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Messi, Realidade Aumentada e Disney: Apple é ótima empresa, mas não um ótimo investimento

09 jun 2023, 16:09 - atualizado em 09 jun 2023, 16:11
Apple, iOS 17
Apple teve lançamento significativo nesta semana, após quase uma década do Apple Watch (Imagem: Unsplash/Laurenz Heymann)

A semana — mais curta para nós, brasileiros, por conta do feriado de Corpus Christi — ficou marcada pelo lançamento do óculos de realidade aumentada da Apple (AAPL)

Nomeado Vision Pro, este é o primeiro lançamento relevante em quase uma década da criadora do iPhone. A última grande novidade havia sido o Apple Watch, lançado em 2015.

Li diversas análises de como o produto é parecido com o óculos do mascote da Sadia, diferenciado em relação aos outros óculos que já existem no mercado, sendo o principal deles o Quest (desenvolvido pela Meta, dona do Facebook).

Não tenho dúvidas da capacidade da Apple de conseguir inovar nos mais diversos segmentos. Este sempre foi — e parece que continuará sendo — um grande diferencial da companhia em relação às demais.

Tornar produtos que até então não eram tão intuitivos para o grande público não vem de hoje. 

Primeiro foi o Mac, no segmento de computadores pessoais; depois com o seu smartphone, que criou uma nova economia que colocou a vida das pessoas na palma da mão; até mesmo com o smartwatch que oferece (que, apesar de não ser extremamente inovador, adicionou funcionalidades que caíram no gosto dos consumidores).

Não à toa estamos falando da maior empresa do mundo em valor de mercado, se aproximando novamente da marca de US$3 trilhões.

Cotação (eixo esquerda, cinza) e valor de mercado (direita, cinza escuro) da Apple nos últimos cinco anos | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Obviamente, ela não chegou a esse patamar por acaso. Estamos falando, de fato, de uma das melhores empresas do mundo.

E apesar de eu acreditar que quem investir na companhia hoje terá mais chances de ter ganhos no longo prazo do que perdas, entendo que o momento requer um pouco de cuidado. Especialmente se o investidor está pensando em apostar na empresa por conta do seu novo produto.

Por que não é o momento para investir?

Primeiro porque não estamos falando de algo que será financeiramente acessível para as grandes massas: com previsão de lançamento para o ano que vem, o Vision Pro chegará às lojas com um preço inicial de quase US$3.500.

No Brasil, já existem relatos de que o consumidor que quiser adquirir um óculos para si terá que desembolsar a bagatela de R$34 mil! Se este for o seu caso, melhor já ir juntando grana desde agora (talvez quem sabe fazer um consórcio…)

Mesmo para os padrões americanos, não estamos falando de um produto barato. Ainda mais com a inflação permanecendo em patamares historicamente elevados na Terra do Tio Sam, fazendo com que muitas pessoas foquem seus gastos naqueles itens essenciais por enquanto.

Além disso, outras empresas que tentaram oferecer produtos parecidos também tiveram dificuldade de conseguir uma forte adesão do grande público.

Sony, Microsoft, até mesmo a Meta — que conta com um terço da população mundial utilizando seus aplicativos e enxerga esse segmento como uma de suas principais avenidas de crescimento para os próximos anos — não conseguiram ainda obter sucesso nessa empreitada.

O aplicativo da companhia comandada por Mark Zuckerberg, denominado “Horizon Worlds”, por exemplo, contava em fevereiro com apenas 200 mil usuários.

Claro que os diferenciais do óculos da Apple podem tornar essa história diferente para a empresa da maçã. Mas daí ter um impacto significativo nos negócios ainda me parece algo distante.

Projeções

Algumas projeções de mercado apontam que a companhia seria capaz de vender entre 200 mil e 500 mil óculos no primeiro ano. Isso significaria um aumento de receita da ordem de pouco menos de US$2 bilhões, caso ela conseguisse atingir o topo das estimativas.

Dando o benefício da dúvida e assumindo que ela já conseguiria vender o equivalente a 1% do total de iPhones vendidos no ano passado (que totalizou aproximadamente 225 milhões), estamos falando de mais de 2 milhões de Vision Pro, resultando em uma receita de quase US$8 bilhões.

Multiplique esses números por dez e você estaria falando de vendas incrementais da ordem de US$80 bilhões. Ok, significativo, mas como isso se compara com as outras linhas de negócio da empresa?

Receita líquida por linha de negócio da Apple nos últimos três anos | Fontes: Apple e Empiricus

Como base de comparação, no primeiro ano do iPhone em 2007, a empresa conseguiu vender 1,4 milhão de unidades. No ano seguinte, esse número passou para 11,6 milhões, e ultrapassou a marca dos 20 milhões de unidades em 2009.

Obviamente eram outros tempos: hoje, com o sucesso comprovado do iPhone, talvez muito mais pessoas demonstrem interesse logo de cara para comprar o Vision Pro. Mas será que seria plausível esperar, logo no primeiro ano, uma receita que seja o dobro do observado nas vendas de Macs no ano passado?

Além disso, não é descartável pensar que, dado o preço inicial do produto, outras categorias como a do próprio Mac ou de iPads podem ver suas compras serem adiadas pelos consumidores.

Mais uma vez, não estou afirmando que é impossível que o produto seja um sucesso estrondoso rapidamente.

Apple, Messi e Disney

Até mesmo o anúncio da contratação do Lionel Messi pelo Inter Miami pode ser um chamariz para que algumas pessoas comprem o produto e assinem o pacote da temporada do campeonato de futebol do país para poder ter uma experiência única de assistir o melhor jogador da atualidade de pertinho (parte da remuneração do craque argentino está atrelado as assinaturas do serviço de streaming).

Além disso, vira e mexe surge uma conversa no mercado de que a Apple deveria tentar comprar a Disney. A participação do CEO da companhia de Mickey e sua turma, Bob Iger, no evento de lançamento do Vision Pro só atiçou ainda mais aqueles que enxergam a possibilidade de isso acontecer.

E ninguém questiona que adicionar experiências de uma das empresas com uma das maiores biblioteca de conteúdo do mundo também é um ótimo atrativo.

Mas fato é que, aos preços atuais, muita coisa já está precificada nos preços da ação da Apple.

E o rally recente das empresas menores — como pode ser visto na alta de mais de 6% do Russell 2000 nos primeiros dias de junho, ante ganhos de menos de 1% no Nasdaq — pode fazer com que os investidores comecem a buscar aquelas teses que ficaram um pouco para trás no ano, vendendo aquelas que já tiveram uma boa valorização no ano.

Performance dos principais índices americanos (em base 100) nos últimos doze meses | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Apesar de acreditar que continuaremos falando da Apple por muito tempo, acho que o investidor terá a oportunidade de colocar as ações no seu portfólio a preços mais convidativos.

Enzo Pacheco é formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Um entusiasta do assunto “investimentos” — tendo se interessado desde os tempos de universitário —, desde 2017 foca exclusivamente na análise dos mercados internacionais nas séries da Empiricus voltadas a esse propósito (Investidor Internacional e MoneyBets).
Enzo Pacheco é formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Um entusiasta do assunto “investimentos” — tendo se interessado desde os tempos de universitário —, desde 2017 foca exclusivamente na análise dos mercados internacionais nas séries da Empiricus voltadas a esse propósito (Investidor Internacional e MoneyBets).
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