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Mercado antecipa reversão do quadro de juros negativos em 2021

15 dez 2020, 14:34 - atualizado em 15 dez 2020, 14:34
Mercados
Os traders agora acham improvável um movimento dos juros para abaixo de zero, com as autoridades favorecendo amplamente uma nova combinação “convencional” de compras de títulos de dívida e programas de ajuda a setores específicos (Imagem: Pixabay)

No auge da pandemia, parecia apenas questão de tempo até que os juros negativos — último recurso dos bancos centrais — governassem os mercados globais.

A estratégia controversa gerou resultados mistos na zona do euro e no Japão. Mas os operadores de mercado apostavam no começo do ano que bancos centrais de Nova Zelândia, Reino Unido e até mesmo dos EUA estavam destinados a seguir o exemplo. Os três países foram os que cortaram suas taxas básicas de juros de maneira mais agressiva durante a fase mais restritiva do confinamento exigido pelo coronavírus. Porém, nenhum dos três chegou aos juros negativos.

Os traders agora acham improvável um movimento dos juros para abaixo de zero, com as autoridades favorecendo amplamente uma nova combinação “convencional” de compras de títulos de dívida e programas de ajuda a setores específicos.

Claro que trilhões de dólares em dívidas continuarão sendo negociados com rendimento negativo, garantindo perdas para quem mantiver os papéis em carteira até o vencimento. Mas com a volta do otimismo em relação ao crescimento global, investidores preveem que os rendimentos vão subir, não cair.

“Bancos centrais que ainda não têm juros negativos serão muito cautelosos ao cruzar essa linha”, disse James Ashley, responsável pela estratégia para mercados internacionais na Goldman Sachs Asset Management.

Se as autoridades precisarem impulsionar o crescimento econômico, “seria mais prudente simplesmente contarem com ferramentas não convencionais, como compras de ativos em grande escala”.

Experiência Ousada

No que foi um dos experimentos monetários mais ousados do século 21, os juros negativos foram implementados após a crise financeira para reduzir os custos de captação e penalizar bancos que acumulam em vez de emprestar dinheiro. As consequências para os mercados de títulos foram amplas e duradouras: o ritmo de negociações e os rendimentos despencaram.

O estoque mundial de dívidas com rendimento negativo subiu para um recorde de mais de US$ 18 trilhões neste mês. As taxas dos títulos espanhóis com prazo de 10 anos caíram para abaixo de zero pela primeira vez.

Mesmo com a estratégia de juros abaixo de zero, tanto a Europa quanto o Japão têm crescimento fraco e não conseguiram impulsionar a inflação para atingir as metas definidas pelos bancos centrais.

De fato, as taxas negativas podem ter corroído os lucros das instituições financeiras e prejudicado os poupadores. Jerome Powell, presidente Federal Reserve, o banco central americano, afirmou em maio que “as evidências sobre as taxas negativas são ambíguas”.

“O Fed estudou políticas do Banco do Japão e do Banco Central Europeu”, lembra Kenta Inoue, economista sênior de mercado da Mitsubishi UFJ Morgan Stanley Securities em Tóquio. “Neste momento, não há evidências sugerindo que a política de taxas negativas tenha impacto positivo na economia e nos mercados.”

De certa forma, os bancos centrais que não tomaram este rumo foram poupados da decisão de levar os juros para território negativo graças ao sucesso de políticas alternativas e à melhora no cenário econômico global. Liderada pelo Fed, a enxurrada de liquidez para o sistema financeiro reduziu os custos de captação. Além disso, o rápido progresso no desenvolvimento de vacinas antecipou as previsões de retorno à normalidade.

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