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O Natal dos “cripto investidores”; o que falar para a família?

24 dez 2022, 10:00 - atualizado em 21 dez 2022, 17:34
Natal criptomoedas criptoativos Bitcoin
Entre fraudes, derrocadas e tragicomédias, ainda existem boas métricas para os criptoativos (Imagem: Pixabay/delphinmedia )

Existe uma brincadeira comum entre os investidores de criptoativos, que fala sobre o medo de enfrentar na ceia de natal aqueles membros da família que ouviram a recomendação de investimento nos ativos.

Pensando nisso, o Crypto Times separou uma retrospectiva do mercado para tentar rebater o ‘tio do terreno’ e a avó que tirou o dinheiro debaixo do colchão e investiu em Bitcoin (BTC).

É importante destacar antes que o ano realmente não foi bom para o mercado de criptoativos, é possível que aquele primo que te supera em tudo ganhou mais uma vez ao ir para a renda fixa.

O Bitcoin (BTC) já acumula uma queda de 64%, saiu de US$ 47.200 para US$ 17.115. O Ether (ETH) derrete 66% no ano, e saiu de US$ 3.800 para U$ 1.270. O valor de mercado de cripto foi de US$ 2 trilhões para US$ 850 bilhões.

O preço de tela não vai ajudar os investidores a passarem uma ceia de natal agradável e desviar dos olhares de julgamentos familiares. Porém, as métricas Onchain e acontecimentos podem ajudar a, talvez, deixar esse momento de celebração um pouco menos constrangedor.

“Não foi culpa minha tio, é o mercado”

É de extrema importância entender o que aconteceu neste ano, e contextualizar toda a “desgraça”. Em 2022, o mercado de criptoativos pôde ser considerado um protagonista de filme de ação dos anos 80, como os famosos “brucutus” do cinema que apanham durante a trama toda, mas ficam de pé no final – destruído, mas de pé.

Muitos dos golpes, foram desferidos por membros da própria comunidade, em forma de fraudes, golpes. Ou seja, grandes esquemas economicamente insustentáveis ruíram – mas não antes de puxar o mercado todo para baixo.

De forma concisa, os que mais impactaram foram os casos envolvendo Terra (LUNA) – gancho direito do fundador Do Kwon, e da falida corretora cripto FTX, um soco no estômago entregue por Sam Bankman-Fried.

  • Terra (LUNA)

O Blockchain da Terra, fundado pela Terraform Labs através de Do Kwon, foi pensado para ser um ecossistema de finanças descentralizadas (DeFi) com altos rendimentos. Mas não foi bem isso que aconteceu.

Um dos protocolos construídos em cima do blockchain, o Anchor (ANC), oferecia um rendimento de 20% para os usuários que fizessem staking de UST – a stablecoin algorítmica atrelada ao preço do dólar que circulava na rede.

Por sua vez, a stablecoin era mantida estável através da queima do token nativo da rede, a LUNA. Foi nesse ponto que a mão de Do Kwon se preparava para dar um soco no mercado de criptoativos.

Acontece que, conforme o Crypto Times havia noticiado já no começo de março, o sistema econômico do blockchain era insustentável.

Na matéria, Orlando Telles, analista e sócio-fundador da Mercurius Crypto, havia afirmado que a estrutura de demanda do UST não era sustentável visto que a razão se dava majoritariamente pelo Anchor Protocol.

Dito e feito, em meados de maio a criptomoeda Luna observou uma falha em manter a paridade da UST, e perdeu 99,98% do seu valor nos em pouco menos de sete dias. O token saiu de US$ 86,04, em 5 de maio, para US$ 0,33, no dia 12.

O Colapso de Luna foi investigado por órgãos sul-coreanos, assim como o fundador da rede Do Kwon. Além disso, como a Terraform Labs tinha Bitcoin (BTC) como reserva para seu lastro da stablecoin, durante a derrocada foi despejado no mercado, e puxou todo o mercado cripto junto. LUNA está fechando o ano com uma desvalorização impressionante de 100%.

Como resposta, Kwon decidiu criar uma nova rede e renomear a fracassada LUNA de Luna Classic.

  • FTX e Sam Bankman-Fried

O efeito cascata de Luna só não foi maior do que o da segunda maior corretora de criptomoedas do mundo, FTX, que declarou falência em novembro deste ano.

Uma reportagem da Coindesk, divulgada no dia 2 de novembro, revelou que grande parte do balanço da Alameda Reesearch– fundo hedge do SBF – possuia FTX Token (FTT) no portfólio. O FTT trata-se da moeda nativa da corretora, que também pertence ao Bankman-Fried.

Dos US$ 14,6 bilhões em ativos totais que compõem o balanço da empresa, US$ 5,8 bilhões estão em FTT, segundo a Coindesk diz ter descoberto. Além disso, existem mais US$ 292 milhões em “FTT bloqueado” entre os passivos da empresa.

Após a divulgação da reportagem, Mike Burgersburg, pseudônimo do investigador por trás da Dirty Bubble Media, publicou uma pesquisa com a proposta de responder: “a FTX está insolvente?”.

Burgerburg foi o investigador por trás do primeiro alerta por trás da falência da Celsius (CEL) e é um nome reconhecido no mercado.

