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O futuro é modular? Entenda os diferentes modelos de blockchain

26 jan 2022, 16:04 - atualizado em 26 jan 2022, 16:16
Blockchain
(Imagem: Freepik/fullvector)

A tecnologia blockchain está em constante mudança.

Conforme o crescimento da adoção é observada, novas tecnologias e formas de aplicá-las surgem para tentar otimizar seu uso.

Pense no blockchain como uma construção, e que existem diferentes modelos de “arquitetura” para construí-lo.

Entre a comunidade cripto, tem sido bastante discutidos assuntos envolvendo a arquitetura do blockchain modular.

Mas, para me aprofundar no assunto, é importante que esclarecer e diferenciar alguns termos técnicos existentes:

  • Blockchain Monolítico

Os blockchains que utilizam um sistema de cadeias monolíticas dependem somente de uma camada, onde acontecem todas as validações da rede, a L1 (Camada 1). 

Atualmente, a maioria dos blockchains são cadeias monolíticas, como, por exemplo, a Binance Smart Chain, Avalanche, Solana, etc.

De maneira simplificada, basta imaginar uma sequência de blocos organizados um após o outro depois de sua validação.

  • Blockchain Modular

Já as cadeias modulares recorrem a blockchains paralelas, apelidadas de L2 (camada 2). 

A ideia é que a validação de certas movimentações da rede seja feita nessa segunda camada, fora do blockchain principal. 

Após esse processo, alguns dos validadores da camada 2 fornecem os dados já validados para o blockchain principal, onde são incluídos na camada 1.

Nessa arquitetura, facilita imaginar uma “teia” de blocos sendo validadas independentes uma da outra, onde todos se conectam a um bloco principal.

O exemplo mais famoso de camada 2 é a Polygon (MATIC). A rede faz parte e se conecta com o blockchain da Ethereum, mas é validada de forma independente.

Existem diferentes soluções de segunda camada como os “rollups”, as Sidechains, ou as Parachains.

Também é importante lembrar que os algoritmos de consenso (Proof-of-Work; Proof-of-Stake, etc.) independem da arquitetura usado por um blockchain.

Um blockchain monolítico pode usar Proof-of-Stake, ou Proof-of-Work, assim como um modular pode utilizar Proof-of-Stake.

  • O que são estruturas crosschains?

As chamadas estruturas de “crosschain” são protocolos que permitem uma maior compatibilidade entre dois blockchains diferentes.

Essas estruturas permitem que blockchains tanto monolíticas, quanto modulares conversem entre si.

Basta pensar em uma ponte construída entre dois prédios.

A rede da Ethereum, por exemplo, oferece a máquina virtual EVM, na sigla em inglês.

Trata-se de um código próprio do qual outros blockchains podem utilizar em sua construção.

A vantagem de um blockchain utilizar o EVM é já ter uma estrutura pronta, além de ser compatível com grande parte do ecossistema da Ethereum.

Ilustrando uma das vantagens, a EVM torna possível migrar tokens de uma rede blockchain para outra caso ambas utilizem o formato.

O usuário pode fazer a chamada ponte, e transferir seus tokens da rede Ethereum para a rede Fantom caso queira.

  • Um Futuro Multichain

A arquitetura do blockchain modular é relativamente nova, e muitos analistas acreditam ser a porta de entrada para um futuro “multichain”, ou seja, no qual os blockchains tenham operabilidade entre si sem qualquer problema e todos tenham o “seu lugar ao sol”, sendo eles monolíticas ou modulares.

Hoj, ainda não é possível interagir totalmente com um protocolo construído na rede de contratos inteligente da Ethereum a partir da Solana, por exemplo.

Muitos acreditam que, em breve, esse tipo de interoperabilidade será viável.

E para os estudiosos, isso pode gerar uma enorme destrava de valor para o mercado de contratos inteligentes e finanças descentralizadas.

O ecossistema da Solana, por exemplo, tem suas próprias carteiras, tokens, e aplicativos descentralizados, mas a interação desses elementos com outras redes de contrato inteligente ainda é muito difícil.

É por isso que muitos acreditam que o futuro será diferente. Existem análises de que poucos blockchains irão prevalecer no mercado e elas não conviverão bem umas com as outras.

A grande questão levantada por analistas é justamente essa: futuramente, serão pouquíssimos blockchains que continuarão, ou a capacidade de interoperar entre eles resultará em um mercado “multichain”?

