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Max Bohm: Duros de matar

29 maio 2020, 14:12 - atualizado em 29 maio 2020, 14:15
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“Enfim, com este cenário bastante desafiador, será que os bancos sobrevivem a mais esta crise?” questiona o colunista

Eles são sobreviventes. Foram diversas crises enfrentadas pelos bancos brasileiros nas últimas décadas: hiperinflação nos anos 1980, congelamento de preços e confisco de poupanças no Plano Collor, crise financeira mundial de 2008 e, por último, a maior recessão econômica vivida pelo Brasil, entre 2015 e 2017.

Depois de tanta paulada, podemos dizer que os nossos bancos são calejados, mas agora se deparam com as consequências de mais uma crise em suas histórias. Será que o “Quarteto Fantástico” (ItaúITUB4, BradescoBBDC4, SantanderSANB11 e Banco do BrasilBBAS3) e companhia vão se safar de mais essa?

Fato é que desta vez não é somente uma força macroeconômica que pode afetar negativamente os resultados dessas instituições financeiras. O sistema financeiro brasileiro está sob ataque e os inimigos estão mais perto do que se imagina.

Se não bastassem todos os desafios que os bancos terão que lidar nos próximos meses com a economia retraindo mais de 5% neste ano, o setor ainda está tendo que absorver redução nos tetos dos juros aplicados aos consumidores, decretada pelo Banco Central (BC), e aumento nos impostos, em discussão no Congresso.

Não estou aqui defendendo os bancos, somente expondo que a realidade para eles tem se mostrado mais difícil.

Controvérsias

Nesse sentido, visando aumentar a competição e deixar o crédito mais acessível a um maior número de pessoas (atitude louvável), o BC vem promovendo uma série de medidas para facilitar a entrada de novas fintechs no mercado bancário.

Essa relação BC–bancos tem sido um tanto quanto controversa, pois, no final de março, quando o bicho começou a pegar, o órgão regulador recorreu ao Quarteto Fantástico para preservar e oferecer liquidez para indivíduos e microempresários neste momento.

Foi mais ou menos assim: Itaú, Bradesco, Santander e BB, me ajudem porque senão nossa economia vai para o buraco.

Os bancos concordaram em postergar prestações em 60 dias para indivíduos e microempresários e conceder novos empréstimos a pequenas e médias empresas para pagamento de folha salarial, em troca da não demissão de seus funcionários.

O que estamos vendo é que esse programa de financiamento à folha de pagamento não tem sido tão eficiente. Ou porque há vários critérios nos quais as pequenas e médias empresas não conseguem se enquadrar, ou pela falta de estímulo dos bancos em emprestarem recursos diante de um grande risco de inadimplência à frente.

E esse ponto talvez seja a maior preocupação do sistema neste momento.

Inadimplência

Com a infeliz escalada do desemprego, as pessoas não conseguirão pagar as prestações de seus empréstimos e o aumento dos calotes é algo iminente.

Para se precaver a este cenário negativo, os grandes bancos reforçaram suas provisões a fim de prepararem seus balanços para o pior. O único que ficou de fora dessa linha de ação foi o Santander, mas ele deve seguir o caminho dos seus concorrentes agora no segundo trimestre.

Esse aumento no provisionamento tem uma consequência direta: queda nos lucros. As estimativas dos analistas já consideram uma retração de 30% a 40% na média dos lucros dos grandes bancos (Itaú, Bradesco, BB e Santander) em 2020 na comparação com 2019.

Caso a redução nas taxas de juros do cartão de crédito e do cheque especial e o aumento da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) entrem em vigor, essa queda na média do lucro pode chegar a 50% em relação ao ano passado.

Zero a zero

Não à toa, as ações do setor financeiro estão mais pressionadas nos últimos meses. Enquanto o Ibovespa subiu quase 20% desde o início de abril, os bancos ficaram perto do zero a zero (a exceção foi a ação do Banco do Brasil, que sobe 10% no período com rumores de privatização no futuro).

Enfim, com este cenário bastante desafiador, será que os bancos sobrevivem a mais esta crise?

A minha opinião é que sim, mais uma vez. Por quê?

Nossos bancos são sólidos e líquidos, fazendo inveja para instituições financeiras americanas, europeias e asiáticas. São amplamente diversificados em produtos e serviços, bem capitalizados e, o mais importante, altamente rentáveis.

Felizmente, os grandes bancos têm gordura para queimar e, mesmo com uma possível queda de 50% nos seus lucros, eles ainda conseguem entregar uma rentabilidade acima dos grandes bancos norte-americanos, como JP Morgan e Bank of America.

O Banco Central está tranquilo. Temos baixíssimo risco de crédito, solvência e liquidez no sistema.

Mesmo diante de uma das maiores crises econômicas da história, os bancos brasileiros vão provar que são duros de matar.

 

 

Equity Research, CNPI, CGA
Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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