Novos dados econômicos no Brasil e nos EUA não trazem segurança aos Bancos Centrais

O conjunto recente de dados econômicos no Brasil e nos Estados Unidos não tem ajudado a dar segurança para que os Bancos Centrais tracem seus planos para os próximos meses. Isso é comum em momentos de mudança de tendência no ciclo econômico, quando parte dos indicadores ainda acompanha a trajetória vigente, enquanto outra parcela já sinaliza reversão. É o que parece estar acontecendo agora, agravado pela guerra tarifária, que tem contribuído para um ambiente ainda mais incerto.
Na última reunião do FOMC, comitê do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) que define a taxa de juros, a maioria dos participantes considerou que o risco de alta para a inflação era maior do que o risco de queda para o emprego. Os diretores expressaram uma variedade de opiniões sobre o momento de impacto, a magnitude e a persistência dos efeitos das tarifas sobre os preços.
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De um lado, alguns participantes disseram que os próximos relatórios de inflação ajudariam a avaliar o grau de repasse das tarifas aos preços, ainda que outros tenham enfatizado que o FOMC não deveria esperar “por total clareza sobre os efeitos das tarifas na inflação antes de ajustar a postura da política monetária.”.
De fato, essa total clareza ainda está distante. Os últimos números da inflação no atacado, que sofre mais rapidamente os impactos dos aumentos nas tarifas, já mostram efeitos importantes, que tendem a ser sentidos com mais intensidade pelos consumidores nos próximos meses.
O tom mais preocupado que permeou as discussões dessa reunião, no entanto, logo encontrou dados na direção contrária. Dias após a reunião, o relatório de emprego de julho mostrou um crescimento de folhas de pagamento mais fraco do que o esperado e revisões acentuadas para baixo nos dados de maio e junho. A média de crescimento das folhas de pagamento em três meses era de 150 mil na época da reunião, comparada a 35 mil atualmente.
Por isso, em seu discurso na conferência de Jackson Hole, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que “o cenário básico e a mudança no balanço de riscos podem justificar um ajuste da nossa política”, ao mesmo tempo em que observou que a “estabilidade da taxa de desemprego e de outras medidas do mercado de trabalho” permitia ao FOMC “agir com cautela”.
Logo, o mercado interpretou que provavelmente haverá um corte na taxa básica na próxima reunião em setembro. Apesar disso, fica evidente o grau elevado de insegurança com a evolução do cenário nos próximos meses.
No Brasil, não estamos tão próximos do ciclo de corte de juros, mas os sinais mistos dos dados econômicos começam a se tornar mais evidentes.
De um lado, números de atividade mais fracos. O IBC-Br, indicador do Banco Central que serve como uma apuração mensal do Produto Interno Bruto (PIB), desacelerou de um crescimento de 1,5% no primeiro trimestre de 2025 para 0,3% no segundo trimestre. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o crescimento recuou de 3,5% em maio para 1,4% em junho. As recentes sondagens de confiança têm apontado para continuidade desse movimento em agosto, assim como os dados de consumo de bens e serviços de mais alta frequência.
O crédito também tem ficado mais restrito. O crescimento do estoque vem perdendo força a cada mês e as restrições nas concessões têm aumentado, refletindo a piora na dinâmica das taxas de inadimplência.
Por outro lado, o mercado de trabalho e a inflação mantém sinais de alerta. A taxa de desemprego segue recuando e atingindo novas mínimas históricas, acompanhada por um crescimento real ainda muito significativo da renda, próximo de 3%. Ainda que os números do mercado formal tragam algumas indicações de desaceleração, as condições gerais do mercado de trabalho ainda são amplamente favoráveis.
Os reflexos disso têm sido observados na inflação de serviços. Mesmo em diferentes métricas, o indicador anualizado tem oscilado em torno de 6% nos últimos meses, patamar acima do observado no início do ano. Mesmo com o alívio importante nos preços de alimentos e bens industrializados, a inflação como um todo tem mostrado dificuldade de convergir de forma consistente em direção à meta.
Neste cenário, e à semelhança do Fed, nosso Banco Central tem optado por cautela enquanto aguarda a evolução dos dados e, no nosso caso, sinalizado juros estáveis ainda por um tempo até que a maior parte dos dados passem a apontar na mesma direção, o que deve acontecer apenas no próximo ano.
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