Ciro Nogueira (PP-PI). Melo destaca que historicamente o Centrão é contraditório porque o que se sobressai são os interesses regionais.

“O Centrão é uma federação de grupos com interesses regionais, e aí eles são muito pragmáticos. Vamos imaginar que no Piauí, terra do Ciro Nogueira, o clima seja mais Lulista, o Wellington Dias [governador do Estado], que é do PT, tenha uma aprovação grande e um candidato forte para a sucessão. Ele vai ser apoiado pelo MDB de lá, por exemplo. É claro que o Ciro Nogueira não vai sair por aí dizendo que vota no Lula, mas ele vai liberar a base”, diz.

“Já em Santa Catarina o número é mais conservador, antipetista. Ou seja, o que esses partidos são, antes de tudo, são pragmáticos. [Eles pensam]: ‘vou eleger mais deputados em Santa Catarina se eu estiver com Bolsonaro. No Piauí, vou eleger se eu estiver com Lula. No final, vou ter um número de deputados que vai me permitir barganhar espaço no próximo governo’.”

O cientista político avalia que é porque isso que o Centrão não tem disposição ideológica, além do senso de oportunidade política baseada na concessão de recursos públicos.

Ele cita como exemplo a posição de Gilberto Kassab, presidente do PSD, que tem sido sondado pelo PT. “Todo mundo percebe o Kassab é mais Lula do que Bolsonaro. Mas o Kassab não é dono do PSD. Então na Bahia, por exemplo, o PSD é Lula, mas no Rio Grande do Sul é Bolsonaro. Kassab não pode decidir pela vontade dele, ele preside um partido, mas não manda nos filiados”.

Marco Antonio Teixeira, cientista político da Fundação Getulio Vargas (FGV) também destaca o peso da política regional tem para esses parlamentares e também lembra que o PT sempre foi um partido heterogêneo, ou seja, que entende a importância de criar alianças.

“São situações que significam escolhas. É bom lembrar que isso não é novidade na política brasileira. Sarney virou vice de Tancredo, Prestes apoiou Vargas mesmo após Vargas deportar Olga Benário. Na política, a conjuntura importa muito. Fazer alianças pode viabilizar a eleição. E tem outra questão ainda mais importante: se o Lula ganhar a eleição, ele vai ter que governar com essas pessoas. Então o diálogo é importante”, diz.

A terceira via do Centro

Simone Tebet
Simone Tebet é a pré-candidata do MDB para disputar a presidência da República (Imagem: Reuters/Adriano Machado)

Apesar da desistência de Sergio Moro (União Brasil), a tal “terceira via” ainda tenta emplacar um candidato — ou seja, alguém que seja alternativa tanto a Lula como a Bolsonaro, os dois primeiros colocados na disputa.

Foi por isso que MDB, União Brasil, PSDB e Cidadania, legendas que se identificam como integrantes do campo ideológico de centro, formaram uma espécie de “consórcio” no último dia 6 e anunciaram que vão lançar um nome único para concorrer ao Planalto. O anúncio deve acontecer no dia 18 de maio.

Os presidentes dos quatro partidos, Luciano Bivar (União Brasil), Baleia Rossi (MDB), Bruno Araújo (PSDB) e Roberto Freire (Cidadania) destacaram em nota que “reafirmam tratativas para apresentar um candidato(a) à Presidência da República como a alternativa no campo democrático”.

Ou seja, ainda que o apoio de parte desses partidos partidos possa ser disputado tanto por Lula como por Bolsonaro, ao menos por enquanto algumas das legendas ainda insistem em ter candidato próprio.

No último domingo (10), durante sua fala no Brazil Conference, Simone Tebet destacou que ela, o ex-governador João Doria (PSDB) e o deputado federal e presidente do União Brasil, Luciano Bivar, são os nomes cotados para a candidatura única que a tal terceira via pretende lançar.

“Eu, João Doria e Luciano Bivar, que somos os pré-candidatos desse centro, demos uma procuração simbólica aos presidentes do partido para analisarem quem será o nome. Todos nos obedeceremos a essa regra. Estamos reunidos porque o que queremos é o bem do Brasil”, disse.

Ainda que os nomes fiquem atrás Lula, Bolsonaro e até de Ciro Gomes (PDT) nas pesquisas eleitorais, Melo avalia que é natural que os partidos queiram apresentar seus próprios candidatos e descolar a pecha de “centrão” que carregaram nos últimos anos.

“Pensando na lógica de demanda, tem uma parte do eleitorado, em torno de 25%, que diz que não quer nem Lula e Bolsonaro. Então existe esse raciocínio lógico, porém superficial, em que as pessoas dizem que há espaço para mais um candidato, para um terceiro nome. Só que todo mundo quer ser esse terceiro nome. O contingente está fragmentado. Quando você tira o Moro da jogada, pensa: ‘quem ganha?’. Ninguém ganha”.

É por isso que ele acredita que ainda que as chances sejam pequenas, para algumas legendas o melhor é ter um candidato próprio.

“Para alguns partidos, a vantagem é muito grande, porque você pode falar: tentei com fulano, cicrano ou beltrano e não deu certo. Então tudo bem, vou ganhar votos de quem apoia Bolsonaro no lugar x e de quem apoia Lula no lugar y. É racional? É absolutamente racional. É ideológico? Claro que não. Mas quem fica esperando essa pureza ideológica é a esquerda do PT e a parte mais radical do bolsonarismo. Fora isso, a política tem que ser pragmática. Político faz conta para se reeleger”, diz.

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