Nobel

O filósofo francês que recusou o Nobel de Literatura e virou símbolo de coerência intelectual

09 out 2025, 9:27 - atualizado em 09 out 2025, 9:27
O único laureado de Literatura a recusar voluntariamente o Nobel antes mesmo de recebê-lo tomou a decisão por princípios
Imagem: Canva Pro

Em 1964, o comitê do Nobel de Literatura anunciou Jean-Paul Sartre como vencedor do prêmio. A justificativa era direta: sua obra representava a liberdade e a busca pela verdade. Mas o filósofo francês fez o impensável — recusou o Nobel.

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Sartre explicou que não aceitava prêmios, condecorações ou distinções oficiais de qualquer governo ou instituição privada. Temia se transformar em uma marca, em um monumento. “Um escritor deve se recusar a ser transformado em monumento”, dizia.

A recusa como filosofia

A decisão não foi fruto de impulso. Antes, Sartre já havia rejeitado a Legião de Honra, a mais alta distinção francesa. Para ele, aceitar o Nobel seria o mesmo que aceitar um selo de aprovação — e o pensamento, acreditava, não pode ser carimbado.

A Academia Sueca chegou a receber uma carta do filósofo pedindo que seu nome nem sequer fosse considerado, mas a correspondência chegou tarde: a escolha já estava feita.

Quando o anúncio foi divulgado, Sartre reafirmou publicamente o que já havia expressado em privado — não aceitaria o prêmio.

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A recusa provocou um turbilhão público e rapidamente se transformou em escândalo nos círculos culturais e jornalísticos, alimentado pelo próprio texto publicado em Le Figaro e pela intensa cobertura da imprensa europeia.

Enquanto parte da Europa o via como ingrato, seus leitores reconheceram nele uma coerência rara: o pensador que pregava a liberdade de consciência permanecia fiel à própria filosofia.

O escritor que não quis ser monumento

Para Sartre, a literatura era uma forma de ação política. Em obras como A Náusea e O Ser e o Nada, ele afirmava que o homem está condenado a ser livre — e que cada escolha implica uma responsabilidade moral.

Recusar o Nobel, portanto, também foi uma escolha: um ato de resistência diante da sedução do prestígio.

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Sartre acreditava que o reconhecimento oficial poderia transformar o escritor em algo estático, domesticado. “Institucionalizado” era, para ele, quase um insulto.

Não queria ser “Jean-Paul Sartre, Nobel de Literatura”, mas simplesmente Jean-Paul Sartre — escritor e pensador livre.

Desde 1901, Sartre permanece como o único autor da literatura a recusar voluntariamente o Nobel antes mesmo de recebê-lo. Outros laureados enfrentaram pressões políticas, mas nenhum rejeitou o prêmio de forma tão deliberada.

Seu gesto acendeu um debate que ecoa até hoje: o intelectual deve servir ao poder ou confrontá-lo?

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Mais de meio século depois, o “não” de Sartre continua a ressoar como um lembrete incômodo — nem todo reconhecimento é sinônimo de liberdade.

E o Prêmio Nobel de Literatura 2025 vai para…

Neste ano, o prêmio foi concedido ao escritor húngaro László Krasznahorkai, “por sua obra convincente e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte”.

Nascido em 1954, na cidade de Gyula, dois anos antes de a Revolução Húngara ser brutalmente reprimida pela União Soviética, Krasznahorkai aprendeu cedo que beleza e desespero podem coexistir.

Ele próprio dizia ter crescido “numa situação difícil, num país onde uma pessoa amaldiçoada com uma sensibilidade estética e moral aguçada como a minha simplesmente não consegue sobreviver”.

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Apelidado por Susan Sontag de “mestre contemporâneo do apocalipse”, Krasznahorkai transformou a ruína em matéria-prima literária.

Seus romances, densos e hipnóticos, percorrem aldeias nebulosas da Europa Central, onde homens e mulheres vasculham símbolos e presságios à procura de sentido em um mundo que parece ter perdido Deus — ou a esperança de reencontrá-lo.

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Jornalista com especialização em Gestão de Mídias Digitais. Atua como repórter nos portais de notícias Money Times e Seu Dinheiro.
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