Economia

Não há consenso entre economistas sobre ritmo de redução da Selic nesta semana

30 jul 2019, 11:16 - atualizado em 30 jul 2019, 11:34
Inicia hoje reunião de dois dias para definir rumo da política monetária (Imagem: Raphael Ribeiro/ BCB)

Por Investing.com 

O Comitê de Política Monetária inicia nesta terça-feira (30), na sede do Banco Central em Brasília (DF), a reunião de dois dias de política monetária para definir pela manutenção ou redução da taxa básica de juros. A expectativa de economistas ouvidos pela Reuters é de reinício de redução da Selic com um corte de 0,25 ponto percentual. De acordo com a projeção dos analistas de mercado compilada no último Boletim Focus, divulgada ontem, espera-se uma Selic de 5,5% ao ano no fim do ano.

É, portanto, consenso no mercado de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve retomar o ciclo de flexibilização monetária neste segundo semestre. Os fatores que devem levar a essa decisão são o nível de atividade fraca, inflação em patamares confortáveis e aprovação da reforma da Previdência em 1º turno no plenário da Câmara, que teve, no começo de julho, uma ampla votação e texto final com uma estimativa considerável de economia fiscal para os próximos 10 anos.

De acordo com o último Boletim Focus, a estimativa de crescimento continua abaixo de 1% para este ano, em 0,82%. No início do ano, os economistas projetavam crescimento de 2,53%. Além disso, o índice oficial de inflação (IPCA) deve encerrar o ano em 3,82%, abaixo do centro da meta de 4,25%, mas dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Em relação à reforma da Previdência, a sua não-aprovação era apontada pelo Copom, em comunicados após as reuniões, um risco relevante para escalada inflacionária.

Diante desse quadro, não há, portanto, divergência dos economistas quanto à avaliação do Copom das condições econômicas e políticas para conduzir o reinício do processo de redução da Selic. A dúvida está, no entanto, relacionada quanto ao início do corte da taxa básica de juros e seu tamanho, de acordo com economistas consultados pelo Investing.com Brasil.

Há quem aposte no reinício do ciclo de redução de juros na reunião seguinte da que se inicia hoje. “O corte [de juros] vai acontecer após aprovação [final] da Reforma da Previdência”, projeta Giulia Coelho, economista da 4E Consultoria, que aponta a clareza do comunicado da última reunião em relação ao momento para o início do próximo ciclo de flexibilização monetária, que deve ocorrer em setembro, junto com a tramitação final da reforma da Previdência no Congresso, com um corte de 0,25 ponto percentual.

A economista aposta em um ciclo de três cortes de 0,25 ponto percentual cada, com a Selic encerrando 2019 em 5,75% ao ano. Coelho afirma que o Copom vai manter o tom do comunicado da última reunião, que teve uma mudança ao retirar parte dos riscos em relação à inflação, o que levou a uma mudança da projeção da economista, que antes da reunião de junho não estimava queda da Selic neste ano.

“A gente acha que vai ser um erro, não é a melhor maneira de conduzir a política monetária”, avalia a economista da 4E, que aponta o efeito estimulativo da reforma da Previdência que deve, combinada com os juros menores, impactar nos preços a partir do ano que vem, assim pressionando o Banco Central a iniciar um ciclo de alta de juros, com início projetado para maio pela consultoria.

“A [não-aprovação] da reforma da Previdência era o maior risco [de inflação] ao Banco Central na última reunião, mas ela passou”, afirma Rafael Cardoso, da Daycoval Asset, que avalia a aprovação em 1º turno da reforma com votação muito acima dos três quintos necessários uma condicionante suficiente para que o Copom reduza em 50 pontos-base nesta semana a taxa básica de juros.

Além disso, a economia estimada de R$ 900 bilhões no texto aprovado é maior do que o mercado estimava na avaliação de Cardoso, que aponta risco de desidratação durante a continuação da tramitação, mas sem impactar na expectativa do mercado quanto ao impacto fiscal necessário para equilibrar as contas públicas. “Seria diferente se o texto tivesse [quase] 380 votos com R$ 600 bilhões de economia”, explica o economista do Daycoval Asset, ao se referir à cifra de economia estimada que o mercado trabalhava no início da tramitação. Além do corte de julho, Cardoso aposta em outra redução de 50 pontos-base na reunião de setembro, com a Selic ficando em 5,5% ao ano até o fim do ano.

“O fator principal é a aprovação da reforma da Previdência, mas cenário externo também contribui”, avalia Marcela Rocha, economista-chefe da gestora Claritas Investimentos, que analisa o processo de afrouxamento monetário dos principais Bancos Centrais que validam o movimento da autoridade monetária brasileira, que deve iniciar o corte com 25 pontos-base ainda buscando entender os efeitos da reforma da Previdência na economia. Na avaliação de Rocha, haverá 4 cortes de 0,25 ponto percentual, com a Selic em 5,5% no fim de 2019.

Apesar de a expectativa é de manutenção das taxas de juros pelos Bancos da Inglaterra e do Japão nesta semana, o Banco Central Europeu sinalizou na semana passada que deve iniciar o corte de juros na próxima reunião em setembro. Enquanto a expectativa é de que o Fed reduza em 0,25 ponto percentual a taxa dos fundos do Fed – a taxa de referência da economia americana -, de acordo com o Monitor da Taxa de Juros do Fed do Investing.com.

“O Banco Central não está respondendo à expectativa de queda de juros do mercado. Neste caso, há grande chance de que o corte ocorra”, afirma Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro Ibre da Fundação Getúlio Vargas. A economista aborda a queda dos juros futuros na B3. Nesta segunda-feira, o DI para julho de 2020 fechou em 5,41% ao ano, queda de 0,12%.

Com o silêncio do Banco Central, Matos aponta que provavelmente a flexibilização monetária se inicia na reunião desta semana com uma queda de 50 pontos-base na Selic, mas afirma que o Ibre/FGV avalia que setembro seria a data mais apropriada para iniciar o processo.

“É uma decisão difícil, mas corte está precificado e correto”, afirma, que vê necessidade do afrouxamento monetário para ativar a economia, mesmo com o Ibre prevendo uma expansão de 0,4% no PIB do segundo trimestre. Na avaliação de Matos, haverá três cortes de juros pelo Copom no ano, as duas primeiras em 0,50 ponto percentual e a terceira em 25 pontos-base. Assim, a Selic encerra a 5,25% em 2019 ao ano para o Ibre/FGV.

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