O dólar que se cuide: China promete maior uso do iuan digital em busca por sistema monetário multipolar

O presidente do banco central da China prometeu expandir o uso internacional do iuan digital e pediu o desenvolvimento de um sistema monetário global multipolar, no qual várias moedas dominem a economia mundial.
A China estabelecerá um centro de operações internacionais para o e-CNY em Xangai, disse o presidente do Banco do Povo da China, Pan Gongsheng, nesta quarta-feira (18), no Fórum Lujiazui, uma reunião de alto nível de executivos e reguladores do setor financeiro local e estrangeiro.
As falas vêm na esteira do renovado apetite por um iuan global, conforme as tensões comerciais internacionais provocadas pelas políticas tarifárias dos Estados Unidos levam os investidores a buscar alternativas aos investimentos em dólar.
Ao mesmo tempo, a China está acelerando os esforços para desenvolver sistemas financeiros independentes das instituições ocidentais, medidas que ganharam novo ímpeto com a mudança dos padrões comerciais e realinhamentos geopolíticos que remodelam o cenário econômico global.
“O desenvolvimento de um sistema monetário internacional multipolar ajudará a fortalecer as restrições políticas sobre os países com moeda soberana, aumentará a resistência do sistema e protegerá melhor a estabilidade financeira global”, disse Pan.
Esse sistema abriria o caminho para que algumas moedas tivessem poder em suas respectivas regiões, diminuindo a dependência do dólar.
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Pan espera que várias moedas globais importantes coexistam em uma competição mútua com verificações e equilíbrios em vigor.
O lançamento agressivo e caótico de tarifas por parte de Washington tem abalado a confiança na moeda norte-americana e em outros ativos dos EUA, provocando uma mudança mais ampla por parte dos investidores, que têm se afastado do dólar e se voltado para moedas asiáticas e o euro.
O declínio do apelo do dólar dos EUA também ocorre em meio ao crescente interesse global em criptomoedas, incluindo stablecoins – um tipo de moeda virtual que é apoiada por um ativo e mantém um preço estável.
Há muito tempo a China tem ambições de que o iuan seja uma moeda global, semelhante ao euro ou ao dólar e que reflita a importância da segunda maior economia do mundo.
Mas essa meta tem sido prejudicada pela relutância em abrir a conta de capital e, embora não haja sinais de que isso vá mudar, o progresso em outras frentes, onde o iuan tem ganhado espaço em lugares como a Rússia e outros parceiros comerciais, deve se acelerar.
Pan disse que as tecnologias digitais expuseram os pontos fracos dos sistemas tradicionais de pagamentos internacionais, que são menos eficientes e vulneráveis a riscos geopolíticos.
“As infraestruturas tradicionais de pagamentos internacionais podem ser facilmente politizadas e transformadas em armas, e usadas como uma ferramenta para sanções unilaterais, prejudicando a ordem econômica e financeira global”, disse Pan.
Ao discursar no fórum, o órgão regulador de câmbio da China prometeu manter a taxa de câmbio do iuan basicamente estável e evitar choques e riscos externos.
A capacidade da China de combater a volatilidade do mercado cambial melhorou, disse Zhu Hexin, chefe da Administração Estatal de Câmbio.
Pequim também abrirá ainda mais seu mercado financeiro para os participantes estrangeiros, disse Li Yunze, diretor da Administração Nacional de Regulação Financeira, ao fórum.
“As instituições estrangeiras são pontes e vínculos importantes para atrair investimentos e talentos, além de serem participantes importantes e contribuintes ativos para a construção do sistema financeiro moderno da China”, disse Li.
A China criará um ambiente transparente, estável e previsível para os participantes estrangeiros e explorará opções para abrir uma gama maior de áreas financeiras, disse Li.