O problema da volatilidade em fundos de ações e nas decisões cotidianas

Um investidor aplicou R$ 100 mil em um determinado fundo de ações, mas por conta do cenário viu o ativo desvalorizar 20%, ficando com R$ 80 mil.
Para voltar ao ponto inicial, ou seja, os mesmos R$ 100 mil do primeiro depósito, a aplicação deverá valorizar 25%. Basta fazer uma conta simples para confirmar isso.
Como se observa, recuperar perdas é sempre mais difícil e exige inteligência para conseguir.
Em outras palavras, quedas acentuadas em investimentos quase sempre exigem que se assuma mais risco para simplesmente voltar ao ponto de partida.
O investidor tanto pode investir mais no mesmo fundo acreditando que ele vai subir quanto pode diversificar escolhendo outros ativos, mas sempre assumindo algum risco novo.
E como não somos totalmente racionais, isso acaba nos empurrando para decisões impulsivas, influenciadas por nossos vieses cognitivos.
Afinal, sentir a dor de uma perda é, em média, duas vezes mais intenso do que o prazer de um ganho e esse desequilíbrio emocional pesa na tomada de decisões.
Como podemos ver, quanto maior a volatilidade, maior a chance de que nossas escolhas sejam guiadas mais pela dor e pelo medo do que pela razão.
Por isso, criar um ambiente onde as emoções estejam sob controle é essencial para decidir melhor, não só em renda variável, mas em quase tudo na vida.
Comprar ou alugar um imóvel? Ter carro próprio ou usar serviços sob demanda? Às vezes, a conta fecha no papel, mas emocionalmente não faz sentido e isso influência nossa disposição futura a correr riscos, impactando decisões financeiras, profissionais e até pessoais.
É por isso que ambientes de alta volatilidade costumam gerar decisões erráticas, impulsivas e pouco racionais.
Mas o ponto mais perigoso nem sempre está onde há volatilidade aparente. No crédito privado corporativo, por exemplo, não há tela piscando.
O preço não muda, o extrato não assusta, e por isso o risco parece não existir. Mas ele está lá, silencioso, escondido.
E justamente por não vermos a volatilidade, perdemos a sensibilidade ao risco real. O investidor só se dá conta quando é tarde demais.
Investimentos lastreados em crédito privado costumam ter rentabilidade atraente e são considerados, tecnicamente, investimentos de renda fixa porque a remuneração geralmente é prefixada, pós-fixada (atrelada ao CDI ou IPCA) ou híbrida, como acontece com outros investimentos de renda fixa. Porém, é preciso atenção, pois possuem risco de crédito (alguns mais outros menos) e dependem da capacidade de pagamento dos devedores dos recebíveis.
Se o devedor deixar de honrar as parcelas a perda pode ser total.
E não existe pagar meia parcela ou um quarto dela. Ou paga a parcela cheia do título ou não paga nada.
Daí o prejuízo alto e repentino para quem investe neste tipo de ativo. Mas como acompanhar? Não dá.
Só se descobre quando a catástrofe vem. Daí a importância de analisar corretamente o fundo, verificar se ele foi bem estruturado e a qualidade dos ativos que o compõem.
Para encerrar, volto à questão da volatilidade e do efeito dela nas decisões. Depois de uma perda acentuada e sob forte emoção, não é nada difícil um investidor decidir investir em um fundo errado, seja qual for, só porque ele promete rentabilidade alta. A intenção é recuperar logo o que foi perdido.
Mas não é raro que esse tipo de decisão baseada apenas no fator ganho resulte em perdas ainda maiores, pois quanto maior a rentabilidade, maior o risco. O conselho é: ao ser prejudicado pela volatilidade, respire fundo e se acalme.
Estude opções e só depois de ter certeza invista.