Vantagens e desvantagens

Orlando Telles, analista da Mercurius Crypto, comenta sobre as vantagens e desvantagens de ambos os modelos. Ele explica que, em sua opinião, ambas as arquiteturas de blockchain tem sua funcionalidade e espaço no mercado:

Telles diz acreditar que haverá um crescimento de blockchains modulares no mercado, mas que não descarta a importância dos monolíticos:

“Eu acredito que existirá um futuro ‘multichain’, com essas duas arquiteturas de blockchains se comunicando, por isso acredito bastante em estruturas de crosschain”, diz.

De acordo com Marco Jardim, diretor de tecnologia blockchain da Investtools, a maior vantagem da  monolítica é a sua maior confiabilidade para o consenso descentralizado (validação da rede).

“Todos os participantes da rede processam, verificam e atestam uma única verdade para toda a rede (tudo é validado na Camada 1)”, diz o diretor.

Entretanto, o fato de a arquitetura monolítica precisar de grande esforço computacional é uma desvantagem, segundo Jardim.

“No caso do Bitcoin, que usa o Proof-Of-Work como algoritmo de consenso descentralizado, a penalidade é gastar energia elétrica (e dinheiro) à toa para quem minera blocos inválidos”, diz. 

Jardim também aponta que outra desvantagem é o espaço ocupado em decorrência da necessidade de armazenar o histórico de todas as transações na rede principal.

Já a arquitetura modular exige muito menor esforço computacional segundo o especialista.

“Cada participante só precisa (de modo geral) processar o que interessa-lhe, reduzindo muito o esforço para obtenção de consenso (validação).”

Ele destaca que o espaço ocupado para armazenamento das transações também é bem menor, já que cada pessoa só precisa guardar informações que dizem respeito à própria pessoa (na Camada 2).

Em contrapartida, para o diretor, a vantagem de uma é a desvantagem da outra: o enfraquecimento de uma validação de rede descentralizada.

Como cada pessoa guarda fragmentos de todo o histórico da rede (nas diversas Camadas 2), é necessário que participantes especiais da rede orquestrem os “pedaços”, de modo que, segundo ele, apenas poucas pessoas terão o histórico completo.

Todavia, ele acredita que ambas as formas possuem seu espaço, pois competem em diferentes nichos.

“Quando o importante for segurança e descentralização, a opção ideal é a monolítica. Quando o importante for a performance, é a modular”, complementa.

Ele diz que, no futuro, o que será consolidado provavelmente será uma arquitetura de camadas, onde a mais segura e lenta fica embaixo, apoiando a mais rápida, em uma camada acima.

Jardim lembra que um exemplo concreto dessa arquitetura já existe hoje: o do trabalho entre Bitcoin e a Lightning Network. 

“O mercado, em um primeiro momento, irá optar pela performance, a não ser que o risco maior de um blockchain modular seja impeditivo para o negócio. Cabe ressaltar que apesar de menos seguro, um blockchain modular ainda é considerado mais seguro do que um banco de dados tradicional, apesar de ser mais complicado para operar.”

O diretor da Investtools finaliza dizendo que os blockchains monolíticos continuarão cumprindo seu papel de segurança, principalmente para as criptomoedas mais valiosas e descentralizadas que existem hoje, como Bitcoin e Ethereum.

Para ficar de olho

Neste ano será possível observar de perto dois movimentos enormes de redes de contratos inteligentes rumando sentido ao avanço da arquitetura modular.

A primeira será a Ethereum, que a partir de sua atualização repartirá sua Camada 1 em diversas blockchains paralelas conectadas a sua rede principal. Esse modelo de Camada 2 é chamado de “Shardings”.

O segundo grande movimento já está acontecendo, trata-se da Polkadot (DOT).

Essa rede de contratos inteligentes é apelidada como Camada 0. Significa que outros blockchains podem, e já estão sendo, construídos “em cima dela”.

Os blockchains construídos em cima da Polkadot são chamados de “parachains”, e utilizam da segurança e da validação da Polkadot.

É como se fosse uma casa. A facilidade de ser construída como o proprietário deseja é proporcional ao quão preparado o terreno está.

Os desenvolvedores podem ter o conforto de construir uma blockchain personalizada de Camada 1, enquanto a Camada 0 (Polkadot) garante a segurança e escalabilidade da rede.

A rede da Polkadot começou a colocar suas parachains no ar nesse ano, e a atualização da rede Ethereum está prevista para o terceiro trimestre de 2022.

Repórter do Crypto Times
Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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