‘Não foi algo sofisticado e foi a primeira vez que aconteceu’, diz CEO de empresa de segurança do Pix sobre ataque da C&M Software

O ataque hacker aos sistemas da C&M Software lançou dúvidas sobre o sistema de pagamentos mais popular no Brasil, o Pix. Afinal, os criminosos teriam se aproveitado de uma potencial “negligência” da empresa para roubar o dinheiro das contas reservas do Banco Central.
“Não foi algo sofisticado do ponto de vista tecnológico. O hacker se aproveitou da estrutura do Pix como é hoje para fazer o ataque” disse Marco Zanini, CEO da DINAMO Networks, empresa de segurança e responsável pelo desenvolvimento de um módulo de segurança que realiza a assinatura digital das transações Pix.
O carro-chefe da empresa é o Dinamo Pix, que utiliza um sistema chamado Hardware Security Modules (HSM) para armazenar as chaves criptográficas, atendendo aos rigorosos padrões de segurança exigidos pelo Banco Central.
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Sistemas de chaves do Pix
De acordo com Zanini, os criminosos possivelmente tiveram acesso às chaves privadas da C&M junto ao BC para realizar as transações. Essas chaves funcionam como um “carimbo” que valida a transferência de dinheiro de uma instituição para outra dentro do Banco Central.
Em outras palavras, as transações — que, de acordo com informações extraoficiais, podem ter roubado até R$ 1 bilhão das contas reservas — passaram despercebidas em um primeiro momento porque tinham o “carimbo” das empresas para acontecer.
“Aparentemente, essas chaves não estavam protegidas em HSM, eram arquivos que estavam em repositório de um servidor” comenta o CEO da DINAMO.
“Nós nunca tivemos um caso que alguém usou uma credencial de assinatura. Essa foi a primeira vez que isso aconteceu”.
Isso porque, pelo sistema HSM, não é possível fazer uma cópia dessas chaves.
Para tal, seria preciso ter acesso a uma série de permissões — que, dentro de uma empresa que precisa atuar com segurança, são bastante limitadas. “Pode ter participação de alguém interno? Não é um caminho óbvio para obter essas informações, então é possível”.
Na visão de Zanini, se o caso aconteceu como ele descreveu, trata-se de uma negligência por parte da C&M. “Ela poderia ter guardado essas chaves em lugares mais seguros”.
Convertendo reais em criptomoedas
Parte do valor pode ter sido convertida em criptomoedas, como bitcoin (BTC) e stablecoins (criptomoedas com lastro em dólar, outras moedas ou commodities) de acordo com informações preliminares. Imediatamente, os dedos foram apontados para plataformas e corretoras de cripto (exchanges).
“Na minha opinião, a rastreabilidade desse dinheiro parou nas exchanges. E algumas delas são reguladas pelo Banco Central, outras não”, diz Zanini.
Sobre isso, Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin (MB), quando um usuário usa bitcoin ou stablecoins, sempre é deixado um “rastro”. Isso porque as transações on-chain são semi anônimas — isto é, não guardam completo anonimato.
“Existem corretoras que seguem as normas legais e aquelas que não têm nenhum tipo de responsabilidade com prestação de serviços. Do ponto de vista prático essa crise reforça a necessidade de padronizar as regras de governança e compliance”, comenta Rabelo.
No dia do ataque, o MB chegou a soltar uma nota, que afirmava:
“O Mercado Bitcoin não registrou nenhuma movimentação suspeita na plataforma. A empresa adota mecanismos rigorosos de compliance e antifraude, é auditada, atua em constante diálogo com reguladores nacionais e mantém proativamente altos padrões de conformidade e segurança — mesmo sem uma legislação que os exija. Reforça, ainda, a importância de uma regulação vigente que eleve o nível de responsabilidade para todos os players do setor”.