“Sam Bankman-Fried, mais conhecido como SBF, tem a reputação de ser o cara mais inteligente da sala. O bilionário de criptomoedas controla um dos maiores fundos de hedge de criptomoedas, a Alameda Research, além de uma das maiores exchanges de criptomoedas, a FTX. […] No entanto, um vazamento recente sugere que o império de criptomoedas da SBF se baseia em algumas fundações questionáveis”, começa a análise.

Conforme o investigador, SBF poderia estar em um “modelo volante” onde é responsável por emitir tokens FTT pela sua corretora, inflando artificialmente o patrimônio do Alameda – seu fundo hedge.

Quando as coisas pareciam não piorar para Sam “SBF” Bankman-Fried, o CEO da Binance Changpeng “CZ” Zhao, disse em publicação do dia 6 de novembro que a corretora iria liquidar todas suas posições de FTT, por receio de recentes descobertas acercas da Alameda e da FTX.

O desenrolar da história resultou na falência da segunda maior corretora do mundo e um enorme efeito cascata no mercado.

Além disso, o Federal Reserve também contribuiu no “inverno cripto”, enquanto aumentava as taxas de juros dos Estados Unidos, além de hacks – que foram facilitados pela vulnerabilidade que o mercado se encontrava

“Calma pessoal, o Bitcoin (BTC) não morreu”

Como explicar que o “bitcóio”, que saiu de US$ 50 mil, e encostou em US$ 15 mil em seu menor preço, não foi um conselho furado? Muitos puxam pela métrica onchain.

Entre as que serão mostradas, está o Lucro/Perda Líquido Não Realizado, ou NUPL na sigla em inglês. O princípio-chave desta ferramenta está na relação entre a capitalização de mercado e os investidores de Bitcoin obtendo lucro.

Geralmente, quando o valor de mercado aumenta muito mais rápido do que a realização de lucros, o mercado está superaquecido. Esse aumento foi bastante visto no ano passado, junto com uma compra massiva de bitcoins.

Para o investidor estratégico, esses tempos têm sido historicamente favoráveis ​​para as baleias – grandes detentores – obterem lucro. Conforme o momento, essa fase é de capitulação.

Neste ano, o Bitcoin também atingiu níveis recordes de escassez em corretoras criptos, e na dificuldade em mineração – hashrate – ambas métricas que animam os fundamentalistas.

Um ponto que afetou o preço do Bitcoin foi a venda massiva por parte das mineradoras, para arcarem com os custos de suas operações. Empresas como a mineradora Bitmain venderam bilhões buscando se proteger do mercado de baixa.

Todavia, a dificuldade de mineração também apresentou recordes no ano, o que indica uma maior segurança da rede.

“Ethereum (ETH) ainda vai decolar, vó, a senhora vai ver só”

“Não é só é pelo dinheiro, é a tecnologia” é o jargão que poderia ser utilizado na defesa de quem recomendou este criptoativo. O Ether (ETH), token nativo da rede e segundo maior criptoativo por valor de mercado, passou por uma importante atualização em setembro deste ano.

A mesclagem da Beacon Chain, camada de consenso que usa prova de aposta, ou Proof of Stake, com a camada de execução resultaram em uma mudança de algorítmo de consenso da rede.

Após vários testes em redes paralelas, a Ethereum finalmente migrou para o algorítmo de Proof of Stake. Todavia, os mineradores, junto com fundador da rede Tron (TRX) Justin Sun, resolveram realizar um hard fork, bifurcação.

Atualmente, existem duas redes ethereum, a proof of stake e a que foi bifurcada. Esta última utiliza o ETHW como token nativo.

Um marco grande para a rede também foi observado no lançamento do metaverso da maior coleção de NFTs do mercado, a Bored Ape Yacht Club (BAYC).

No lançamento de Otherdeeds, as taxas de transações da rede subiram para níveis recordes, e muitos chegaram a gastar milhares de dólares não apenas no token não fungível mas também para inclui a transação na rede.

“Pelo menos não é nada ilegal, mãe”

Após tanto barulho, o mercado de criptomoedas finalmente começou a passar por fortes regulações neste ano. A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, divulgou comunicado em março onde repercutia o decreto que o presidente americano, Joe Biden, havia feito, e assinado pouco depois, sobre o mercado de criptoativos.

A ordem executiva divulgada pela Casa Branca buscou esclarecer a função da regulação dos Estados Unidos em torno dos criptoativos. Entre elas, o documento citava a necessidade de proteção ao investidor físico e jurídico.

Foram solicitados a diversos órgãos que enviassem pesquisas e artigos acerca de diferentes temas que a tecnologia cripto poderia impactar, como mineração, privacidade de dados, lavagem de dinheiro etc.

No Brasil, o P.L das criptomoedas – marco regulatório – foi aprovado na Câmara dos Deputados após sete anos no fim de novembro. O Projeto de Lei busca determinar legislações prévias sobre como empresas de criptoativos deverão se portar em um ambiente regulado.

O Projeto de Lei 4401/21 (antigo PL 2303/15), foi apelidado de PL dos criptoativos. O texto é de autoria do deputado Áureo Ribeiro (Solidariedade-RJ).

Repórter do Crypto Times
Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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