Inteligência Artificial

Mercado de IA vive bolha ou grande ciclo fundamentado? Análise do Deutsche Bank aponta sinais de alerta

16 dez 2025, 13:32 - atualizado em 16 dez 2025, 13:32
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(Imagem: Nikada/iStock)

A forte valorização das ações de tecnologia e o volume recorde de investimentos em inteligência artificial (IA) reacenderam um velho temor entre investidores: estaríamos diante de uma nova bolha, semelhante à da internet no fim dos anos 1990?

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Para o Deutsche Bank, a resposta não é simples — e passa por reconhecer que não existe apenas uma “bolha de IA”, mas várias narrativas distintas convivendo ao mesmo tempo.

Em relatório divulgado para o mês de dezembro, o banco afirma que os alertas sobre uma bolha são, por ora, exagerados, mas reconhece que há sinais de risco relevantes no radar.

A análise propõe separar o debate em três dimensões principais — valuations, investimentos e tecnologia — e mostra por que algumas áreas lembram ciclos especulativos passados, enquanto outras seguem sustentadas por fundamentos sólidos e demanda real.

Valuations elevados não são toda a história

Do lado dos sinais de alerta, o Deutsche Bank destaca que o Shiller CAPE do S&P 500, que faz uma avaliação do preço do mercado, já ultrapassou 40, nível próximo ao observado na bolha da internet, quando o indicador atingiu cerca de 44 pontos.

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O dado sugere que o mercado como um todo negocia próximo de patamares historicamente esticados, o que aumenta a sensibilidade a choques macroeconômicos ou frustrações de resultados.

Por outro lado, o banco ressalta que, diferentemente de 1999–2000, a alta recente das ações de tecnologia tem sido liderada por crescimento de lucros, e não apenas por expansão de múltiplos.

O prêmio de valuation do setor tech em relação ao restante do S&P 500 gira em torno de 60%, patamar que o Deutsche Bank considera compatível com um diferencial de crescimento de lucros superior a 20%.

Além disso, as maiores distorções de preço não estão nas empresas listadas, mas sim em companhias privadas e ainda não lucrativas.

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O relatório cita múltiplos elevados em nomes como OpenAI e Anthropic, enquanto empresas como Nvidia, Microsoft, Google e Amazon negociam a preços mais moderados quando comparados à geração de caixa e às receitas já existentes.

Investimentos em IA ainda financiados por caixa

Outro ponto central do debate é o volume de investimentos. Segundo o Deutsche Bank, o Capex global em data centers e infraestrutura de IA pode alcançar US$ 4 trilhões até 2030, um número sem precedentes.

No entanto, o banco argumenta que o ciclo atual difere do passado porque os hyperscalers estão financiando a maior parte desses investimentos com fluxo de caixa próprio, e não com endividamento excessivo ou emissões especulativas.

O Capex do setor de tecnologia permanece abaixo de 40% do Ebitda, nível inferior ao observado no fim dos anos 1990 e alinhado ao restante do S&P 500. Além disso, os retornos já começaram a aparecer.

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O Deutsche Bank observa uma alta consistente do retorno sobre o capital investido (ROIC) das grandes empresas de tecnologia desde o início do ciclo de IA, impulsionada por demanda corporativa por serviços em nuvem, ferramentas baseadas em IA e ganhos de eficiência, especialmente em desenvolvimento de software.

No campo tecnológico, o banco reconhece que a IA generativa segue apresentando falhas, como alucinações, dificuldades de aplicação em larga escala e custos elevados de treinamento.

Há também o risco de que a escalada de poder computacional encontre barreiras físicas, como limites na movimentação de dados entre chips e no consumo de energia.

Ainda assim, o relatório argumenta que a tecnologia não “bateu no muro”. Avanços recentes, como o lançamento do Gemini 3 pelo Google, indicam que o escalonamento continua entregando ganhos relevantes de capacidade, especialmente em tarefas multimodais e de raciocínio.

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Ao mesmo tempo, os custos dos modelos vêm caindo rapidamente, o que estimula novos usos e amplia a demanda — um fenômeno descrito pelo banco como aplicação do Paradoxo de Jevons à IA, já que indicaria ganho de eficiência e ampliação de usuários.

IA já sustenta o crescimento da economia americana

O Deutsche Bank destaca ainda que o impacto da IA vai além do mercado financeiro. Segundo o relatório, a economia dos EUA estaria próxima de uma recessão em 2025 se não fosse o investimento em tecnologia, especialmente em software, equipamentos de TI e infraestrutura ligada à inteligência artificial.

Outros componentes do gasto privado permanecem praticamente estagnados no período pós-pandemia

Esse ponto reforça a tese de que, mesmo com riscos crescentes, a IA já se tornou um pilar do crescimento econômico, o que dificulta comparações diretas com bolhas puramente especulativas do passado.

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O que pode dar errado

Apesar do tom relativamente construtivo, o Deutsche Bank lista cinco riscos principais que poderiam transformar o atual boom em um bust:

  • Valuations sustentados por financiamento circular, com acordos complexos entre empresas de IA, provedores de nuvem e fabricantes de chips;

  • Aumento do endividamento, caso os custos de infraestrutura continuem subindo;

  • Retornos tecnológicos decrescentes, caso a escalada de modelos fique cada vez mais cara e menos eficiente;

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  • Reação social e política, com resistência a IA por medo de perda de empregos, privacidade e controle;

  • Gargalos de oferta, especialmente em energia elétrica e semicondutores, que podem atrasar a adoção e elevar custos

Se houver uma bolha, segundo o banco, ela parece estar em estágio inicial — e sair cedo demais pode significar abrir mão de ganhos relevantes, como ocorreu anos antes do estouro da bolha da internet.

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Repórter estagiário no Money Times, graduando em jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP). Cobre empresas, mercados e agronegócio desde 2024.
Repórter estagiário no Money Times, graduando em jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP). Cobre empresas, mercados e agronegócio desde 2024.

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